A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprovou o conjugado de anticorpo-medicamento (ADC) trastuzumabe deruxtecana (Enhertu®, Daiichi Sankyo/AstraZeneca) no tratamento de segunda linha de pacientes com câncer gástrico e/ou de junção gastroesofágica HER2+, previamente tratados com trastuzumabe. Publicada no Diário Oficial da União (DOU n° 210)1 dia 06 de novembro, a decisão foi baseada nos estudos DESTINY-Gastric01 e DESTINY-Gastric02.
O estudo aberto, randomizado, de Fase 2 DESTINY-Gastric01, avaliou trastuzumabe deruxtecana (T-DXd) em comparação com quimioterapia em pacientes asiáticos (Japão e Coréia do Sul) com adenocarcinoma gástrico ou da junção gastroesofágica HER2+ confirmado por revisão central, que progrediram a pelo menos duas terapias anteriores, incluindo trastuzumabe. Os pacientes foram randomizados (2:1) para trastuzumabe deruxtecana (6,4 mg/kg) a cada 3 semanas ou quimioterapia de escolha do investigador.
Os resultados publicados em junho de 2020 na New England Journal of Medicine (NEJM)2 mostraram resposta objetiva em 51% dos pacientes no grupo de trastuzumabe deruxtecana em comparação com 14% dos pacientes no grupo de quimioterapia (P <0,001). A sobrevida global, endpoint secundário do estudo, demonstrou ganho de sobrevida mediana de 12,5 meses no grupo experimental com T-DXd contra 8,4 meses no grupo controle (hazard ratio (HR), 0,59; 95% CI, 0,39 a 0,88; P = 0,01).
Os eventos adversos de grau 3 ou superior mais comuns foram neutropenia (51% no grupo de trastuzumabe deruxtecana e 24% no grupo de quimioterapia), anemia (38% e 23%, respectivamente) e leucopenia (21% e 11%). Um total de 12 pacientes apresentou doença pulmonar intersticial ou pneumonite relacionada a trastuzumabe deruxtecana (graus 1 ou 2 em 9 pacientes e graus 3 ou 4 em 3 pacientes). Uma morte relacionada ao medicamento (pneumonia) foi observada no grupo de trastuzumabe deruxtecana.
Publicado por Van Cutsem et al no Lancet Oncology3 em junho de 2023, os resultados da análise primária do estudo de Fase 2, de braço único, DESTINY-Gastric02, demonstraram resultados clinicamente significativos de T-DXd no tratamento de segunda linha do câncer gástrico avançado ou da junção gastroesofágica HER2+, agora em pacientes europeus e norte-americanos.
Os pacientes elegíveis tinham pelo menos 18 anos de idade, performance status ECOG 0 ou 1, câncer gástrico ou da junção gastroesofágica irressecável ou metastático documentado patologicamente, doença progressiva durante ou após a terapia de primeira linha com um regime contendo trastuzumabe, com pelo menos uma lesão mensurável (RECIST, versão 1.1) e doença HER2+ confirmada centralmente (IHC3+ ou IHC2+/ISH+, com biópsia pós-progressão ao trastuzumabe).
Os pacientes receberam 6,4 mg/kg de trastuzumabe deruxtecana via intravenosa a cada 3 semanas até a progressão da doença, retirada do consentimento, decisão do médico ou morte. O endpoint primário foi a taxa de resposta objetiva confirmada por revisão central independente.
Foram incluídos 89 pacientes; 79 pacientes foram tratados com trastuzumabe deruxtecana (idade mediana de 60,7 anos [IQR 52·0–68·3]), e 94% dos pacientes tinham pelo menos dois sítios de metástases.
Na análise primária (acompanhamento mediano de 5,9 meses [IQR 4,6–8,6 meses]), a resposta objetiva confirmada foi relatada em 30 (38% [95% CI 27,3–49,6]) dos 79 pacientes, incluindo três (4%) respostas completas e 27 (34%) respostas parciais, conforme avaliado por revisão central independente. A partir do corte de dados para a análise atualizada (acompanhamento mediano de 10,2 meses [IQR 5,6–12,9]), uma resposta objetiva confirmada foi relatada em 33 (42% [95% CI 30,8–53· 4]) de 79 pacientes, incluindo quatro (5%) respostas completas e 29 (37%) respostas parciais.
Os eventos adversos relacionados ao tratamento de grau 3 ou superior mais comuns foram anemia (11 [14%]), náusea (seis [8%]), neutropenia (seis [8%]) e leucopenia (cinco [6%]). Eventos adversos graves relacionados ao tratamento ocorreram em dez pacientes (13%). As mortes determinadas como associadas ao tratamento do estudo ocorreram em dois pacientes (3%) e foram devido doença pulmonar intersticial ou pneumonite.
O estudo está registrado em ClinicalTrials.gov, NCT04014075.
Referências:
1 – DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO – Resolução n° 4.158, de 31 de outubro de 2023 - Publicado em: 06/11/2023 | Edição: 210 | Seção: 1 | Página: 88
2 - K. Shitara, Y.-J. Bang, S. Iwasa, N. Sugimoto, M.-H. Ryu, D. Sakai, H.-C. Chung, H. Kawakami, H. Yabusaki, J. Lee, K. Saito, Y. Kawaguchi, T. Kamio, A. Kojima, M. Sugihara, and K. Yamaguchi, for the DESTINY-Gastric01 Investigators*. Trastuzumab Deruxtecan in Previously Treated HER2-Positive Gastric Cancer. N Engl J Med 2020;382:2419-30. DOI: 10.1056/NEJMoa2004413. https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2004413
3 - Eric Van Cutsem, Maria di Bartolomeo, Elizabeth Smyth, Ian Chau, Haeseong Park, Salvatore Siena, Sara Lonardi, Zev A Wainberg, Jaffer Ajani, Joseph Chao, Yelena Janjigian, Amy Qin, Jasmeet Singh, Ferdous Barlaskar, Yoshinori Kawaguchi, Geoffrey Ku, Trastuzumab deruxtecan in patients in the USA and Europe with HER2-positive advanced gastric or gastroesophageal junction cancer with disease progression on or after a trastuzumab-containing regimen (DESTINY-Gastric02): primary and updated analyses from a single-arm, phase 2 study, The Lancet Oncology, 2023, ISSN 1470-2045, https://doi.org/10.1016/S1470-2045(23)00215-2.