Independentemente do tipo de câncer e das formas de diagnóstico e tratamento, é inegável a dificuldade do paciente negro aos cuidados oncológicos por razões de natureza social e econômica. É o que descreve estudo publicado na Revista Brasileira de Cancerologia, indicando que a dificuldade é ainda maior na acessibilidade ao diagnóstico precoce, como o rastreamento mamográfico e a citologia de Papanicolau.
Neste estudo de revisão integrativa, 13 artigos cumpriram os critérios de busca nas bases PubMed, LILACS e Embase, em uma análise que levou em conta quatro sítios tumorais: câncer de mama, câncer ginecológico, de próstata e de cavidade oral.
A conclusão não surpreende e dimensiona a urgência de discutir a acessibilidade da população negra às ações de prevenção e controle do câncer no Brasil. “As desigualdades raciais e socioeconômicas se refletem nas ações de acessibilidade ao cuidado oncológico, majoritariamente na detecção precoce”, sustentam os autores, que apontam caminhos para vencer esse cenário. “Os profissionais de saúde deveriam assegurar o atendimento à população negra no mesmo nível prestado aos demais grupos para garantir e superar as barreiras de acesso aos bens e serviços de saúde”, descreve o artigo.
O estudo é de Janaina Santos Paulista e Paula Gonçalves Assunção, especialistas em Oncologia pelo INCA, e tem como autor sênior Fernando Lopes Tavares de Lima, Coordenador de Ensino do INCA. “O principal desafio para médicos envolvidos na prevenção e tratamento do câncer é atingir e sensibilizar de maneira efetiva o maior público brasileiro: negros e pardos”, destaca Janaina, que discutiu o tema em trabalho desenvolvido durante a Residência Multiprofissional no INCA . “A questão racial ainda é menosprezada, mesmo reconhecida como um fator de exclusão que tem impacto na prevenção e no tratamento do câncer. Se não ampliarmos nosso olhar para além dos consultórios, continuaremos tratando mulheres e homens negros com casos de neoplasia avançada, distantes das políticas de prevenção e assistência”, diz a pesquisadora.
Referência: Santos Paulista J, Gonçalves Assunção P, Lopes Tavares de Lima F. Acessibilidade da População Negra ao Cuidado Oncológico no Brasil: Revisão Integrativa. Rev. Brasileira.De.Cancerologia [Internet]. 27º de janeiro de 2020 [citado 5º de março de 2020];65(4):e-06453. - Doi: https://doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2019v65n4.453