O uso de laser intersticial para ablação de tumores de mama de até dois centímetros é objeto de pesquisa coordenada pelos mastologistas Afonso Celso Pinto Nazário (à esquerda), da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, e Silvio Bromberg, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Vem de São Paulo uma nova promessa no tratamento do câncer de mama inicial. O uso de laser intersticial para ablação de tumores de mama de até 2 cm está sendo pesquisado em uma parceria que envolve o Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) e a Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/UNIFESP).
“Somos o único grupo a pesquisar essa técnica no Brasil”, diz o mastologista Silvio Bromberg (HIAE/EPM-UNIFESP), que divide a coordenação do trabalho com o Chefe da Disciplina de Mastologia do Departamento de Ginecologia da EPM/UNIFESP, Afonso Celso Pinto Nazário.
Bromberg lembra que a técnica já é utilizada com sucesso em tumores benignos de tireóide e foi dessa prática que surgiu a inspiração. “Como já tínhamos o aparelho no hospital usado para tireoide, resolvemos desenvolver um projeto também para tumores de mama”, explica. “Existem poucos trabalhos ao redor do mundo nessa direção, em países como Suécia, Estados Unidos, França e Alemanha”, diz.
O estudo tem como objetivos avaliar o risco-benefício do procedimento, a satisfação em relação a danos estéticos e o resultado total, ou seja, se sobrou ou não tumor residual. “O caráter minimamente invasivo traz benefícios óbvios para as pacientes. Toda a parte operacional é muito mais simples. É um day clinic, a paciente é submetida ao procedimento e vai embora no mesmo dia”, afirma Bromberg.
Ao lado das avaliações de eficácia e segurança, é claro que o preço do procedimento também conta. Além do valor do equipamento, cada agulha utilizada na ablação custa cerca de mil reais e cada procedimento pode exigir de uma a duas agulhas. “Se comprovada a segurança e eficácia, o segundo passo é verificar se é aplicável no serviço público. Obviamente, esse método precisaria ser utilizado em larga escala. No cenário atual, o tratamento completo no SUS, com cirurgia e internação, é mais barato que a agulha utilizada para ablação”, explica o mastologista Afonso Nazário.
Como funciona
Participam do estudo pacientes diagnosticadas com tumores de até 2 cm. A delimitação do tamanho permite uma área mais controlável e facilita a análise do efeito do laser no tecido. “Além disso, a tendência hoje em dia é que em tumores acima de 3 cm a indicação seja a quimioterapia neoadjuvante”, explica o mastologista do HIAE, Silvio Bromberg.
As participantes são encaminhadas ao HIAE e lá realizam exames de imagem - ultrassom, mamografia e ressonância magnética. A aplicação do laser intersticial é realizada com anestesia local, por meio de agulhas.
Nesta primeira fase o trabalho não tem restrições quanto ao subtipo histológico do tumor, uma vez que as participantes serão submetidas ao procedimento cirúrgico de qualquer maneira. “No entanto, vamos relacionar os resultados com o perfil molecular para saber em qual grupo de pacientes o método é mais seguro”, esclarece Nazário.
O calor proporcionado pelo laser faz a ablação automaticamente. Aí são realizados novos exames de imagem, e quinze dias depois a paciente é operada. O material é então analisado por um patologista para verificar se existe a presença de resíduo tumoral e possíveis necroses no tecido.
Bromberg explica que a cirurgia é necessária para certificar a eficácia do procedimento. “Queremos ter certeza de que a técnica é uma alternativa terapêutica tão boa quanto a cirurgia. Para isso, temos que retirar e analisar esse material”.
Por enquanto foram realizados dois procedimentos, ambos sem sinal de tumor residual na avaliação do patologista. A técnica será aplicada em 20 pacientes, umacasuística ainda muito pequena, que segue o padrão das experiências de outros países. “Se o resultado for muito bom, possivelmente será realizado outro estudo ou alterado o critério de inclusão dessa pesquisa inicial, permitindo a análise em tumores maiores”, diz Nazário.
A previsão é concluir o estudo até o final do ano. Segundo Bromberg, ao confrontar os resultados com as experiências de outros países será possível concluir se a técnica representa uma alternativa terapêutica possível em algumas situações específicas, quando a paciente não pode ou não quer realizar o procedimento cirúrgico. “É algo bem novo, ainda talvez um pouco high-tech para o nosso cotidiano”, diz o especialista. “No futuro este procedimento vai acabar sendo reservado para tumores de melhor comportamento, menos agressivos, como tumores luminal A ou B, por exemplo. ”, conclui.