Um dos destaques da 59ª edição da ASTRO, encontro anual da sociedade americana de radio-oncologia, o estudo de fase III do Gynecology Oncology Group confirmou o papel da irradiação pélvica adjuvante como padrão no câncer endometrial de alto risco em fase inicial. Quem comenta os resultados do estudo é o rádio-oncologista Robson Ferrigno (foto), coordenador dos Serviços de Radioterapia do Hospital BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
A nova análise do GOG 249 mostrou que as taxas de sobrevida global e livre de recorrência para mulheres com câncer de endométrio de alto risco estádio I-II não foram superiores após a braquiterapia mais quimioterapia na comparação com a irradiação pélvica.
Em um seguimento mediano de 53 meses, 82% dos pacientes avaliados estavam vivos e sem recorrência, nos dois braços. As taxas de SG em três anos foram de 91% para a irradiação pélvica e de 88% para a combinação de braquiterapia-quimioterapia, mas essa diferença não foi estatisticamente significante (p = 0.57). A incidência cumulativa de recidiva nodal pélvica ou para-aórtica aos cinco anos no grupo tratado com braquiterapia e químio (9,2 %, 25 recidivas, 20 na pelve) foi o dobro em relação à coorte de radiação pélvica (4,4%, 12 recidivas, 6 na pelve) (HR = 0,47, IC de 95%: 0,24-0,94).
Omissão de radioterapia externa em paciente de alto risco aumenta chances de recaída pélvica
Por Robson Ferrigno
O estudo prospectivo e randomizado GOG 249, que comparou radioterapia externa exclusiva no braço controle com braquiterapia do fundo vaginal seguida de quimioterapia com três ciclos de carboplatina e paclitaxel no braço experimental, partiu da premissa que a substituição da radioterapia externa pela quimioterapia associada à braquiterapia iria diminuir as chances de metástases à distância e, assim, promover aumento de sobrevida das pacientes tratadas.
O objetivo primário era sobrevida livre de recorrência e os secundários eram sobrevida global, características de falha e toxicidade. Outra hipótese é que essa substituição diminuiria a toxicidade do tratamento, principalmente a gastrointestinal, principal complicação da radioterapia externa.
O estudo foi negativo tanto para o objetivo primário quanto para os secundários. Além disso, houve maior recidiva pélvica no grupo de braquiterapia e quimioterapia (20 Vs 6 pacientes), bem como maior toxicidade aguda grau 3 ou maior (187 Vs 32 pacientes). A toxicidade tardia foi semelhante nos dois grupos. A falha a distância e vaginal também foram semelhantes nos dois grupos.
O estudo mostra que a omissão de radioterapia externa em paciente de alto risco aumenta as chances de recaída pélvica e o emprego da quimioterapia baseada em carboplatina e paclitaxel não só aumentou a toxicidade aguda como não evitou maiores chances de metástase a distância.
Assim como o estudo PORTEC-3, apresentado na ASCO 2017, o estudo GOG 249 mostrou ausência de benefício na associação da quimioterapia no tratamento adjuvante de pacientes com câncer de endométrio estádio I de alto risco e estádio II. O real benefício da quimioterapia nesse grupo de pacientes ainda está indefinido e a radioterapia externa ainda possui o benefício da diminuição de recidiva pélvica. Drogas mais efetivas ou novas estratégias de tratamento sistêmico são necessárias para que a omissão da radioterapia externa nessas pacientes seja segura.
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Referências: A phase III trial of pelvic radiation therapy versus vaginal cuff brachytherapy followed by paclitaxel/carboplatin chemotherapy in patients with high-risk, early-stage endometrial cancer: A Gynecology Oncology Group study