A identificação do momento preciso para integrar cuidados paliativos ao tratamento do câncer deve ser abordada individualmente, considerando os fatores prognósticos de cada paciente e de cada câncer específico e seus subtipos. A recomendação é de Sampetrean et al. no ESMO Open, em análise que enfatiza a importância de alinhar a integração dos cuidados paliativos com os objetivos da medicina de precisão em oncologia.
Estudos têm demonstrado benefícios da integração precoce de cuidados paliativos para pacientes diagnosticados com câncer avançado, incluindo melhoria da qualidade de vida através da melhor gestão dos sintomas e apoio psicossocial, melhores taxas de sobrevida e intervenções médicas menos agressivas durante a fase de fim de vida. No entanto, os autores apontam que grande parcela de encaminhamentos na prática clínica ainda ocorre durante as últimas semanas de vida dos pacientes. “Parte disto deve-se à percepção errada de que os cuidados paliativos se destinam exclusivamente à gestão do fim da vida, agravada pela falta de modelos de previsão confiáveis para estimar a evolução da doença “, descrevem.
Sampetrean e colegas lembram que atualmente não existem recomendações definitivas sobre o momento ideal para o encaminhamento de pacientes oncológicos para cuidados paliativos. Embora as diretrizes da Sociedade Americana de Oncologia Clínica sugiram o encaminhamento dentro de 8 semanas após um diagnóstico de câncer avançado, a aplicação generalizada de tais recomendações pode não ser a abordagem mais apropriada.
“Defendemos a adoção personalizada de cuidados paliativos, que envolve a incorporação de biomarcadores prognósticos e preditivos”, propõem. “Além disso, a medicina de precisão deve integrar diversas fontes de informação para prever tanto a mortalidade precoce quanto os resultados de sobrevida a longo prazo. Por exemplo, poderíamos considerar a integração de cuidados paliativos após o fracasso das terapias direcionadas disponíveis em pacientes com tumores dependentes de oncogene, ou uma integração precoce com visitas mais frequentes em caso de progressão primária sob terapia direcionada”, ilustram os autores. Sampetrean et al. lembram que entre os pacientes com câncer do pulmão avançado elegíveis para quimioimunoterapia, aproximadamente metade está em risco de progressão nos primeiros 6 meses, enquanto alguns pacientes com resposta prolongada continuam a apresentar resultados positivos durante anos.
“O esforço para discernir trajetórias distintas de doenças, guiado pelos princípios da medicina de precisão, pode facilitar o desenvolvimento de algoritmos para personalizar o tratamento com base nas características únicas dos pacientes. Esta abordagem individualizada enfatiza a importância do timing e da personalização na integração dos cuidados paliativos, alinhando-se com os objetivos mais amplos da medicina de precisão em oncologia”, destacam.
Referências: Open Access Published:September 25, 2023. DOI:https://doi.org/10.1016/j.esmoop.2023.101632