O fim do projeto Atlas, um consórcio internacional que desde 2006 consumiu mais de US$ 375 milhões no esforço de decifrar geneticamente cerca de 10 mil tumores, convida a uma reflexão. Essa é a proposta do artigo assinado por Heidi Ledford, publicado na edição de janeiro da revista Nature, que faz uma crítica aos exageros da genômica.
"Sempre haverá novas mutações que estarão associadas a um tipo particular de câncer. A pergunta é: qual é a relação custo-benefício ?”, questiona.
A tecnologia de sequenciamento adotada no Atlas também desperta debates. O programa trabalhou apenas em tecido fresco congelado e como a maioria das biópsias clínicas são fixadas em parafina, encontrar e pagar por amostras de tecido fresco se tornou a maior despesa do Atlas, apontou Louis Staudt, diretor do Instituto de Genômica no Instituto Nacional do Câncer (NCI) dos Estados Unidos, em Bethesda, Maryland.
Outro problema apontado pelaNature foi o mecanismo de resistência a uma série de drogas- alvo. Tipicamente, os tumores se tornam resistentes ativando genes diferentes para driblar o bloqueio imposto pelo tratamento. Haverá uma saída?
De certa forma, ainda que a euforia inicial do programa Atlas tenha dado lugar a um olhar mais cauteloso, Bert Vogelstein, geneticista da Universidade Johns Hopkins argumenta que o programa sem dúvida trouxe benefícios em todos os aspectos da pesquisa sobre o câncer, entre eles novas formas de classificar os tumores e o desenvolvimento de agentes terapêuticos mais eficientes.
Agora, depois desse esforço ampliado, o consórcio internacional do programa Atlas anuncia que deve se concentrar em sequenciar intensamente apenas três tipos de câncer: de ovário, colorretal e adenocarcinoma de pulmão.
Referência: http://www.nature.com/news/end-of-cancer-genome-project-prompts-rethink-1.16662