Onconews - Oncoginecologia consolida conceitos

gineco bxSem grandes novidades, o ano foi de consolidação de conceitos. Dois grandes estudos de Fase III que avaliaram monoterapia com olaparibe em pacientes com câncer de ovário com mutação BRCA (SOLO1 e SOLO2) reforçaram evidências de eficácia e segurança deste inibidor de PARP, inclusive em pacientes com câncer peritoneal primário e / ou das trompas de falópio. O ano também consolidou evidências do impacto da vacina contra HPV na redução do risco de câncer do colo do útero invasivo.

Olaparibe alcançou o principal endpoint e demonstrou ganho de sobrevida livre de progressão tanto como tratamento de primeira linha em pacientes com diagnóstico recente de doença avançada (estágio FIGO III-IV) com resposta prévia à terapia baseada em platina (SOLO1)1, quanto como estratégia de manutenção em pacientes politratados, expostos a ≥2 linhas de terapia baseada em platina (SOLO2)2.

Em 5 anos de acompanhamento dessas pacientes no ensaio SOLO1, a sobrevida livre de doença se manteve muito superior no braço tratado com inibidor de PARP, com 48% sem progressão versus 21% do braço placebo. “Em pacientes com câncer de ovário, é mandatório a testagem de BRCA para a indicação do inibidor de PARP olaparibe, já disponível no Brasil”, analisa a oncologista Angélica Nogueira, do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos.

2020 também consolidou evidências sobre a relação entre a vacinação contra o HPV e o risco subsequente de câncer do colo do útero invasivo. Embora a eficácia e efetividade da vacina quadrivalente tenham sido bem demonstradas contra a infecção por HPV, verrugas genitais e lesões cervicais de alto grau (NIC2 + e NIC3+), estudo de Lei J et al. publicado em 1º de outubro no New England Journal of Medicine3 mostrou que a vacinação reduziu substancialmente o risco de câncer do colo do útero invasivo em nível populacional. “Esse estudo aponta para uma redução impressionante de 88% no risco de desenvolver câncer do colo do útero invasivo nas jovens vacinadas quando comparadas com as não vacinadas”, afirma Luisa Lina Villa, chefe do laboratório de Inovação em Câncer do Centro de Investigação Translacional em Oncologia  do Instituto do Câncer de São Paulo (CTO-ICESP), nome de referência em pesquisa do HPV.

No câncer de endométrio, o ano apresentou dados finais do GOG 209, inclusive com a publicação de Miller et al. no Journal of Clinical Oncology4, demonstrando que carboplatina mais paclitaxel (TC)  é  não-inferior ao regime de paclitaxel-doxorrubicina-cisplatina (TAP). “O estudo GOG 209, agora publicado no JCO, demonstrou a não-inferioridade do esquema TC comparado ao TAP. Desde sua apresentação, a combinação de carboplatina e paclitaxel passou a ser utilizada como esquema padrão no câncer de endométrio”, afirma o oncologista Eduardo Paulino, do Instituto Nacional do Câncer (INCA).

Promessas

Entre os highlights da oncoginecologia estão novas promessas no câncer cervical metastático, como o anticorpo droga-conjugado tisotumab vedotin avaliado em ensaio pivotal de Fase II (innovaTV 204)5, que demonstrou taxa de resposta objetiva (ORR) de 24%, com duração mediana da resposta de 8,3 meses (IC 95%: 4,2, não atingido).

A imunoterapia também marcou o ambiente de pesquisa no câncer endometrial. Estudo inicial apresentado no ASCO 20206 mostrou resultados da combinação de cabozantinibe com nivolumabe no câncer de endométrio recorrente. A mediana de sobrevida livre de progressão foi de 5,3 meses no braço de combinação e de 1,9 meses no braço de monoterapia. “O benefício clínico, definido como taxa de resposta objetiva mais doença estável, foi de  69,4% na combinação contra 22,2% com monoterapia”, destacaram os autores.

Referências  

1 - 811MO - Maintenance olaparib for patients (pts) with newly diagnosed, advanced ovarian cancer (OC) and a BRCA mutation (BRCAm): 5-year (y) follow-up (f/u) from SOLO1

2 - Poveda A, Floquet A, Ledermann J, et al: Final overall survival results from SOLO2/ENGOT-ov21: a phase III trial assessing survival after maintenance treatment with the PARP inhibitor olaparib in patients with platinum-sensitive, relapsed ovarian cancer and a BRCA mutation. J Clin Oncol 38:6002, 2019 (15_suppl)

3. HPV Vaccination and the Risk of Invasive Cervical Cancer - Jiayao Lei, Ph.D.,  Pär Sparén, Ph.D. et al - October 1, 2020 - N Engl J Med 2020; 383:1340-1348 - DOI: 10.1056/NEJMoa1917338

4 - Miller et al. Carboplatin and Paclitaxel for Advanced Endometrial Cancer: Final Overall Survival and Adverse Event Analysis of a Phase III Trial (NRG Oncology/GOG0209). DOI: 10.1200/JCO.20.01076

5 - Coleman RL, Lorusso D, Gennigens C, et al: Tisotumab vedotin in previously treated recurrent or metastatic cervical cancer: Results from the phase II innovaTV 204/GOG-3023/ENGOT-cx6 study. ESMO Virtual Congress 2020. Abstract LBA32. Presented September 21, 2020.

6 - A randomized phase II study of cabozantinib and nivolumab versus nivolumab in recurrent endometrial cancer. - Stephanie Lheureux et al - Journal of Clinical Oncology 2020 38:15_suppl, 6010-6010  https://ascopubs.org/doi/abs/10.1200/JCO.2020.38.15_suppl.6010