Um estudo publicado no New England Journal of Medicine se baseou em análises genômicas de gliomas de baixo grau para propor uma mudança na forma de classificação desses tumores.
O estudo, liderado pelo neuropatologista Daniel J. Brat, da Universidade Emory, revelou que o DNA é a chave para determinar se um tumor cerebral maligno de baixo grau (glioma) pode rapidamente progredir para um glioblastoma, a forma mais comum e letal de câncer cerebral. Na pesquisa, critérios diagnósticos utilizando alterações no DNA do tumor demonstraram melhorar a predição.
O glioma difuso de baixo grau e gliomas de grau intermediário têm comportamento clínico altamente variável. Alguns são indolentes; outros rapidamente progridem para glioblastoma. Os médicos têm diagnosticado e determinado o tratamento para gliomas com base em classes histológicas desenvolvidas no início de 1900. Neste método, os gliomas são classificados microscopicamente com base na sua semelhança com uma célula específica de origem (astrócitos, oligodendrócitos ou uma mistura destas células), o que torna o diagnóstico subjetivo. O diagnóstico com base na composição molecular de um tumor oferece um diagnóstico mais concreto.
Financiado pelo National Institutes of Health, o estudo envolveu mais de 300 pesquisadores de todo o mundo, seis deles da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, que participam do The Cancer Genome Atlas” ou TCGA, consórcio internacional para pesquisas genômicas em câncer.
Métodos e resultados
Os pesquisadores analisaram o genoma de 293 casos de glioma de baixo grau em adultos, incluindo sequenciamento do exoma, número de cópias do DNA, metilação do DNA, expressão do RNA mensageiro, expressão do microRNA, e expressão da proteína alvo. Estes dados foram integrados e correlacionados com resultados clínicos, o que delineou três classes moleculares de gliomas de baixo grau que são mais concordantes com IDH, 1p/19q e status TP53 do que com classe histológica.
Os pacientes que tiveram gliomas de baixo grau com uma mutação IDH e codeleção 1p/19q tiveram os resultados clínicos mais favoráveis. Seus gliomas abrigaram mutações no CIC, FUBP1, NOTCH1, e o promotor TERT.
Quase todos os gliomas de baixo grau com mutações IDH e não codeleção 1p/19q tinham mutações no TP53 (94%) e inativação do ATRX (86%).
A grande maioria dos gliomas de baixo grau sem uma mutação IDH tinha aberrações genômicas e comportamento clínico semelhante aos encontrados no glioblastoma primário.
“Com a análise molecular e integração com os dados clínicos, nós podemos auxiliar a reclassificar os indivíduos com câncer cerebral, o que pode levar ao melhor diagnóstico e abrir novas oportunidades para melhorar os protocolos de tratamento”, explica o professor Houtan Noushmehr, do Departamento de Genética da FMRP. “Nossa expectativa é que as mutações somáticas identificadas possam complementar o diagnóstico tradicional baseado apenas em critérios histopatológicos, levando a um diagnóstico e tratamento mais precisos”, acrescenta
Está sendo realizado um trabalho com a Organização Mundial de Saúde (OMS) para reescrever o sistema de classificação de gliomas.
Referência: Comprehensive, Integrative Genomic Analysis of Diffuse Lower-Grade Gliomas