Artigo de Dumont, F. et al. na Surgical Oncology discute a caracterização de recorrência peritoneal e local, prognóstico e implicações clínicas. Quem comenta é Ademar Lopes (foto), cirurgião oncológico e vice-presidente do A.C.Camargo Cancer Center.
Ademar Lopes*
A recorrência local (RL) e a recorrência peritoneal (RP) do câncer colorretal (CCR), aparentemente são entidades distintas. O Artigo de Dumont et al na Surgical Oncology mostra estas diferenças, chamando a atenção para o maior comprometimento linfonodal na primeira (25% versus 7%). Os 108 pacientes desta série foram tratados com cirurgia citorredutora (CRS) mais quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (HIPEC), colocando em perspectiva um tema controverso.
O tratamento da carcinomatose peritoneal (CP) de CCR com CRS mais HIPEC é controverso, e mais ainda nos pacientes que apresentam somente RL. Estudos retrospectivos mostram que sobrevida global de longo prazo pode ser obtida com esta metodologia em casos selecionados, porém não há evidência para atribuir esse benefício à HIPEC, mas sim à citorredução completa e aos aspectos biológicos da doença.
O PRODIGE-7, estudo multicêntrico, randomizado de fase III, não mostrou diferença estatisticamente significativa na mediana de sobrevida global, em um período de seguimento de 63.8 meses, para o grupo de pacientes tratado com CRS+HIPEC (oxaliplatina), quando comparado ao grupo tratado com CRS+ quimioterapia sistêmica (41.7% vs 41.2%, p=0.995). A SLD, em meses, também foi semelhante nos dois grupos (13.1% X 11.1%, p=0.486). A taxa de mortalidade não foi diferente nos dois grupos (1.5%), porém a taxa de complicações aos 60 dias foi significativamente maior no grupo CRS+HIPEC (24.1% x 13.6%, p= 0.030).
Assim sendo, no momento não há evidência que justifique o uso da HIPEC para o tratamento da RP, RL e RPL de origem colorretal. O uso da mitomicina, para se obter resultados diferentes, ainda nos parece especulativo. A nossa posição é que pacientes com RL de CCR devem ser tratados com cirurgia radical (ressecção adequada), sempre que possível, exceto naqueles casos em que o intervalo livre de doença (ILD) seja muito curto. Pacientes com RP, que após quimioterapia apresentarem doença residual mínima e localização favorável, devem ser submetidos à cirurgia, bem com aqueles que após o tratamento do tumor primário com cirurgia e quimioterapia adjuvante tiverem RP mínima, localização favorável e longo ILD.
Referências:
Dumont, F., Joseph, S., Lorimier, G., De Franco, V., Wernert, R., Verriele, V., … Thibaudeau, E. (2020). Intra-abdominal recurrence from colorectal carcinoma: Differences and similarities between local and peritoneal recurrence. Surgical Oncology, 32, 23–29. doi:10.1016/j.suronc.2019.10.018
Quenet F, Elias D, Roca L et al. A UNICANCER phase lll Trial of hyperterthermic intra-peritoneal chemotherapy (HIPEC) for colorectal peritoneal carcinomatosis (PC): PRODIGE
- National Comprehensive Cancer Network (NCCN). NCCN Clinical practice guidelines in oncology. https://www.nccn.org/professionals/physician_gls/default.aspx
*Ademar Lopes, MD, PhD: Especialista em Cirurgia Oncológica, Vice-Presidente do A.C.Camargo Cancer Center, Livre Docente pela Disciplina de Oncologia da FMUSP, Professor titular de Oncologia da UMC, Fellow dos Colégios Brasileiro e Americano de Cirurgiões e da Sociedade Americana de Cirurgia Oncológica(SSO).