Onconews - Análise de mundo real não mostra impacto do subtratamento em pacientes idosas selecionadas com câncer de mama inicial

Estudo de mundo real analisou dados do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) e demonstrou que as taxas de subtratamento foram altas em pacientes idosas com câncer de mama inicial, mas os resultados não foram impactados negativamente. “Não oferecer quimioterapia (neo)adjuvante pode ser uma escolha sensata para pacientes idosos selecionados com câncer de mama inicial, levando em consideração suas comorbidades e estado funcional”, afirmam os autores em artigo publicado no periódico Clinical Breast Cancer. A oncologista Jéssica Monteiro Vasconcellos (foto) é a primeira autora do trabalho.

O tratamento do câncer de mama em pacientes idosas continua sendo um tópico de debate entre especialistas, com preocupações quanto ao potencial subtratamento. Este estudo de coorte retrospectivo buscou avaliar o impacto do subtratamento nos resultados em pacientes mais velhas com câncer de mama em estágio inicial.

O estudo analisou pacientes com mais de 70 anos com câncer de mama em estágio inicial tratadas em um centro acadêmico de câncer entre 2009 e 2021. As indicações para quimioterapia (neo)adjuvante foram avaliadas com base nas diretrizes institucionais. O subtratamento foi definido como pacientes que tinham indicação para quimioterapia, mas não a receberam. O estudo avaliou a taxa de subtratamento, taxa de recorrência, sobrevida livre de doença, sobrevida específica para câncer de mama, sobrevida global (SG) e fatores prognósticos.

Um total de 1.455 pacientes tinha câncer de mama em estágio inicial. A maioria dos pacientes tinha entre 70 e 80 anos (71%), tumores luminais (79%) e comorbidades leves (60%). Dos 921 pacientes com indicação para quimioterapia (neo)adjuvante, 57% não a receberam, principalmente devido à idade e comorbidades.

A sobrevida específica de câncer de mama em 5 anos foi de 90,3% no grupo subtratado em comparação com 86,3% no grupo de quimioterapia (P = 0,024). A sobrevida global em 5 anos foi de 76,3% no grupo subtratado em comparação com 81% no grupo de quimioterapia (P = 0,389). A análise multivariável identificou preditores de pior sobrevida global, mas o subtratamento não foi diretamente associado.

Em síntese, apesar de as taxas de subtratamento serem altas nessa população mais velha, os resultados não mostraram impacto negativo, o que sugere que não oferecer quimio (neo)adjuvante pode ser uma opção para pacientes idosos selecionados com câncer de mama inicial, levando em consideração suas comorbidades e estado funcional.

Além de Jéssica Monteiro Vasconcellos, o estudo tem participação dos pesquisadores, Sofia Vidaurre Mendes, Bruna Zanin Orsi, Letícia Vecchi Leis, Ana Paula Messias, Otávio Augusto Moreira Noschang, Maurício Baptista Pereira, Pedro José Galvão Freire, Augusto Rodrigues de Araújo Neto e Erika Andrade Rocha, todos do ICESP; Theodora Karnakis (ICESP/Hospital Sírio Libanês); e Renata Colombo Bonadio e Laura Testa (ICESP/ Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino).

Referência:

Vasconcellos JM, Bonadio RC, Mendes SV, Orsi BZ, Leis LV, Messias AP, Noschang OAM, Pereira MB, Freire PJG, Neto ARA, Rocha EA, Karnakis T, Testa L. Does Undertreatment With Chemotherapy Impact the Outcomes of Elderly Patients With Early-Stage Breast Cancer? A Real-World Data Analysis. Clin Breast Cancer. 2025 Feb 18:S1526-8209(25)00036-9. doi: 10.1016/j.clbc.2025.02.007. Epub ahead of print. PMID: 40082193.