Onconews - Carne processada é fator de risco

CARNE_LUPA_NET_OK.jpgConsumo de carne vermelha aparece como conhecido fator de risco para o desenvolvimento de diferentes tipos de câncer.


Metanálise6 publicada em novembro de 2016 incluiu quarenta e seis estudos prospectivos e demonstrou a associação entre diferentes fontes proteicas e o risco de câncer de mama. A taxa de risco relativo (RR) para o consumo mais alto versus o menor consumo foi de 1,07 para carne processada; 0,92 para alimentos derivados da soja; 0,93 para leite desnatado e 0,90 para iogurte.
 
Não é de hoje que o consumo de carne vermelha aparece como conhecido fator de risco para o desenvolvimento de diferentes tipos de câncer. Estudo7 publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) em janeiro de 2015 mostrou em modelos animais que a associação se deve ao chamado ácido N-glicolilneuramínico de ácido siálico não humano (Neu5Gc), presente na carne vermelha. O Neu5Gc é uma substância que depois de metabolizada fica biodisponível nos tecidos humanos, gerando a produção de anticorpos em circulação. A interação entre os antígenos circulantes e os anticorpos anti-Neu5Gc é capaz de estimular processos inflamatórios e disparar a chave que leva à carcinogênese e à progressão do tumor. Em cobaias, a exposição a longo prazo produziu inflamação sistêmica e levou a uma incidência cinco vezes maior de câncer hepático na comparação com o grupo controle.
 
O oncologista Antonio Carlos Buzaid, chefe-geral do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes (COAEM) e membro do comitê gestor do Centro de Oncologia e Hematologia Dayan-Daycoval, do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que a pesquisa demonstra a correlação entre o Neu5Gc e a inflamação crônica associada ao desenvolvimento de tumores. “Há tempos foi estabelecido o nexo epidemiológico entre o consumo de carne vermelha - bovina, suína e de cordeiro - e a incidência de doenças como o câncer e diabetes. Populações que consomem pouca ou nenhuma carne vermelha apresentam menores taxas de câncer”, esclarece. “Agora, este estudo demonstra em um modelo animal o papel da inflamação crônica desencadeada pelo consumo da carne”, acrescenta Buzaid.
 
O organismo humano é geneticamente incapaz de produzir Neu5Gc. No entanto, a molécula é detectável em superfícies de epitélio humano e do endotélio, e aparece em valores ainda mais elevados em tecidos malignos. Assim, a única via para tornar possível a biossíntese de Neu5Gc é a ingestão dietética, especialmente através da carne vermelha, conclusão que neste caso foi considerada a ‘prova de princípio’ da investigação.
 
Em outubro de 2015, a OMS divulgou os resultados de estudo da Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC)8 que avaliou a carcinogenicidade do consumo de carne vermelha e carne processada. A carne processada foi classificada como cancerígena (Grupo 1) e o estudo mostrou que o consumo de 50 gramas por dia aumenta em 18% o risco de câncer colorretal. Esta associação também foi observada em tumores de pâncreas e no câncer de próstata.
 
A IARC considerou mais de 800 estudos que investigaram associações de mais de 12 tipos de câncer com o consumo de carne vermelha ou processada.

Referências:

6 – Dietary Protein Sources and Incidence of Breast Cancer: A Dose-Response Meta-Analysis of Prospective Studies - https://goo.gl/KKDXfc
 
7 - A red meat-derived glycan promotes inflammation and cancer progression - https://goo.gl/XUtYE5
 
8 - IARC Monographs evaluate consumption of red meat and processed meat - https://goo.gl/qrCTGI   

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