As terapias hormonais de segunda linha têm papel no tratamento não-quimioterápico de pacientes com câncer de próstata resistente à castração (CPRC)? Para responder a essa questão, o Journal of Clinical Oncology publicou no final de abril o primeiro parecer clínico sobre o uso de terapia hormonal na segunda linha de tratamento do CPRC. Os pareceres clínicos da ASCO oferecem orientação após publicação ou apresentação de dados com potencial de mudar a prática.
A publicação tem recomendações para o paciente com CPRC sem tratamento prévio com quimioterapia, considerando casos assintomáticos com evidência bioquímica de CPRC, até casos com metástases documentadas, mas sintomas mínimos.
O parecer clínico da ASCO argumenta que a meta de tratamento no CPRC é a paliação. Apesar da resistência à terapia inicial de privação androgênica, a maioria dos pacientes responde às terapias hormonais de segunda linha. No entanto, as diretrizes disponíveis nos Estados Unidos não abordaram a terapêutica hormonal de segunda linha para CPRC não metastático, nem orientações específicas para a população sem quimioterapia.
O Parecer Clínico Provisório
Seis ensaios clínicos randomizados e a opinião de consenso de especialistas subsidiam este Parecer Clínico Provisório.
Para pacientes com CPRC, um estado de castração deve ser mantido indefinidamente. A terapêutica hormonal de segunda linha (por exemplo, antiandrogênios, inibidores da CYP17) pode ser considerada em pacientes com CPRC não metastático com alto risco de doença metastática (o parâmetro de risco é o tempo ou velocidade de duplicação do antígeno específico da próstata), mas não é sugerida pelo parecer clínico. Em pacientes com evidência radiográfica de metástases e sintomas mínimos, a enzalutamida ou abiraterona mais prednisona deve ser o tratamento de escolha, oferecido após discussão com o paciente sobre possíveis danos, benefícios, custos e preferências. Radium-223 e sipuleucel-T também são opções consideradas (cabe lembrar que o agente sipuleucel-T não está disponível no cenário brasileiro).
Nenhuma evidência fornece orientação sobre a sequência ótima de terapias hormonais para CPRC no tratamento de segunda linha. O parecer clínico da ASCO sugere o teste de PSA a cada 4 a 6 meses para seguimento em pacientes sem metástases. O reestadiamento radiográfico de rotina geralmente não é sugerido, mas pode ser considerado em homens com risco de metástases ou que apresentem sintomas ou outras evidências de progressão.
Com esse conjunto de recomendações, a ASCO espera oferecer respostas baseadas em evidências considerando dados emergentes e com forte impacto na prática médica.
Em 2016, estima-se que 26.120 homens americanos morreram como resultado do câncer de próstata. Muitos pacientes com doença hormônio sensível que recebem ADT desenvolverão evidência bioquímica, radiográfica e / ou sintomática de progressão do câncer apesar dos níveis de castração de testosterona (<50 ng / mL ou <1,7 nmol /L). Dados da literatura mostram que até 20% dos homens com recaída bioquímica e a maioria dos pacientes com doença avançada vão desenvolver resistência à castração.
O Parecer Clínico sobre terapias hormonais de segunda linha no tratamento não-quimioterápico de pacientes com câncer de próstata resistente à castração está disponível no JCO, com acesso aberto.
Referência: Second-Line Hormonal Therapy for Men With Chemotherapy-Naïve, Castration-Resistant Prostate Cancer: American Society of Clinical Oncology Provisional Clinical Opinion - Katherine S. Virgo et al