Em sua 21ª edição, Destaques ONCO trouxe para a oncologia brasileira a síntese dos estudos que marcaram o programa científico da ASCO 2018, em evento que reuniu expoentes da especialidade para discutir tendências, avanços e controvérsias do encontro de Chicago.
O oncologista Antonio Carlos Buzaid, Diretor Médico Geral do Centro Oncológico da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo e membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein, comandou o tradicional take home message, que este ano atualizou boas práticas, além de enfatizar os estudos com maior impacto na realidade da oncologia.
Entre as primeiras recomendações, um tema que está na fronteira e merece atenção: o microbioma intestinal é importante na eficácia dos inibidores de checkpoint imune. “Hoje, sabemos que o uso de antibiótico afeta a eficácia da imunoterapia. Então, não faça isso nem próximo, nem durante o tratamento com checkpoint inhibitors”, recomendou Buzaid, que fez referência a três diferentes estudos sobre o tema publicados no Science por Jennifer Wargo, do MD Anderson Cancer Center.
No panorama GI (não colorretal), um dos estudos mais comentados da ASCO foi menção obrigatória no take home message do 21º Destaques ONCO. Trata-se do estudo do Unicancer (PRODIGE 24/CCTG PA.6), que demonstrou que FOLFIRINOX adjuvante aumentou a sobrevida global no câncer de pâncreas quando comparado a gencitabina. “São resultados que deveriam ter sido apresentados em Sessão Plenária e, sem dúvida, instituem um novo padrão”, disse Buzaid, sem deixar de apontar outra importante opção de tratamento, a combinação de gencitabina e capecitabina (GemCAP), que ganhou evidência com o estudo ESPACE 4.
No panorama geniturinário, uma das grandes promessas vem do inibidor de FGFR erdafitinibe, que mostrou taxa de resposta de 40% no câncer de bexiga, em pacientes politratados. No câncer renal, estudo apresentado na ASCO 2018 mostrou que a nefrectomia citorredutora não deve ser realizada em pacientes que serão tratados com TKIs.
Progressos na biópsia prostática dirigida por RNM também impactam a prática. “É o novo padrão e aumenta a detecção de câncer de próstata clinicamente relevante”, resumiu Buzaid. Entre as novidades, o especialista prevê para breve a utilização do biomarcador ARV7 nos algoritmos de tratamento para selecionar pacientes que devem ser tratados com quimioterapia e aqueles que vão receber hormonioterapia.
Na área de pele, melanoma e sarcoma, contribuições importantes ampliam o arsenal terapêutico, como a chegada do TKI EGFR sorafenibe em tumor desmoide, “hoje uma nova alternativa”, assim como a evidência de que regorafenibe é ativo em osteossarcoma.
Na era da genômica, lições importantes reformulam a prática da oncologia mamária. O estudo de fase III TAILORx mostrou que a maioria das mulheres com câncer de mama inicial, com receptor hormonal positivo, HER2 negativo, sem comprometimento de linfonodos axilares e com escore de risco intermediário no teste Oncotype DX® não se beneficia da quimioterapia adjuvante. Destaque na Sessão Plenária da ASCO, em apresentação de Joseph A. Sparano, o estudo concluiu que a adição de quimioterapia ao tratamento hormonal não aumentou a sobrevida livre de doença nessa população de pacientes.
No encerramento do 21ºDestaques ONCO, Buzaid também falou dos resultados do estudo NeoSAMBA, que tem como primeiro autor o oncologista José Bines, do INCA. O estudo investigou se a sequência de antraciclina e taxano é importante na neoadjuvância do câncer de mama HER2- e os resultados mostram pela primeira vez ganho de sobrevida global com taxano inicial na doença localmente avançada. “É um resultado em concordância com o NeoTango e com dados retrospectivos do MDACC, já incorporados à nossa prática, tanto na neo como na adjuvância”, apontou. “Agora, um estudo de fase III definitivo deve ser realizado”, prevê.
Promovido pela Sanofi Genzyme, o Destaques ONCO contou com 600 convidados que compareceram ao local do evento, e mais de 700 médicos que acompanharam as apresentações online.