A psicologia hospitalar é um campo de atuação ainda recente. Tão importante quanto o tratamento do câncer é a atenção dispensada aos aspectos emocionais que envolvem aqueles que enfrentam a doença. O que difere o psicólogo de outros profissionais da área da saúde é a escuta oferecida àquele que padece. O psicólogo entende o sujeito em sua totalidade: aspectos físicos, psicológicos e sociais. Sendo a psico-oncologia considerada uma parte do cuidado prestado aos pacientes com câncer, é de suma importância que o trabalho do psicólogo esteja vinculado à prática integrada com uma equipe multidisciplinar. Dessa forma, é preciso refletir acerca da atuação do psicólogo no ambiente hospitalar e das contribuições ofertadas aos pacientes para o enfrentamento do câncer.
{jathumbnail off}No início, a psicologia estava inserida fundamentalmente na prática clínica. Com o passar do tempo, ela assumiu diversas áreas de atuação. A psicologia hospitalar é ainda recente, porém a sua presença no campo da saúde é uma maneira de compreender o processo de adoecimento. É preciso ressaltar a importância e o papel do psicólogo, visto que é fundamental que haja um olhar direcionado aos aspectos psicológicos do sujeito durante o processo de adoecimento.
O que difere o psicólogo de outros profissionais da área da saúde é a escuta àquele que padece. Tal escuta busca compreender a subjetividade do paciente além da doença e, assim, dar ênfase à sua singularidade. Desta forma, o psicólogo entende o sujeito em sua totalidade: aspectos físicos, psicológicos e sociais. Segundo Tonetto e Gomes (2005), são diversos os objetivos da intervenção psicológica, entre eles avaliar o estado emocional do paciente; amenizar angústias e ansiedades frente a situações desconhecidas; trabalhar aspectos da sexualidade envolvidos na doença e no tratamento; buscar adesão ao tratamento; auxiliar na adaptação à condição de vida imposta pela doença; orientar familiares e acompanhar no enfrentamento de perdas.
Tão importante quanto o tratamento do câncer é a atenção dispensada aos aspectos emocionais que envolvem aqueles que enfrentam a doença. Mesmo com o avanço da tecnologia, que facilita o diagnóstico precoce e proporciona diferentes formas de tratamento, o adoecimento causa inúmeras repercussões na vida dos pacientes. De acordo com Gomes (2013), é preciso “entender quais repercussões físicas e emocionais podem ser causadas pelo tratamento, assim como as expectativas e medos dos pacientes. Apesar de toda a evolução, o estigma do câncer imprime sua marca na cultura, relacionado a experiências negativas e à expectativa de morte” (p. 272).
A psico-oncologia é uma parte do cuidado prestado aos pacientes com câncer, sendo considerada uma subespecialidade a partir da década de 1970 até o início do século XXI. A Psycho-Oncology Society (IPOS) foi criada em 1984. As dimensões psicológicas avaliadas pela psico-oncologia estão vinculadas às reações emocionais dos pacientes e familiares em todos estágios da doença, o estresse da equipe e os estudos sobre o câncer que visem contribuições (RABIN, 2004).
O atendimento psicológico aos pacientes oncológicos objetiva abranger as dimensões da história de vida do paciente, tais como ciclo vital, família e relações sociais, perdas e lutos, sexualidade, aspectos sociais e comportamentais. É preciso refletir acerca da atuação do psicólogo no ambiente hospitalar e as contribuições ofertadas aos pacientes para o enfrentamento da doença. Cada fase do ciclo vital tem suas particularidades e, com isso, seus desafios. Assim, o psicólogo deve estar capacitado para atender crianças, adolescentes, adultos e idosos.
O psicólogo pode acompanhar o paciente, os familiares e os profissionais, variando de acordo com o funcionamento do serviço de psicologia de cada hospital. O atendimento psicológico é um espaço ofertado para pensar sobre prevenção, tratamento, reabilitação e perdas. É de suma importância que o trabalho do psicólogo esteja vinculado a uma prática integrada com uma equipe multidisciplinar, visando visa o bem-estar global do paciente. Assim, não só os psicólogos, mas todos profissionais da área da saúde, devem buscar uma qualidade de vida para o enfermo, independente do seu estado de saúde.
Cabe destacar que o psicólogo hospitalar precisa se adaptar às condições e às limitações do hospital. Valle, Salvador e Santos (2012) afirmam que “independente do tempo cronológico, do local, seja o quarto do hospital, seja o corredor, o bloco cirúrgico, a unidade de tratamento intensivo (UTI), o mais importante é proporcionar uma escuta analítica ao paciente” (p. 115). A presença de psicólogos tem sido cada vez mais solicitada e, de acordo com Moretto (2013), a solicitação “sempre tem a ver com “algo” da subjetividade, no que diz respeito ao sofrimento psíquico (ou sua ausência), algo que não vai (ou que não cai) bem na cena em questão. É o que basta para um chamado” (2013, p. 361). Afinal, o psicólogo oportuniza que o paciente possa pensar não apenas a respeito da doença e do tratamento, mas sobre tudo que se passa com ele.
Moura (2013) ressalta que o psicólogo “oferece a possibilidade para o sujeito encontrar saídas criativas e singulares para o seu sofrimento, qualquer que seja o diagnóstico e o prognóstico” (p. 408). Ao longo dos anos, a psicologia vem aumentando sua representatividade e importância na área da saúde para compreender os fenômenos de saúde e doença, propondo intervenções que possam manter e melhorar o bem-estar humano. Por conseguinte, é preciso ressaltar que o espaço da psicologia em múltiplos contextos, dando ênfase aqui ao ambiente hospitalar, é essencial para a vitalidade da profissão diante das demandas que surgem em pacientes com câncer.
Autor (a):
Maria Eduarda Germano Motta -
{jd_file file==22}
Referências
GOMES, Nazir Felippe. A clínica do possível. In: MOURA, Marisa Decat de (Org.). Oncologia: Clínica de limites terpêuticos? Psicanálise e medicina. Belo Horizonte: Artesã, 2013. p. 272-274.
MORETTO, Maria Lívia Tourinho. Entre o luto e a luta: Sobre a noção de sofrimento psíquico do paciente com câncer e o trabalho do psicanalista em situações-limite na instituição hospitalar. In: MOURA, Marisa Decat de (Org.). Oncologia: Clínica de limites terpêuticos? Psicanálise e medicina. Belo Horizonte: Artesã, 2013. p. 352-365.
MOURA, Marisa Decat de. Psicanálise e medicina: Uma clínica do sempre no limite terapêutico. In: MOURA, Marisa Decat de (Org.). Oncologia: Clínica de limites terpêuticos? Psicanálise e medicina. Belo Horizonte: Artesã, 2013. p. 400-409.
RABIN, Eliane Goldberg. A construção histórica da psicooncologia. In: AZEVEDO, Deleuse Russi; BARROS, Maria Cristina Monteiro de; MULLER, Marisa Campio (Orgs.). Psincooncologia e interdisciplinaridade: Uma experiência na educação a distância. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. p. 49-56.
TONETTO, Aline Maria; GOMES, William B. Prática psicológica em hospitais: Demandas e intervenções. Porto Alegre, Revista Psico (PUCRS), v. 36, n. 3, p. 283-291, 2005.
VALLE, Beatriz; SALVADOR, Carolina Nunes; SANTOS, Jusseli Bastos do. Psicanálise e hospital: a escuta da dor além do corpo. In: STENZEL, Gabriela Quadros de Lima; PARANHOS, Mariana Esteves; FERREIRA, Vinícius Renato Thomé (Orgs.). A psicologia no cenário hospitalar: encontros possíveis. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2012. p. 111-118.