Disputa por novos nichos atrai a atenção das big pharma e reforça alianças estratégicas. Startups estimulam um aquecido ambiente de mercado e novas promessas.
A imunoterapia só está começando e novos players se posicionam para disputar a liderança da Bristol-Myers Squibb e da Merck. Agora, é a Roche quem se anuncia, com a promessa do anticorpo atezolizumab, além da francesa Sanofi, que acaba de divulgar a aliança de US$ 1,7 bilhão com a Regeneron Pharmaceuticals para o desenvolvimento de drogas que utilizam o sistema imunológico para combater o câncer.
A Bristol-Myers Squibb chegou na frente com o anti CTLA-4 ipilimumab e com o anti PD-1 nivolumab, que depois de demonstrar resultados excepcionais em melanoma metastático ampliou as indicações de uso. A Merck veio logo em seguida com o pembrolizumab, o primeiro agente anti PD-1 a obter o registro do FDA.
Diante das novas estratégias que denunciam o aquecido ambiente do mercado, a própriaBristol-Myers Squibb anunciou em agosto a aliança com a farmacêutica japonesa Kyowa Hakko Kirin para testar uma combinação de duas imunoterapias do pipeline das empresas. O novo esquema de tratamento vai ser avaliado em estudo de fase I/II nos Estados Unidos com o mogamulizumab (Poteligeo®, da Kyowa), um anticorpo anti-CCR4, e o nivolumab (Opdivo®, da BMS), uma das principais imunoterapias anti-PD1 em tumores sólidos avançados ou metastáticos. O mesmo modelo de colaboração vai permitir estudos também no Japão, com o apoio da Ono Pharmaceutical.
A Roche divulgou resultados encorajadores com o anticorpo atezolizumab no estudo de fase II em carcinoma urotelial de bexiga (IMvigor 210), e já alimenta planos de múltiplas indicações no futuro, com mais de onze ensaios em andamento. No estudo IMvigor 210, 20% (9/46) dos pacientes que haviam progredido durante ou após à quimioterapia baseada em cisplatina alcançaram resposta completa, enquanto 57% dos pacientes com os maiores níveis de expressão de PD-L1 ainda permaneciam vivos um ano após o tratamento com atezolizumab. Os eventos adversos mais frequentemente observados foram fadiga, astenia e náuseas, afetando 16%, 13% e 11% dos pacientes, respectivamente.
A Sanofi também vai disputar a imunoterapia, agora em nova colaboração com a Regeneron Pharmaceuticals, uma biotech norte-americana sediada em Tarrytown, NY, disposta a se concentrar na pesquisa e desenvolvimento de anticorpos monoclonais, em especial os anti PD-1, e nas terapias CAR-T, para tumores sólidos e hematológicos.
“Vamos viver um movimento de alianças estratégicas, associações e aquisições, principalmente com startups que apostam nas promessas da imunoterapia”, sinaliza Otávio Clark, CEO da Evidências/Kantar Health, que projeta assistir na imuno-oncologia a mesma dinâmica que deu o tom na pesquisa e desenvolvimento das terapias-alvo.
Os custos de acesso continuam em alta. “O tratamento do ipilimumabe, que todo mundo já achou um absurdo de caro, fica em torno de 300 mil reais por ano e vamos ver esses novos tratamentos chegando a 700 mil anuais. Alguns estudos já mostram esquemas combinados, o que vai fazer com que os tratamentos cheguem fácil à casa de um milhão”, prevê.