Terapia fotodinâmica já é utilizada no tratamento de câncer de pele não melanoma e de lesões precursoras do câncer do colo do útero. Tecnologia transforma fármaco em uma substância sensível à luz que, irradiada por um comprimento de onda específico, age seletivamente nas lesões.
Pesquisadores da USP, do Grupo de Óptica do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), desenvolveram um protocolo clínico para tratamento das lesões causadoras do câncer do colo do útero através da Terapia Fotodinâmica (TFD). A técnica utiliza um creme e um sistema portátil, que integra duas ponteiras com LED’s — uma emitindo luz no espectro azul e outra no vermelho.
A pesquisa teve início em 2011, sob a coordenação do professor Vanderlei Bagnato. Até o momento, a técnica foi aplicada em 70 pacientes com neoplasia intraepitelial cervical (NIC) de baixo e alto grau. O medicamento contém a substância aminolevulinato de metila (MAL), precursora de outra molécula, a protoporfirina IX (ou PpIX), que após ser excitada pelo LED vermelho produz um oxigênio reativo e tóxico para as lesões, eliminando-as com apenas 20 minutos de iluminação.
“O creme já foi testado em mais de 600 pacientes com câncer de pele no departamento de dermatologia do Hospital Amaral Carvalho, em Jaú, e está em fase de aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que já aprovou o equipamento, chamado Lince”, afirma a pesquisadora Natalia Inada, que atua nesta linha de investigação desde 2008.
Tratamento não invasivo
Segundo Natalia, a técnica é muito vantajosa porque, ao contrário do procedimento comumente realizado, a TFD trata as lesões de forma não invasiva, preservando o colo do útero das pacientes. “Na técnica convencional, quando o NIC de alto grau é diagnosticado, é realizado um procedimento cirúrgico (CAF ou Cirurgia de Alta Frequência), onde, geralmente, mais de 2 centímetros de profundidade e 3 cm de extensão do colo do útero são removidos. Os efeitos colaterais da CAF comumente incluem hemorragia e, por vezes, estenose do colo do útero, o que pode diminuir a fertilidade”, explica. Já a terapia fotodinâmica é seletiva, e age especificamente na célula doente, que absorve o creme, é fotoativada pela luz e sofre necrose, enquanto a célula saudável é preservada.
INCA utiliza tecnologia em câncer de pele não melanoma
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) também possui um ambulatório específico para o tratamento de doentes com carcinoma basocelular superficial de até 2 cm de extensão e 2 mm de infiltração utilizando a terapia fotodinâmica. O INCA participou do início do projeto em parceria com a USP, mas optou por mudar de fornecedor.
“Nossa parceria foi ótima. Chegamos a tratar aqui 30 pacientes, todos com excelente resultado”, afirma Dolival Lobão, chefe da Seção de Dermatologia do INCA. Mas apesar dos bons resultados e do custo reduzido, o INCA acabou firmando acordo com uma empresa multinacional. Segundo Lobão, um dos motivos que embasaram a escolha foi a lâmpada, que no caso da USP tinha um campo muito pequeno, limitando as possibilidades de aplicação. “A lâmpada da USP abrange um campo muito pequeno de ação, o que só permitia tratar lesões únicas, enquanto com nossa parceira atual tratamos um rosto inteiro”, diz.
Sobre a abrangência, Natalia explica que hoje o Lince possui uma ponteira maior de tratamento (10x12 cm). “O sistema utiliza LEDs tanto na luz azul para matar micro-organismos, como na luz vermelha para ativar a PpIX e tratar áreas maiores de câncer de pele, queratose actínica e áreas de cancerização”, esclarece.
Outro fator que pesou na decisão do INCA foi o desenvolvimento de uma técnica que permite o tratamento em lesões pré-câncer sem a utilização da lâmpada. Neste tratamento, chamado Daylight PDT, o paciente aplica o creme e fica em uma área que tenha luminosidade natural, sem estar exposto diretamente à luz solar. “A grande vantagem é que você não utiliza a lâmpada, o que faz com que o tratamento seja mais rápido e indolor”, diz. O método, no entanto, não é consenso. “Ele é feito de uma maneira sem controle da luz, porque cada dia pode haver uma intensidade luminosa diferente”, alerta Natalia.
Devido ao elevado valor da terapia escolhida pelo Instituto Nacional do Câncer (cada dois gramas do creme importado, suficiente para dois pacientes, custa cerca de novecentos reais), a terapia fotodinâmica no INCA tem capacidade para atender entre um e dois pacientes por semana. Lobão espera que, com a aprovação da Anvisa e a possibilidade de comercialização do tratamento desenvolvido pela USP, possa baratear o tratamento para dar acesso a um maior número de pacientes.