Onconews - ASCO anuncia os cinco maiores avanços da oncologia

top_5_1.jpgPara celebrar seu 50º aniversário, comemorado em 2014, a Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) solicitou à comunidade oncológica a indicação dos cinco avanços fundamentais na pesquisa do câncer e na assistência ao paciente ao longo dos últimos 50 anos. 

Com mais de dois mil votos, a ASCO anunciou o resultado dos ‘top 5’ no site CancerProgress.Net. Confira:
 

1.Quimioterapia ‘MOOP’ cura linfoma de Hodgkin avançado 

Antes de 1965, o câncer era tratado, em grande parte, com cirurgia ou radioterapia. As poucas drogas quimioterápicas disponíveis eram utilizadas principalmente para ajudar a aliviar os sintomas da doença - e muitos acreditavam que as drogas faziam mais mal do que bem.

Em 1965, Vincent T. DeVita e seus colegas do National Institutes of Health descobriram que a quimioterapia de combinação- mecloretamina, vincristina, procarbazina e prednisona, regime conhecido como MOOP – induziu remissões de longo prazo em mais de metade dos adultos com linfoma de Hodgkin em um estudo clínico1.

A descoberta provocou a primeira esperança de que o câncer avançado poderia ser curado com tratamento medicamentoso e pavimentou o caminho para 90% das taxas de cura em pacientes com esta doença hoje. 

2. Vacina para HPV para prevenção do câncer do colo do útero

A primeira vacina do papilomavírus humano (HPV), conhecida como Gardasil®, foi aprovada em 2006, e trouxe 100% de proteção contra os dois tipos de mais oncogênicos de HPV (HPV16 e HPV18), conhecidos por causar a maioria dos casos de câncer do colo do útero. Uma vacina similar, Cervarix, foi aprovada logo após.

As vacinas foram inicialmente aprovadas apenas para uso em mulheres jovens e meninas, mas à medida que ampliou-se o conhecimento da relação entre o HPV e uma série de outros tipos de câncer - incluindo os tumores de cabeça e pescoço e o câncer do ânus – a vacina foi recomendada também para meninos e jovens.

Hoje, o câncer do colo do útero é considerado um dos cânceres mais evitáveis, em grande parte por causa desse avanço. No entanto, o potencial impacto da vacina e outras ferramentas de prevenção está longe de se concretizar.
Uma pesquisa recente mostra que, nos Estados Unidos, quase metade das mulheres jovens e cerca de dois terços dos jovens permanecem não vacinados2. A vacinação em massa, se totalmente implementada, pode conduzir reduções drásticas neste e outros tipos de câncer relacionados com o HPV.

No Brasil, a campanha de vacinação pública iniciou ano passado. Segundo Luisa Lina Villa, coordenadora do Instituto do HPV, a campanha superou as expectativas e em menos de três meses alcançou 4 milhões de meninas na primeira dose, com aproximadamente 90% de cobertura em todo o país. A especialista lembra que existem dados claros na literatura mostrando que países que adotaram a vacina começaram a registrar redução das lesões precursoras do câncer do colo do útero. “Espera-se que em 10 anos os números comecem a refletir a redução dos casos de câncer no país”, diz. 

3. Imatinibe transforma o tratamento do GIST e LMC

A rápida aprovação do imatinibe pelo FDA, em 2001, transformou o tratamento para a maioria dos pacientes com leucemia mielóide crônica (LMC). A pílula de fácil administração também revolucionou o tratamento do GIST, o tumor estromal gastrointestinal. De patologias sem opções terapêuticas, LMC e GIST passaram a ser doenças com altas taxas de sobrevida, com resultados prolongados e sustentáveis3. A droga também foi o tempo de um novo modelo de pesquisas anticâncer e inaugurou a era da terapia alvo-molecular. Hoje, mais de 60 medicamentos alvo estão disponíveis4.

“O imatinibe foi um divisor de águas, pois provou o conceito de terapia alvo e proporciona uma vida quase normal aos pacientes”, afirma o oncologista Gilberto Lopes, do HCor Onco, do grupo Oncoclínicas. Lopes participou do encontro da Organização Mundial de Saúde (OMS), em Genebra, para a atualização de medicamentos essenciais para o tratamento do câncer, entre eles o mesilato de imatinibe para o tratamento de GIST e da Leucemia Mieloide Crônica (LMC) do tipo Philadelphia positivo, além da incorporação do trastuzumabe para o tratamento do câncer de mama HER2. “O grupo de trabalho fez a recomendação para inclusão e agora esperamos a aprovação do comitê em abril”, diz. 

4. Quimioterapia ‘PVB’ cura câncer de testículo

Cinquenta anos atrás, 90% dos homens diagnosticados com câncer de testículo avançado morriam em um ano. Hoje, mais de 90% são curados5.

Essa conquista começou em 1977, quando Lawrence Einhorn e colegas informaram que um novo regime de quimioterapia - combinando a cisplatina, vinblastina e bleomicina (PVB) - produzia remissões completas em três a cada quatro homens com câncer de testículo agressivo. Os tratamentos anteriores de quimioterapia funcionavam em apenas 5% dos homens.

Por volta de 1984, o PVB foi substituído por um regime de quimioterapia ainda mais potente, conhecido como BEP, uma combinação de bleomicina, etoposido e cisplatina, que causa menos efeitos colaterais6.

Com o tempo, esses avanços foram combinados com outras inovações, incluindo novas estratégias cirúrgicas que preservam a função sexual e técnicas refinadas de radiação, tornando o câncer de testículo uma das maiores histórias de sucesso da oncologia até hoje. 

5. Drogas anti-náusea melhoram a qualidade de vida dos pacientes

Durante décadas, o tratamento do câncer era conhecido por internações longas e efeitos colaterais graves – alguns deles ofereciam risco de vida e forçavam os pacientes a interromper seu tratamento. Uma mudança drástica ocorreu no início da década de 1990, com a chegada dos medicamentos anti-náusea e outros tratamentos de cuidados de apoio, com o objetivo de aliviar esses sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Umas das primeiras drogas foi o ondansetrona (Zofran®). Aprovado em 1991, um estudo mostrou que este tratamento eliminava episódios de vômitos em 70% ou mais entre os pacientes que tinham recebido quimioterapia com cisplatina.7

Essas drogas não apenas trouxeram alívio das náuseas e vômitos intensos induzidos pelo tratamento, mas também tornaram possível evitar internações hospitalares rotineiras e concluir o curso completo de tratamento. Desde então, muitas estratégias de cuidados de suporte tornaram-se disponíveis, ajudando os pacientes com câncer a viver mais e melhor. Hoje, o cuidado envolve o tratamento efetivo de outros efeitos colaterais como anemia, boca seca, alívio da dor e apoio psicossocial para melhorar o bem-estar mental dos pacientes e seus cuidadores.
 
Referências:
1. DeVita VT, Chu E: A History of Cancer Chemotherapy. Cancer Res 68: 8643-653, 2008
2. Stokley S. et al: Human Papillomavirus Vaccination Coverage Among Adolescents, 2007–2013, and Post licensure Vaccine Safety Monitoring, 2006–2014. MMWR 63(29); 620-4
3. Pray, L: Gleevec: The Breakthrough in Cancer Treatment. Nature Education. 1: 37, 2008
4. National Cancer Institute, FactSheet – Targeted Cancer Therapies
5. Nasser, N, Einhorn, LH: Testicular Cancer: A Reflection on 50 Years of Discovery. J Clin Oncol. 2014 Jul 1
6. Einhorn LH: Curing Metastatic Testicular Cancer. PNAS 99: 4592–4595 2002
7. Cubeddu LX, Hoffmann IS, Fuen mayor NT et al: Efficacy of Ondansetron (Gr 38032F) and the Role of Serotonin in Cisplatin-Induced Nausea and Vomiting. N Engl J Med 1990; 322:810-816 
 
Para saber mais: http://www.cancerprogress.net/top-5-advances-modern-oncology