Onconews - Efeito preventivo do treinamento neuromuscular na neuropatia induzida por quimioterapia

O treinamento neuromuscular pode diminuir o impacto da neuropatia periférica induzida por quimioterapia (NPIQ)? Ensaio clínico randomizado mostrou que a estratégia diminuiu o aparecimento de NPIQ em 50% a 70%, dependendo do agente neurotóxico utilizado. “O potencial da atividade física é enormemente subestimado”, disse Fiona Streckmann (foto), pesquisadora principal do estudo e assistente de pesquisa na Universidade de Basileia, na Suíça. O trabalho foi publicado no JAMA Internal Medicine.

A neuropatia periférica induzida por quimioterapia (NPIQ) é um efeito adverso altamente prevalente e clinicamente relevante da quimioterapia, impactando negativamente a qualidade de vida do paciente. A falta de opções preventivas ou terapêuticas eficazes em relação à NPIQ muitas vezes exige mudanças na terapia do câncer, impactando potencialmente em redução da sobrevida.

Nesse ensaio clínico prospectivo multicêntrico randomizado (STOP), o objetivo foi determinar se o treinamento sensório-motor (TSM) e o treinamento de vibração de corpo inteiro (VCI) reduzem os sintomas e diminuem o aparecimento da neuropatia periférica induzida por quimioterapia.

Os pesquisadores acompanharam pacientes durante 5 anos em 4 centros na cidade de Colônia, Alemanha, e em cidades próximas. Foram recrutados pacientes em tratamento com oxaliplatina ou alcaloides da vinca. Os participantes foram recrutados entre maio de 2014 e novembro de 2020. Os dados foram analisados ​​pela última vez em junho de 2021.

Os participantes dos grupos de intervenção realizaram sessões supervisionadas de treinamento sensório-motor (TSM) ou treinamento de vibração de corpo inteiro (VCI) duas vezes por semana, cada uma com duração aproximada de 15 a 30 minutos, concomitante à terapia médica.

O endpoint primário foi a incidência de NPIQ. Os endpoints secundários incluíram sintomas subjetivos de neuropatia, controle do equilíbrio, níveis de atividade física, qualidade de vida e desfecho clínico. Para avaliações entre estratos, foi utilizado o teste de Mantel-Haenszel (MH) e, dentro dos estratos individuais, foi utilizado o teste exato de Fisher para análise.

Resultados

Um total de 1.605 pacientes foram selecionados e 1.196 pacientes não atenderam a todos os critérios de inclusão, com 251 excluídos ou recusando a participação. Um total de 158 pacientes (idade média [DP], 49,1 [18,0-82,0] anos; 93 [58,9%] homens) foram randomizados em 1 de 3 grupos: 55 (34,8%) em TSM; 53 (33,5%) em VCI e 50 (31,6%) em tratamento usual (TU).

A incidência de NPIQ nos participantes foi significativamente menor em ambos os grupos de intervenção em comparação com o grupo controle (TU): (TSM, 12 de 40 [30,0%; IC 95%, 17,9%-42,1%] e VCI, 14 de 34 [41,2 %; IC 95%, 27,9%-54,5%] versus TU, 24 de 34 [IC 95%, 58,0%-83,2%]; os pacientes que receberam alcaloides da vinca e realizaram TSM foram os mais beneficiados.

Os resultados foram mais pronunciados em uma análise por protocolo (>75% de participação na intervenção) (TSM, 8 de 28 [28,6%; IC 95%, 16,6%-40,5%] e VCI, 9 de 24 [37,5%; 95 % CI, 24,4%-50,5%] versus TU, 22 de 30 [73,3%; IC 95%, 61,6%-85,6%]). Melhorias a favor do TSM em comparação ao TU foram encontradas para controle do equilíbrio bípede com olhos abertos; equilíbrio bípede com olhos fechados; monopedal, sensibilidade à vibração, sensação de tato, força da perna, redução da dor, sensação de queimação, redução da dose de quimioterapia e mortalidade.

“Este ensaio clínico randomizado fornece evidências iniciais de que o treinamento neuromuscular diminui o aparecimento de neuropatia periférica induzida por quimioterapia e representa um avanço substancial no seu manejo e nos cuidados de suporte em oncologia”, concluíram os autores.

O estudo está registrado em German Clinical Trials, DRKS00006088.

Referência:

Streckmann F, Elter T, Lehmann HC, et al. Preventive Effect of Neuromuscular Training on Chemotherapy-Induced Neuropathy: A Randomized Clinical Trial. JAMA Intern Med. Published online July 01, 2024. doi:10.1001/jamainternmed.2024.2354