Experiência do Hospital de Câncer de Barretos mostra superioridade da citologia em base líquida. O estudo RODEO mostrou que o método foi significativamente superior ao esfregaço convencional na detecção de lesões intraepiteliais cervicais escamosas de alto grau.
Enquanto na maior parte do país o exame tradicional de Papanicolao é amplamente utilizado para verificar lesões no colo do útero, o programa de rastreamento do Hospital de Câncer de Barretos utiliza a citologia em base líquida em 100% da sua coleta. O método já é utilizado nos Estados Unidos e Europa em larga escala desde a década de 1990, mas no Brasil ainda não é rotina na maioria dos serviços públicos de saúde.“O material coletado é transferido para a lâmina e analisado de forma padronizada, com uma amostra mais homogênea, diminuindo drasticamente a quantidade de exames com resultados insatisfatórios comparativamente à citologia convencional”, afirma Júlio César Possati Resende, coordenador do Programa de Rastreamento de Câncer do Colo do Útero do Hospital.
Segundo o especialista, quando a citologia convencional é realizada por um laboratório de excelência, com rigoroso controle de qualidade e profissionais experientes, a diferença entre os dois métodos pode não ser tão grande. “Infelizmente essa não é a regra no país, onde temos um conjunto de laboratórios heterogêneos. Nesse cenário, a citologia em meio líquido supera o método tradicional, principalmente pela possibilidade de realizar exames moleculares adicionais com a mesma amostra utilizada para a citologia, além da automação do preparo e possibilidade de leitura guiada, que confere maior agilidade na análise de uma quantidade maior de exames, extremamente importante quando se fala em rastreamento populacional”, diz.
O estudo RODEO
Apesar de não existir consenso sobre a superioridade da citologia em base líquida, a equipe de Barretos verificou um aumento do índice de detecção de lesões intraepiteliais escamosas cervicais de alto grau em base líquida em relação ao método convencional. Os dados foram compilados no estudo RODEO. As amostras de 3071 mulheres analisadas (1604 no método convencional e 1467 na citologia em base líquida) e por colposcopia foram colhidas em 2011. O estudo demonstrou que tanto a detecção de lesões intraepiteliais de baixo grau como de alto grau foi significativamente maior (p=0,04 e p=0,033, respectivamente) no braço da citologia em meio líquido [84 casos de baixo grau (5,7%) e 148 casos de alto grau (10,1%)] em comparação ao esfregaço convencional [66 casos de baixo grau (4,1%) e 126 casos de alto grau (7,9%)]. “O RODEO sedimentou o nosso conhecimento”, afirma Possati.
Novas estratégias
Nos países desenvolvidos o rastreamento de câncer de colo uterino tem se modificado rapidamente nos últimos anos e novas tecnologias têm sido propostas em associação ao teste de Papanicolao, seja convencional ou em meio líquido, como por exemplo os testes moleculares de pesquisa de HPV, além de biomarcadores como o P16, KI-67, TOP2 alpha e o MCM2.
“Em casos selecionados, sobretudo em exames com achados indeterminados, o Hospital de Barretos já realiza rotineiramente testes moleculares para verificar a infecção pelos principais tipos de HPV do grupo oncogênico, e a utilização da citologia em meio líquido favorece a introdução dos testes moleculares e biomarcadores no rastreio populacional de câncer cervical”, explica Possati.
Apesar das Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero não preverem a utilização dos testes para HPV no rastreamento primário, a expectativa é que a próxima atualização que será publicada em breve posa recomendar o seu emprego em algumas situações específicas que demonstram superioridade ao teste citológico.