Brasil precisa adotar políticas públicas capazes de sensibilizar a população e reverter a curva ascendente de casos de câncer de pele no país, incluindo melanoma. Difundir a regra do ABCDE pode ser um bom caminho para aumentar a conscientização do problema.
O melanoma é a forma mais letal de câncer de pele e persiste como importante problema de saúde pública. Diante da escalada nos custos do tratamento e no panorama epidemiológico, fica claro que estratégias devem incluir esforços para melhorar tanto a prevenção primária (redução de exposição à luz ultravioleta) como a prevenção secundária de melanoma, neste caso através do diagnóstico precoce.
Em 2009, relatório da US Preventive Services Task Force (USPSTF) não recomendou a triagem de rotina nos Estados Unidos, mas novos estudos disponíveis mostram o benefício potencial da triagem no câncer de pele, especialmente para melanoma.
O grupo alemão (Breitbart et al, 2012) mostrou não apenas que o rastreamento populacional é viável, como tem o potencial de reduzir a incidência do câncer de pele e as taxas de morte pela doença. Com base nesses resultados, a Alemanha instituiu um programa nacional de detecção precoce do câncer de pele, mas faltam estudos que permitam extrapolar as análises alemãs para outros cenários.
No Brasil, dados epidemiológicos mostram crescente aumento na incidência de câncer de pele não-melanoma e melanoma. Além da exposição solar e da exposição à radiação UV em um país que concentra mais de 8,5 mil quilômetros de costa, a história familiar de melanoma aumenta em até oito vezes o risco de desenvolver a doença.
Séries de estudos de base populacional têm mostrado um aumento da incidência de câncer de pele, incluindo melanoma, em pacientes com Leucemia Linfoide Crônica e em indivíduos com mutação BRCA2, que têm risco 2,58 vezes maior para o desenvolvimento de melanoma.
Mudança de hábitos
O melanoma pode ser confundido com eczemas, pintas ou outras lesões benignas. Difundir a regra do ABCDE pode ser um bom caminho para aumentar a conscientização do problema. É importante observar a presença de assimetrias e bordas irregulares, assim como características como coloração, diâmetro e, mais recentemente, a evolução. “É um alerta, mas não substitui a avaliação dermatoscópica”, esclarece Rafael Schmerling, do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes (COAEM), diretor científico do Grupo Brasileiro de Melanoma.
Grupo Brasileiro de Melanoma reforça apelo à prevenção
Segundo a OMS, a dose diária recomendada de radiação UV é de 108 J/m2. Estudo realizado em Ponta Negra, Natal (RN), é um exemplo claro dos altos níveis de radiação UV a que um indivíduo pode estar exposto. A dose cumulativa registrada entre 9h40 e meio-dia foi de 5250 J/m2 - 50 vezes mais que a dose máxima diária recomendada pela OMS e quase 12 vezes a dose necessária para provocar eritema em um indivíduo de fototipo IV. No entanto, vale o alerta de que essa dose de radiação UV não é observada apenas em resorts à beira-mar, mas também nos centros urbanos, e a exposição solar é uma realidade para muitos trabalhadores brasileiros.
A Sociedade Brasileira de Dermatologia quer incentivar estudos para avaliar melhor os efeitos da radiação solar sobre a população brasileira, especialmente a busca de métodos mais adequados de classificação de tipo de pele quando comparados à classificação de Fitzpatrick que se baseia na susceptibilidade individual a radiação ultravioleta resultando em queimaduras solares e bronzeamento.
Para o presidente do Grupo Brasileiro de Melanoma, Alberto Wainstein, a prevenção secundária é o melhor caminho para reverter as curvas de incidência.
Apesar dos grandes esforços em diversos países, geralmente não se consegue prevenir o aparecimento do melanoma. O diagnóstico precoce é a principal chance de cura e não demanda métodos invasivos e caros. A lesão é visível para a suspeição do leigo e diagnóstico médico.
Mesmo profissionais de saúde não estão habituados a procurar e diagnosticar o melanoma. Um simples exame de todo o corpo do paciente pode detectar lesões suspeitas e melanomas em fases iniciais e curáveis.
A suspeição é feita pela dermatoscopia, exame clínico e mesmo pelo leigo quando este recebe orientações e informações sobre o câncer de pele e melanoma.
Os pacientes com múltiplos nevos, história familiar de melanoma, pela clara, olhos e cabelos claros tem maior risco de melanoma, mas o principal fator é ambiental relacionado a exposição à radiação ultravioleta. Em negros o melanoma é mais comum nas regiões plantares e palmares.
Como o diagnóstico é fundamentalmente visual, geralmente o próprio paciente ou pessoas próximas são responsáveis pela suspeita inicial. O reconhecimento precoce e as condutas acertadas tornam-se importantes aliados ao sucesso do tratamento.
Os gestores dos sistemas de saúde público e privado estão corretamente alarmados com os crescentes custos dos tratamentos para os pacientes com doença metastática. O que é inegável são os benefícios das novas drogas e da imunoterapia.
“No Grupo Brasileiro de Melanoma (GBM) recomendamos que o caminho mais eficiente para se evitar grandes morbidades, mortalidades e mesmo custos da doença avançada é investir na prevenção. A educação e conhecimento sobre o melanoma são o caminho mais eficaz. Façam um teste: perguntem para algum conhecido o que é melanoma e verão o quanto a desinformação impera”, afirma Wainstein.