Onconews - Quimioterapia metronômica paliativa no câncer de cabeça e pescoço

Aline Chaves NET OKEstudo randomizado de Fase III conduzido no Tata Memorial Center, na Índia, mostrou que quimioterapia metronômica oral não é inferior à cisplatina intravenosa no que diz respeito à sobrevida global em câncer de cabeça e pescoço no cenário paliativo e está associada a menos eventos adversos. “Representa um novo padrão de tratamento alternativo quando as opções atualmente aprovadas pela NCCN para terapia paliativa não forem viáveis “, destacam os autores, em artigo no Lancet Global Health. A oncologista Aline Chaves (foto), presidente do Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço (GBCP) e médica da clínica DOM Oncologia, comenta o trabalho.

Neste ensaio clínico de Fase III aberto, randomizado, de não-inferioridade, foram considerados pacientes adultos que planejavam receber tratamento sistêmico paliativo para carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço recorrente, metastático  ou tumores inoperáveis recém-diagnosticado, com bom status performance (ECOG de 0-1) e doença mensurável por RECIST v 1.1.

Os pacientes foram randomizados (1: 1) para receber quimioterapia metronômica oral, consistindo em 15 mg/m2 de metotrexato uma vez por semana associado acelecoxibe 200mg duas vezes ao dia, até progressão da doença ou toxicidade intoleráveis, ou 75 mg/m2 de cisplatina intravenosa uma vez a cada 3 semanas, durante seis ciclos. Os pacientes foram estratificados por local do tumor primário e tratamento prévio. O endpoint primário foi sobrevida global. Assumindo que a sobrevida global de 6 meses no grupo da cisplatina intravenosa seria de 40%, foi definida uma margem de não inferioridade de 13%.

Resultados

Entre 16 de maio de 2016 e 17 de janeiro de 2020, 422 pacientes foram randomizados, 213 para o grupo de quimioterapia metronômica oral e 209 para o grupo de cisplatina intravenosa. Todos os 422 pacientes foram incluídos na análise de intenção de tratar, e 418 pacientes (211 no grupo de quimioterapia metronômica oral e 207 no grupo de cisplatina intravenosa) foram incluídos na análise por protocolo.

Em um acompanhamento médio de 15,73 meses, a sobrevida global mediana na análise por intenção de tratar foi de 7,5 meses no grupo de quimioterapia metronômica oral em comparação com 6,1 meses no grupo da cisplatina intravenosa (HR não ajustado para óbito 0,773 [IC de 95% 0 · 615–0 · 97, p = 0 · 026]).

Na população da análise por protocolo, a sobrevida global mediana foi de 7,5 meses no grupo de quimioterapia metronômica oral e de 6,1 meses (3,4–9,6) no grupo de cisplatina intravenosa (HR não ajustado para morte 0,775 [IC 95% 0,616–0,974, p = 0,029]). Eventos adversos de grau 3 ou superior foram observados em 37 (19%) de 196 pacientes no grupo de quimioterapia metronômica oral versus 61 (30%) de 202 pacientes no grupo de cisplatina intravenosa (p = 0,01).

“A quimioterapia metronômica oral não é inferior à cisplatina intravenosa no que diz respeito à sobrevida global em câncer de cabeça e pescoço no cenário paliativo e está associada a menos eventos adversos. Portanto, representa um novo padrão alternativo de tratamento se as opções atuais aprovadas pela NCCN para terapia paliativa não forem viáveis”, concluem os autores.

“Este estudo indiano levanta a possibilidade de uma nova terapia metronômica com melhor sobrevida e tolerabilidade. Apesar de positivo, chama atenção os dados de sobrevida quando comparados aos tratamentos padrões, principalmente se incluirmos a segunda linha nestes casos com imunoterapia, nos quais os pacientes podem atingir até 21 meses de sobrevida mediana”, afirma Aline.

A oncologista explica que o tratamento padrão do carcinoma epidermoide de cabeça e pescoço recidivado ou metastático sensível a platina é baseado na imunoterapia (associada ou não à quimioterapia) ou cetuximabe associado à quimioterapia – individualizado pela expressão de PDL1. “Porém, ambos tratamentos são associados a alto custo, o que muitas vezes os tornam não acessíveis aos pacientes, principalmente no sistema público de saúde. A discussão de acesso deve estar na pauta do dia na oncologia de cabeça e pescoço, assim como para os demais tumores, favorecendo nossos pacientes”, conclui.

Referência: Patil, V., Noronha, V., Dhumal, S. B., Joshi, A., Menon, N., Bhattacharjee, A., … Prabhash, K. (2020). Low-cost oral metronomic chemotherapy versus intravenous cisplatin in patients with recurrent, metastatic, inoperable head and neck carcinoma: an open-label, parallel-group, non-inferiority, randomised, phase 3 trial. The Lancet Global Health, 8(9), e1213–e1222. doi:10.1016/s2214-109x(20)30275-8