Progressos vão da patologia às técnicas de neuroimagem; da neurocirurgia à imunoterapia em tumores do SNC. A preservação da qualidade de vida também ganhou espaço, com medidas neuroprotetoras com o uso da mementina e preservação do hipocampo.
Por Marcos Maldaun, neurocirurgião do Hospital Sírio-Libanês e presidente da Sociedade Latino Americana de Neuro-Oncologia (SNOLA).
Após algumas frustrações recentes, como o AVAGLIO em gliomas de alto grau, podemos dizer que 2015 foi repleto de novidades promissoras na neuro-oncologia. Na neuro-imagem foram aprimorados os critérios RANO para tumores do SNC, como gliomas de baixo grau e carcinomatose meníngea, assim como o iRANO para resposta à imunoterapia, detecção de metástases espinhais, meningeomas, esteroides e tumores pediátricos. Também ratificou-se a importância da perfusão no seguimento dos tumores de alto grau.
Na patologia, grande expectativa quanto à nova classificação dos tumores gliais e marcadores moleculares, após a publicação do NEJM. Provavelmente, é o marco da era molecular acoplada ao diagnóstico histológico, onde IDH1, 1p19q, ATRX, TERT e p53 definirão prognóstico e possivelmente ajudarão a selecionar a terapia-alvo. Esta classificação será publicada em breve pela WHO.
Na neurocirurgia, a máxima ressecção cirúrgica se mantém como padrão, tanto para gliomas de baixo quanto alto grau. Na radioterapia, novas técnicas de radiocirurgia para múltiplas metástases foram estabelecidas, como radiocirurgia para leito operatório, deixando a radioterapia para todo cérebro em situações especiais.
Medidas neuroprotetoras com o uso da mementina e preservação do hipocampo também ganharam mais espaço, visando preservação da qualidade de vida.
Indubitavelmente, podemos dizer que iniciaremos uma nova era na neuro-oncologia, que mudará paradigmas em todas as áreas. O melhor entendimento da imunologia no SNC permitiu o surgimento de uma série de trials em andamento, colocando a imunoterapia por vacinas ou imunorreguladores em destaque, tanto para gliomas como para metástases cerebrais.
A doença metastática por sinal também teve grande participação da terapia-alvo com ação no SNC, como bloqueadores de EGFR e BRAF, por exemplo, agindo inclusive em casos de carcinomatose.
Finalmente, devemos ressaltar que a neuro-oncologia da America Latina entrou no mapa mundial no congresso da SNO, com a homologação da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA) como parte da World Federation. Este é um grande passo em termos de academicismo, assistencialismo e amadurecimento da especialidade em nosso país e em todo o continente. O primeiro congresso bianual da SNOLA que acontece no Rio de Janeiro, de 24 a 26 de março, com mais de 20 palestrantes internacionais, é o reflexo desta nova fase da especialidade. A participação de todos é fundamental para continuarmos crescendo e, assim, oferecendo o melhor tratamento para nossos pacientes.