Maria Auxiliadora de Paula Carneiro Cysneiros, da Divisão de Suporte Diagnóstico e Terapêutico do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), é autora correspondente de estudo que analisa o ambiente imune do adenocarcinoma pancreático e sua associação com características clínicas e patológicas. Além da UFG, o trabalho tem participação de pesquisadores da UNIFESP e da USP de Ribeirão Preto, com resultados que trazem novos insights sobre os desafios terapêuticos no adenocarcinoma pancreático, demonstrando como células imunes e moléculas imunoinibitórias impactam sua evolução e prognóstico.
Nesta análise, Cysneiros e colegas descrevem o adenocarcinoma pancreático como uma neoplasia extremamente agressiva, caracterizada por um ambiente majoritariamente imunossuprimido, com células imunes disfuncionais e vias imunoinibitórias ativas que favorecem a evasão e progressão tumoral. “Assim, o estudo e a compreensão do microambiente tumoral e dos vários subtipos celulares e suas capacidades funcionais são essenciais para alcançar tratamentos mais eficazes, principalmente com o uso de novos imunoterápicos”, destacam.
Os pesquisadores consideraram 70 casos de adenocarcinoma pancreático divididos em dois grupos, 43 com doença ressecável e 27 com doença irressecável. Todos foram analisados em relação à expressão de ligante de morte celular programada 1 (PD-L1), ligante de morte celular programada 2 (PD-L2) e moléculas de antígeno leucocitário humano G (HLA-G) usando métodos imuno-histoquímicos. A análise também considerou as populações de linfócitos T CD4+ e CD8+, células T reguladoras (Tregs) e macrófagos M2 (MM2).
Os resultados foram relatados na PlosOne e indicam que a presença de linfócitos T CD8+ e macrófagos M2 predominaram no grupo com doença ressecável, enquanto a expressão de PD-L2 predominou no grupo irressecável. PD-L2 foi associado ao estágio T, metástase de linfonodo e estadiamento clínico, enquanto na análise de sobrevida, PD-L2 e HLA-G foram associados a menor sobrevida. Nos casos irressecáveis, células Tregs, MM2, PD-L1, PD-L2 e HLA-G foram positivamente correlacionadas.
“A expressão de PD-L2 e HLA-G correlacionou-se com pior sobrevida nos casos estudados. O microambiente tumoral foi caracterizado por um padrão imunossuprimido, principalmente em lesões irressecáveis, onde uma ampla influência positiva foi observada entre células imunoinibitórias e proteínas de checkpoint imune expressas por células tumorais”, concluem os autores.
Embora o tratamento de diferentes malignidades tenha mostrado progresso importante com avanços na imunoterapia, Cysneiros e colegas sublinham que o câncer pancreático continua respondendo mal às terapias disponíveis, refletindo o complexo microambiente tumoral dessa neoplasia.
Ao lado da pesquisadora da UFG, o trabalho tem participação de Magno Belém Cirqueira, Lucas de Figueiredo Barbosa, Ênio Chaves de Oliveira, Lucio Kenny Morais, Isabela Jubé Wastowski e Vitor Gonçalves Floriano.
Referência:
Cysneiros MAdPC, Cirqueira MB, Barbosa LdF, Chaves de Oliveira Ê, Morais LK, Wastowski IJ, et al. (2024) Immune cells and checkpoints in pancreatic adenocarcinoma: Association with clinical and pathological characteristics. PLoS ONE 19(7): e0305648. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0305648