Após 11 anos no MD Anderson Cancer Center, oncologista William Nassib William Jr. (foto) retorna ao país como novo diretor médico da Oncologia Clínica e Hematologia do Centro Oncológico da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Quais os seus objetivos e expectativas em relação ao novo cargo?
Meu entusiasmo para retornar ao Brasil é muito grande, especialmente por ter a oportunidade de liderar um dos programas mais avançados de oncologia do Brasil ao lado dos oncologistas Antônio Carlos Buzaid e Fernando Maluf e de uma equipe multidisciplinar espetacular.
O serviço de Oncologia da BP abrange todo o espectro da população, desde atendimento pelo SUS até convênios particulares. O principal objetivo do programa é trazer atendimento de excelência em todos os contextos, com foco na avaliação multidisciplinar de alta qualidade envolvendo cirurgiões, radioterapeutas, radiologistas, patologistas, equipe de enfermagem, medicina integrativa, nutricionistas, fisioterapeutas, psicoterapeutas e todos os outros profissionais que são indispensáveis para tratamento completo de pacientes com câncer, aumentando as chances de sucesso.
Queremos que a BP solidifique, cada vez mais, sua posição como centro de excelência para tratamento oncológico, tornando-se um "one stop shop" onde o paciente recebe acompanhamento completo desde o diagnóstico até as fases mais avançadas de tratamento, em um só local, com uma equipe integrada, praticando uma medicina moderna, com condutas padronizadas baseadas em evidências.
Pesquisa clínica é uma área que sabidamente concentra a sua atenção. A sua expectativa é manter o foco em pesquisa também no Brasil?
Hoje em dia, a pesquisa clínica é peça fundamental em um programa de oncologia de ponta. É somente com a pesquisa clínica que temos a oportunidade de oferecer aos nossos pacientes acesso aos medicamentos mais modernos e estratégias de tratamento que podem levar a uma maior chance de um resultado positivo, com menos efeitos colaterais. Existe, portanto, um potencial enorme de ganho, não somente para o paciente que participa de um protocolo clínico individualmente, mas também para a sociedade.
Durante minha estadia de 11 anos no MD Anderson, tive a oportunidade de produzir e chefiar a pesquisa em Oncologia Clínica de Cabeça e Pescoço. Durante esse tempo, desenvolvemos estratégias inovadoras personalizadas para prevenção de câncer de cavidade oral, novas combinações para tratamento de câncer de cabeça e pescoço metastático, incluindo terapias-alvo e imunoterapias, tratamentos de indução para câncer de pulmão e cabeça e pescoço administrados antes da ressecção cirúrgica. Muitos dos nossos protocolos envolviam biópsias para análise completa de biomarcadores, técnicas estatísticas complexas para condução do estudo e análise de dados, além de métodos de imagem avançados.
A ideia é trazer esse tipo de inovação para a BP. Em um primeiro momento, no entanto, estudos complexos talvez não sejam os mais factíveis para desenvolvimento no Brasil. O nosso foco inicial será aumentar a representação de pacientes do Brasil em estudos internacionais, melhorando o acesso a medicamentos novos. Isso naturalmente contribui para que os dados gerados sejam aplicáveis à população brasileira.
Pretendemos também começar a desenvolver estudos relevantes para a população brasileira, com perguntas que interessam especialmente ao nosso país, onde os recursos são claramente mais escassos que nos Estados Unidos, Europa e algumas partes da Ásia. Um exemplo é como tornar os tratamentos com relação risco/benefício e custo/benefício mais favorável, seja por melhor seleção de pacientes, posologia modificada, maior eficácia, ou estratégias mais precisas para avaliação de resposta e predição e prevenção de toxicidade.
O Brasil hoje passa por dois momentos importantes que podem alavancar a pesquisa no nosso país: a revisão da legislação que regulamenta a pesquisa clínica, e o surgimento/fortalecimento de grupos de pesquisa cooperativos como o LACOG. O nosso objetivo é que a equipe da BP contribua cada vez mais para esses e outros aspectos que levem a modernização da pesquisa clínica e translacional em oncologia no Brasil.
Por falar em pesquisa, a área de imuno-oncologia tem sido alvo de grande interesse. Como vê o momento atual da pesquisa com imuno-oncológicos e quais as perspectivas futuras?
A imuno-oncologia veio para ficar e na próxima década o campo da oncologia vai concentrar esforços em como refinar essa estratégia para melhorar as chances de sucesso ao tratamento. Certamente vamos ver o surgimento de novas combinações de drogas, desenvolvimento de biomarcadores de resposta/benefício clínico, engenharia genética e seleção de células T para tumores não hematológicos, e o avanço das várias técnicas de imunoterapia para o contexto da doença não metastática potencialmente curável e até prevenção, como eu e minha equipe já havíamos começado a estudar no MD Anderson antes da minha partida. Esperamos que a BP e o Brasil tenham participação cada vez mais importante no avanço desse campo fascinante.