O estudo de fase III TOPAZ-1 mostrou benefício de sobrevida com durvalumabe mais gemcitabina e cisplatina em pacientes com câncer do trato biliar avançado. Análise retrospectiva multicêntrica global mostrou resultados de eficácia e tolerabilidade dessa combinação no mundo real, com achados que apoiam o uso de gemcitabina, cisplatina e durvalumabe como um padrão de tratamento de primeira linha para essa população de pacientes. “Esta primeira análise global do mundo real confirmou amplamente os resultados do TOPAZ-1”, destacam os autores, que apontam sobrevida global mediana de 15,1 meses e mediana de sobrevida livre de progressão de 8,2 meses. O oncologista Duílio Rocha Filho (foto) comenta os resultados.
Neste estudo, foram incluídos pacientes com câncer do trato biliar irressecável, localmente avançado ou metastático tratados com durvalumabe, gemcitabina e cisplatina em 39 locais em 11 países (Europa, Estados Unidos e Ásia). O endpoint primário foi a sobrevida global (SG).
Os resultados foram relatados por Andrea Casadei-Gardini e colegas no European Journal of Cancer, refletindo uma base analítica de 666 pacientes inscritos. Os autores descrevem que a SG mediana foi de 15,1 meses e a sobrevida livre de progressão (SLP) mediana foi de 8,2 meses. A taxa de resposta global avaliada pelo investigador foi de 32,7%, com doença estável em 45,2% dos pacientes. Altos níveis basais de CEA, ECOG PS >0, doença metastática e razão neutrófilo-linfócito (NLR) >3 foram associados a baixa sobrevida.
Em relação à segurança, eventos adversos (EAs) de qualquer grau ocorreram em 92,9% dos pacientes (grau >2: 46,6%). EAs relacionados ao sistema imunológico (irAEs) ocorreram em 20,0% (grau >2: 2,5%). Três mortes (0,5%) foram consideradas relacionadas ao tratamento, nenhuma ligada à imunoterapia. Os eventos adversos imunorrelacionados mais frequentes foram erupção cutânea (8,2% todos os graus; 0,3% grau >2), coceira (10,3% todos os graus; 0,2% grau >2) e hipotireoidismo (5,1% todos os graus; 0,3% grau >2). A taxa de descontinuação de durvalumabe devido a EAs foi de 1,5%.
A análise também considerou os genes recomendados pela ESMO e nenhuma diferença foi encontrada nos resultados. Análise comparativa com uma coorte histórica de pacientes tratados apenas com quimioterapia confirmou o impacto positivo na sobrevida da combinação do anti PD-L1 durvalumabe com cisplatina/gemcitabina.
Em síntese, os autores concluem que esse achados em cenário de mundo real apoiam gemcitabina, cisplatina e durvalumabe como um padrão de tratamento de primeira linha para pacientes com câncer do trato biliar avançado, confirmando o benefício de eficácia e segurança da combinação demonstrado no ensaio de fase III TOPAZ-1.
O estudo em contexto
Por Duílio Rocha Filho, Chefe do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital Universitário Walter Cantídio – Universidade Federal do Ceará
A combinação de gemcitabina, cisplatina e durvalumabe é o atual padrão de tratamento para pacientes com carcinoma de vias biliares avançado, baseado no ensaio clínico de fase III TOPAZ-1. Neste estudo, a adição do durvalumabe à quimioterapia aumentou a sobrevida mediana de 11,3 para 12,9 meses, quando comparado com quimioterapia isolada. Adicionalmente, os autores identificaram que a diferença entre os braços aumenta ao longo do tempo de seguimento. Ao fim de três anos, a proporção de pacientes vivos aumentou de 6,9% no grupo controle para 14,6% no braço experimental.
O número e a importância de estudos de vida real (RWE) têm aumentado rapidamente na última década. Quando conduzidos de forma adequada, RWE fornecem informações valiosas para conferir validação externa aos estudos clínicos e permitir a avaliação de questões que não são respondidas pelos ensaios.
Em uma grande avaliação retrospectiva, que incluiu 666 doentes de 11 países, Casadei-Gardini et al oferecem uma perspectiva nova sobre pacientes de vida real tratados com gemcitabina, cisplatina e durvalumabe. Os autores encontraram uma SG mediana de 15,1 meses nos doentes analisados, o que se assemelha ao resultado do estudo TOPAZ-1. Adicionalmente, os dados de vida real de sobrevida livre de progressão e taxa de resposta também reproduzem os achados do ensaio de fase III, com números que chegam a favorecer o estudo de via real, além de corroborar a segurança do regime terapêutico.
Os dados da publicação de Casadei-Gardini et al se comparam favoravelmente com múltiplos estudos de fase III com quimioterapia exclusiva, que encontravam sobrevidas medianas consistentemente abaixo de 12 meses, e reforçam o papel da adição de durvalumabe ao tratamento inicial do carcinoma de vias biliares avançado.
Referência:
Published: June 30, 2024 DOI: https://doi.org/10.1016/j.ejca.2024.114199