Na contramão da crise, hospitais e clínicas privadas apostam na ampliação da assistência oncológica. Investimentos vão do aumento da capacidade instalada, capacitação de profissionais e novas tecnologias a espaços dedicados à medicina integrativa.
Mesmo em um cenário que vê desacelerar o ritmo de investimentos, a saúde financeira de clínicas e hospitais privados com foco em oncologia não parece dar sinais de desânimo. Em 2015, o faturamento bruto da Beneficência Portuguesa de São Paulo cresceu 13% em relação ao ano anterior. “Apesar da crise nós conseguimos adotar um planejamento estratégico de curto, médio e longo prazo, com foco no resultado, e o nosso movimento foi só de crescimento”, afirma Ricardo Hutter, superintendente executivo do Hospital São José, da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
A oncologia, uma das áreas estratégicas do Hospital, representa uma importante fatia desse crescimento e deve continuar aquecida com a recente inauguração de uma área dedicada à especialidade. O investimento de R$140 milhões amplia a quantidade de leitos, consultórios e posições para infusões de drogas citotóxicas. “A nova torre contempla ainda a implantação de um serviço de pronto atendimento, dois bunkers para radioterapia, além de uma ala dedicada ao transplante de medula óssea,” acrescenta Hutter.
“É uma tendência sem volta, como resposta ao envelhecimento populacional e à anunciada transição epidemiológica. Anos atrás, trouxemos o padrão-ouro. Agora, inauguramos o padrão-diamante”, resume o médico Antonio Carlos Buzaid, chefe-geral do COAEM e membro do comitê gestor do Centro de Oncologia e Hematologia Dayan-Daycoval, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Segundo Fernando Maluf, diretor do Serviço de Oncologia Clínica do Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes e oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein, a inauguração do prédio edifica não apenas um dos mais incríveis centros oncológicos da América Latina, mas um projeto acadêmico vitorioso. “Através dos congressos gerenciados com o apoio da nossa casa, além de preceptorshipse manuais de oncologia, permitimos que médicos e profissionais de saúde tenham acesso à informação sólida”, diz.
O Hospital Mãe de Deus, de Porto Alegre, é outro que anunciou o lançamento de um hospital dedicado à oncologia ao tratamento de pacientes oncológicos. Além de oferecer programas de prevenção, aconselhamento genético, diagnóstico e tratamento, o novo centro irá concentrar esforços em pesquisa, ampliando a oferta de estudos clínicos. Atualmente, o HMD é um dos hospitais privados do país com maior atividade em pesquisas clínicas na área oncológica, com 25 protocolos de pesquisa em andamento no momento com participação de aproximadamente 400 pacientes em 68 projetos nos últimos 10 anos.
Com investimento total de R$ 70 milhões em três anos, o novo hospital irá triplicar a capacidade atual de atendimento para pacientes com câncer. O projeto é dividido em três fases e a conclusão está prevista para 2018.
Capilaridade
O Grupo Oncoclínicas, que em 2013 investiu alto para se consolidar com presença nacional, também tem apresentado crescimento em sua base instalada. “Um dos motivos para esses resultados é característica do próprio setor. Mas nosso crescimento é um reflexo da aposta na qualidade médica”, afirma Luis Natel, presidente do Grupo.
Presente em nove estados do país, a expectativa é aumentar a penetração. Além do recém-inaugurado Oncocentro BH, o Grupo conta com novas unidades em Porto Alegre, Boa Viagem e aumentou a estrutura do Centro Paulista de Oncologia, em São Paulo. “Nosso crescimento é baseado em um modelo associativo. Fazer parcerias com outras clínicas, hospitais e instituições está dentro do nosso pipeline”, diz.
No momento em que o país vive um grande vazio de assistência radioterápica, o Grupo Oncoclínicas também foca seus investimentos para se tornar um importante player do setor. O Grupo já tem modelos de parcerias com o Sistema Único de Saúde em radioterapia, e deve expandir sua atuação. O Grupo atualmente tem três unidades de radioterapia em funcionamento, em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Salvador, e realiza estudos de viabilidade para aumentar a oferta de serviços. Além da expansão da radioterapia, a Oncoclínicas prevê a estruturação de um centro de treinamento, que deve ser implantado em aproximadamente dois anos. “Vamos formar técnicos, dosimetristas, físicos e radio-oncologistas das diversas regiões do país, em uma programação de acordo com a necessidade do Grupo”, explica Helio Salmon, diretor de radioterapia da Oncoclínicas.
Capital humano
A oncologia também se tornou o foco estratégico do Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo, que estabeleceu uma meta ambiciosa: se tornar uma das referências em oncologia na América do Sul até 2020. Para tanto, foram investidos cerca de R$40 milhões, e mais R$ 100 milhões serão alocados nos próximos três anos. “Vamos continuar sendo um hospital geral, mas com metade dos leitos dedicados à oncologia”, afirma Mauro Medeiros Borges, Superintendente Médico do Hospital.
Segundo Medeiros, o hospital pretende investir em um centro de educação e ciência. “Queremos nos tornar protagonistas na área de pesquisa através de parcerias internacionais e do próprio desenvolvimento dos nossos profissionais”, diz Medeiros. Não à toa, grande parte do investimento é destinado ao corpo médico, liderado pelo oncocirurgião Riad Younes. “Procuramos investir em pessoal para garantir um corpo clínico de excelência, desde os médicos até o pessoal da enfermagem. Não adianta apenas subir um prédio, é preciso formar pessoas, o que é muito mais complexo”, afirma Riad.
Medicina Integrativa
Os cuidados complementares também estão em alta e os centros têm investido na área como um diferencial no atendimento. No São José, a expansão contempla um andar dedicado ao cuidado integral de pacientes com câncer. “A medicina integrativa complementa o tratamento tradicional por ser uma abordagem orientada ao paciente que busca equilíbrio entre corpo, espírito e mente”, esclarece Hutter.
O Hospital Oswaldo Cruz também iniciou o serviço de tratamento integrativo, com a criação de um modelo de cuidados totalmente dedicado ao doente com câncer, e o Grupo Oncoclínicas incluiu o cuidado complementar em suas unidades. “Além dos cuidados médicos buscamos oferecer cuidados complementares como yoga, acupuntura, reiki, massagem terapêutica, reflexologia, entre outras práticas integrativas que ilustram bem nosso modelo de tratamento centrado no paciente”, afirma Natel.