Artigo de Adler et al. publicado 19 de agosto no NEJM Journal Watch discutiu os resultados do estudo de Zhang L et al sobre ablação guiada por ultrassom endoscópico em tumores pancreáticos. A revisão sustenta que a taxa de sucesso clínico de procedimentos de ablação é encorajadora e que a maioria dos eventos adversos foram leves e tratados com medicamentos, mas ressalva que muitos dos estudos incluídos na meta-análise foram pequenos e com acompanhamento limitado. “Embora o estudo sugira que a ablação guiada por EUS é eficaz, os critérios aplicados para definir o sucesso clínico devem ser analisados para melhor avaliar a eficácia do método”, observa Marianny Sulbaran (foto), endoscopista do HCFMUSP.
.Atualmente, a ressecção cirúrgica é opção para pacientes com tumores pancreáticos ressecáveis > 2 cm. A meta-análise dos pesquisadores chineses considerou pacientes com tumores pequenos (<2 cm) e não elegíveis à cirurgia, especialmente casos de tumores neuroendócrinos e de câncer pancreático localmente avançado. Foram analisados 14 estudos que cumpriram os critérios de inclusão e um total de 158 pacientes, submetidos a diferentes técnicas: ablação por radiofrequência, ablação com etanol, injeção esclerosante e terapia a laser. O sucesso clínico foi definido como ablação completa da lesão (redução de > 50% no tamanho) ou ausência de sintomas relacionados ao hormônio.
“A ablação de tumores sólidos guiada por ultrassom endoscópico (EUS) tem sido realizada há vários anos, mas não foi amplamente adotada porque muitos endoscopistas não têm experiência com as ferramentas e técnicas ou não estão familiarizados com a eficácia dos procedimentos”, analisam Adler et al, ao discutir os resultados da meta-análise. A taxa combinada de sucesso clínico foi de 85,9% e a taxa combinada de eventos adversos foi de 29,1%.
Quando estratificada de acordo com a técnica empregada, a taxa de sucesso clínico para ablação por radiofrequência guiada por EUS e ablação por etanol guiada por EUS foi de 83,5% e 87,9%, respectivamente, e a taxa de eventos adversos foi de 32,2% e 21,2%, respectivamente. Dor abdominal, pancreatite e formação de coleção de líquido pancreático foram os eventos adversos mais comuns.
Para Marianny, considerando a alta taxa de eventos adversos, os riscos do método podem superar os benefícios. “Estudos com seguimento mais prolongado devem ser realizados para avaliar a resposta em relação a taxa de recorrência, e este critério deve ser incluído para definir melhor o sucesso clínico do método. A ablação de tumores sólidos pequenos guiada por EUS é uma modalidade promissora, especialmente em pacientes idosos e não candidatos à cirurgia. No entanto, o método deve ser aprimorado e refinado para reduzir as complicações”, ressalta a endoscopista.
“Este estudo produziu resultados mistos. Por um lado, a taxa de sucesso clínico para esses procedimentos de ablação é encorajadora, visto que a ablação guiada por EUS é mais provável de ser realizada em pacientes que não são candidatos à cirurgia ou apresentam alto risco cirúrgico. Por outro lado, a taxa de eventos adversos é alta.
Ainda assim, a maioria dos eventos adversos foram leves e tratados com medicamentos”, concluem Adler et. al.
O comentário da NEJM Journal Watch destaca que o principal problema da meta-análise de Zhang L et al é que muitos dos estudos incluídos eram pequenos com acompanhamento limitado. “Além disso, as ferramentas e técnicas para ablação guiada por EUS não são padronizadas. No geral, o estudo dá crédito à noção de que a ablação guiada por EUS é eficaz, mas estudos maiores com métodos padronizados são necessários”, recomendam.
Referências
Zhang L et al. The safety and efficacy of endoscopic ultrasound-guided ablation therapy for solid pancreatic tumors: A systematic review. Scand J Gastroenterol 2020 Jul 30; 1; [e-pub]. (https://doi.org/10.1080/00365521.2020.1797870)
Endoscopic Ultrasound Ablation of Solid Pancreatic Tumors - Douglas G. Adler, MD, FACG, AGAF, FASGEreviewing Zhang L et al. Scand J Gastroenterol 2020 Jul 30