De acordo com uma pesquisa apresentada no 57° Congresso Anual da Sociedade Americana de Radiação Oncológica (ASTRO), uma abordagem colaborativa de equipes de radioterapia e cuidados paliativos baseada nos relatos de pacientes resulta em uma melhor gestão de sintomas, menos hospitalizações e diminuição dos custos para pacientes com câncer em estágio terminal.
Os dados também mostraram que através da radioterapia paliativa, que inclui doses maiores e mais curtas de RT, muitos pacientes experimentam alívio da dor em uma semana de tratamento.
A partir de 2012, pesquisadores da University of Virginia Health System desenvolveram um programa integrado de assistência para pacientes com câncer avançado que utilizou informações dos relatos dos pacientes para melhorar a saúde e a qualidade de vida e reduzir os custos de cuidados. O programa enfatizou a redução de internações e melhoria da gestão ambulatorial dos pacientes. A coleta dos relatos foi iniciada em outubro de 2013, após uma fase piloto concluída em fevereiro de 2013.
Um questionário para os pacientes sobre seu estado emocional e físico foi incorporado ao sistema eletrônico de registros médicos. A equipe de cuidados paliativos era alertada pelo sistema para relatar mudanças clinicamente significativas no estado do paciente.
Um total de 646 pacientes com câncer foram incluídos no programa CARE Track. Dados de fim de vida de 368 pacientes inscritosforam comparados com os dados de 198 pacientes em fim de vida não inscritos (grupo controle). Os pacientes acompanhados pelo programa tiveram significativamente menos internações no fim de vida, com 48,3% de hospitalizações nos últimos 90 dias de vida, em comparação com 64% no grupo controle. Além disso, os pacientes inscritos no CARE Track receberam mais cuidados em hospices do que o grupo controle (69,6% em comparação com 47%), o que resultou em menos mortes hospitalares para esse grupo (8,4% vs. 38,5%). Essa diferença nos cuidados de fim de vida resultou em uma redução do custo total médio de $7.317 por paciente nos últimos 90 dias de vida.
Um comitê multidisciplinar de cuidados de suporte também foi desenvolvido e se reuniu semanalmente para desenvolver planos de cuidados rápidos e coordenados para pacientes altamente sintomáticos. Para responder mais rapidamente ao controle da dor, a equipe desenvolveu o STAT RAD - um fluxo de trabalho mais rápido para a radioterapia paliativa para pacientes com metástases ósseas, com o objetivo de acelerar o curso de tratamento. Ao invés de duas a três semanas de tratamento, a proposta é promover o tratamento radioterápico de um dia, com um tratamento altamente focado para reduzir a toxicidade.
O ensaio clínico piloto STAT RAD envolveu 28 pacientes, cada um com uma a três metástases ósseas dolorosas (37 lesões-alvo) e recebeu RT de 5 a 10 Gy por fração, entre duas e cinco frações. Uma média de 21,6 Gy em 3.1 frações foi administrada. A resposta à dor dos pacientes no programa STAT RAD foi avaliada por meio do International Bone Metastasis Consensus Working Party; e a qualidade de vida (QV) foi avaliada usando a Functional Assessment of CancerTherapy – Bone Pain Scale. Os pacientes relataram 80% a 90% de alívio da dor, com benefícios significativos na qualidade de vida. Um segundo ensaio clínico ainda está avaliando pacientes e explorando a fração única de STAT RAD com aumento de dose de 8 Gy para 15 Gy para que todo o curso da simulação, planejamento, garantia de qualidade e tratamento possam ser concluídos em um único procedimento por paciente, com cerca de 3 a 4 horas de duração.
"Se ouvirmos nossos pacientes com atenção, conversarmos com eles sobre a evolução das suas necessidades médicas e emocionais e desenvolvermos planos de tratamento rápidos e coordenados podemos melhorar sua qualidade de vida e reduzir a necessidade de hospitalização para tratamento dos sintomas no final da vida", disse Paul W. Read, principal autor do estudo e professor de radiação oncológica na Universidade de Virginia Health System. "A integração do prontuário, com registros médicos eletrônicos e um atendimento clínico de rotina, pode ser feito na maioria dos sistemas hospitalares. O conceito de Tumor Board para o planejamento de cuidados multidisciplinares na assistência de pacientes com câncer curável já é praticado e é possível estender este conceito para a gestão de cuidados paliativos”, propõe Read.
Referência: Outcomes of a Re-engineered Palliative Care and Radiation Therapy Care Model