Onconews - Amamentação e risco de câncer de ovário

PILAR OFICIAL NET OKA amamentação está associada a uma redução significativa no risco de câncer de ovário em geral e à redução do subtipo seroso de alto grau, o tipo mais letal de câncer de ovário. É o que mostram dados de artigo reportado no Jama Oncology, indicando que a amamentação pode diminuir o risco de câncer de ovário, independentemente da gravidez. “Este é um fator de risco potencialmente modificável, de grande impacto, em linha com as orientações internacionais para estímulo à amamentação”, avalia a oncologista Maria Del Pilar Estevez Diz (foto), Diretora de Corpo Clínico do ICESP/FMUSP e médica da Rede D’Or.

“O câncer de ovário está dentre os mais agressivos em mulheres, sendo a principal causa por câncer ginecológico em países desenvolvidos. Há poucas estratégias de prevenção eficientes e não há exames de rastreamento capazes de reduzir a incidência e mortalidade, sendo um grande desafio”, afirma Pilar.

Nesta análise agrupada, incluindo 9973 mulheres com câncer de ovário e 13843 controles de 13 estudos, a amamentação foi associada a um risco 24% menor de câncer de ovário epitelial invasivo. Maior duração da amamentação e menor tempo desde o último episódio de amamentação foram associados a uma diminuição adicional do risco.

Os pesquisadores consideraram o histórico de amamentação, incluindo a duração por criança amamentada, a idade da primeira e da última amamentação e os anos desde a última amamentação. Os dados foram coletados de novembro de 1989 a dezembro de 2009 e a análise ocorreu de setembro de 2017 a julho de 2019. Odds ratio (ORs) e ICs de 95% foram calculados por meio de regressão logística multivariável e regressão logística politômica para avaliar associações com subtipos histológicos específicos. 

Resultados

Um total de 9973 mulheres com câncer de ovário (idade média de 57,4 anos) e 13843 controles (idade média de 56,4 anos) foram incluídas. A amamentação foi associada a um risco 24% menor de câncer de ovário invasivo (odds ratio [OR], 0,76; IC 95%, 0,71-0,80). Independente da paridade, a amamentação esteve associada à redução do risco de todos os tipos de câncer de ovário invasivo, principalmente o seroso de alto grau e o endometrioide.

Para um único episódio de amamentação, a duração média de 1 a 3 meses foi associada a um risco 18% menor (OR, 0,82; IC 95%, 0,76-0,88), enquanto a amamentação por 12 meses ou mais foi associada a um risco 34% menor (OR, 0,66; IC 95%, 0,58-0,75). A amamentação mais recente foi associada a uma redução no risco (OR 0,56; IC 95% 0,47-0,66 por <10 anos) que persistiu por décadas (OR 0,83; IC 95% 0,77-0,90 por ≥ 30 anos; P por tendência = 0,02).

“Este grande estudo com informações abrangentes sobre amamentação fornece evidências epidemiológicas de que a amamentação, um fator potencialmente modificável, pode conferir redução significativa no risco de câncer de ovário, incluindo o seroso de alto grau, o subtipo mais mortal”, destacam os autores.

Nesta análise, os pesquisadores explicam que o aleitamento materno tem sido associado a um risco reduzido de câncer epitelial de ovário em vários estudos, mas outros não mostraram associação. Além disso, não havia evidências consistentes discriminando se a redução de risco era fornecida apenas pela gravidez, se havia diferenças de acordo com o tipo histológico.

Pilar reforça que a análise é importante pois os estudos isolados apresentavam resultados divergentes com relação à redução do risco de câncer de ovário, além de não estar claro qual o tempo de amamentação estaria relacionado a essa redução do risco. “Neste estudo os pesquisadores associaram a redução de risco à amamentação e puderam concluir que ela é um fator redutor de risco para o carcinoma invasivo de ovário (OR 0,76, IC 95%= 0,71- 0,80) e para os tumores borderline (OR= 0,72, 95% CI 0,64- 0,81). Esse benefício foi demonstrado mesmo em mulheres que amamentaram em uma única gestação, e também foi possível associar o tempo de amamentação à proteção: redução de risco em 18% com 1 a 3 meses de amamentação e de 34% se o período for > a 12 meses”, observa.

A especialista acrescenta que outro dado relevante é a proteção demonstrada tanto para amamentação mais recente (<10 anos) quanto mais antiga, até 30 anos. “Este é um fator de risco potencialmente modificável, de grande impacto, em linha com as orientações internacionais para estímulo à amamentação”, conclui.

Referência: Babic A, Sasamoto N, Rosner BA, et al. Association Between Breastfeeding and Ovarian Cancer Risk. JAMA Oncol. Published online April 02, 2020. doi:10.1001/jamaoncol.2020.0421