Onconews - Novos métodos no rastreamento do câncer cervical

Cervical_Cancer_NET_OK_2.jpgDepois de quase seis décadas da citologia de Papanicolaou, o padrão de rastreamento do câncer do colo do útero começa a mudar. A 31ª Conferência Internacional do Papilomavirus - HPV 2017, realizada no início de março na África do Sul, mostrou que tecnologias como a citologia líquida e o teste de HPV de alto risco começam a reconfigurar o controle do câncer cervical.

A experiência da Holanda com mais de 43 mil mulheres em quase 15 anos mostrou as vantagens do teste de HPV de alto risco, método que em estudos randomizados já havia demonstrado alta sensibilidade, com maior taxa de detecção de lesões intraepiteliais grau 3 ou superior (NIC 3+) em relação à citologia. O teste ainda permite aumentar para pelo menos 5 anos os intervalos de controle. “Tudo tem avançado muito rapidamente em países desenvolvidos, mas o preço dessa inovação ainda é um limitador”, resume a bióloga Luisa Lina Villa, ex-diretora do Instituto Ludwig de Pesquisa em Câncer e atual coordenadora do Instituto Nacional do HPV (INCT HPV).
 
Como acontece com toda inovação, também as modernas tecnologias de screening têm custo elevado. “Países que adotam a citologia líquida e o HPV de alto risco para o controle do câncer cervical são certamente menores e mais ricos que o Brasil e não devemos nos iludir”, observa a especialista.
 
No contexto brasileiro, há espaço de sobra para melhorar as estratégias de controle com a citologia. “Os médicos e profissionais de saúde têm grande responsabilidade ao estimular que a mulher faça o Papanicolaou dentro da faixa etária recomendada e cumprindo os intervalos adequados”, reforça ela, em um alerta para os perigos de uma cultura médica que estimula o teste anual, desequilibra a alocação dos recursos e gera uma complexidade a mais em um cenário já cercado de dificuldades. “No Brasil, sabemos que existem falhas, mas existe um problema maior. Fazer um programa organizado, convocando as mulheres a cada três anos, custa um dinheiro que o Brasil não tem”, resume Luisa. No entanto, instituir a tecnologia do HPV de alto risco pode significar uma economia, considerando que os intervalos de controle chegam a dez anos, como demonstra a experiência holandesa.
 
Em 2013, o INCA apontou a extensão do problema. “O padrão predominante do rastreamento no Brasil é oportunístico, ou seja, as mulheres têm realizado o exame de Papanicolaou quando procuram os serviços de saúde por outras razões. Consequentemente, 20% a 25% dos exames têm sido realizados fora do grupo etário recomendado e aproximadamente metade deles com intervalo de um ano ou menos, quando o recomendado são três anos. Assim, há um contingente de mulheres superrastreadas e outro contingente sem qualquer exame de rastreamento”1.

Uma das apostas para mudar o quadro atual é avançar nos processos de vigilância com o Sistema de Informação do Câncer (SISCAN), que passa a adotar o controle nominal e não apenas numérico, como acontecia com a antiga plataforma SISCOLO.
 
Dados do Ministério da Saúde mostram que o câncer do colo do útero é a terceira causa de câncer na mulher brasileira e jáse sobrepõe ao de mama como a primeira causa de morte por câncer nas regiões mais carentes do país. 

 

Localização do CâncerRastreamento populacionalRastreamento
Oportunístico

 
Recomendações
COLO DO ÚTEROSim
O Ministério da Saúde recomenda o rastreamento do câncer do colo do útero e de suas lesões precursoras com exame citopatológico, em mulheres de 25 a 64 anos*. A triagem antes dos 25 anos deve ser evitada.
 
 
 
 

 
Sim.
É consenso entre diferentes sociedades médicas a recomendação do exame citopatológico na prevenção do câncer do colo do útero. Métodos mais modernos envolvem a citologia líquida e o teste de HPV de alto risco
Realizar os dois primeiros exames com intervalo anual e, se negativos, repetir a cada 3 anos. Em mulheres sem história de doença neoplásica pré-invasiva, interromper o rastreamento diante de pelo menos dois exames negativos consecutivos nos últimos 5 anos. Para mulheres acima de 64 anos e que nunca realizaram citopatológico, o rastreamento considera 2 exames com intervalo de 1 a 3 anos. Se ambos forem negativos, são dispensados exames adicionais.
 

 

Fonte: Diretrizes para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero, INCA, 2016

Referências: 
 
Monitoramento das ações de controle dos cânceres do colo do útero e de mama. Informativo Detecção Precoce, Rio de Janeiro, ano 4, n. 1, jan./abr. 2013. 

Diretrizes brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede. – 2. ed. rev. atual. – Rio de Janeiro: INCA, 2016.

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