Estudo que reflete a maior análise já realizada até o momento sobre o uso de aspirina e câncer de ovário fornece evidências de que o uso frequente de aspirina está associado a menor risco de câncer de ovário, independentemente da presença de fatores de risco. Os resultados foram reportados no Journal of Clinical Oncology e fornecem a prova de princípio de que os programas de quimioprevenção com uso frequente de aspirina podem atingir subgrupos de maior risco. “É uma intervenção simples, de baixa toxicidade, e pode ser utilizada como estratégia de quimioprevenção em pacientes com alto risco de câncer de ovário”, analisa a oncologista Maria Del Pilar Estevez Diz (foto).
Nove estudos de coorte do Ovarian Cancer Cohort Consortium (n = 2.600 casos) e oito estudos de caso-controle do Ovarian Cancer Association Consortium (n = 5.726 casos) foram incluídos. Os pesquisadores usaram a regressão de Cox e a regressão logística para avaliar as associações específicas entre o uso frequente de aspirina (≥ 6 dias/semana) e o risco de câncer de ovário, além de estimativas combinadas usando meta-análise de efeitos aleatórios. “Realizamos análises dentro de subgrupos definidos por fatores de risco individuais de câncer de ovário (endometriose, obesidade, história familiar de câncer de mama/ovário, nuliparidade, uso de contraceptivos orais e laqueadura) e por número de fatores de risco (0, 1 e ≥ 2)“, descrevem os autores.
Os resultados revelam que o uso frequente de aspirina foi associado a uma redução de 13% no risco de câncer de ovário (IC 95%, 6 a 20), sem heterogeneidade significativa por desenho de estudo (P = 0,48) ou tipo histológico (P = 0,60). Embora nenhuma associação tenha sido observada entre mulheres com endometriose, reduções de risco consistentes foram observadas em todos os outros subgrupos definidos por fatores de risco de câncer de ovário (riscos relativos variando de 0,79 a 0,93, todos P-heterogeneidade > 0,05), incluindo mulheres com ≥ 2 fatores de risco (risco relativo, 0,81; IC 95%, 0,73 a 0,90).
“Este estudo, o maior até o momento sobre o uso de aspirina e câncer de ovário, fornece evidências de que o uso frequente de aspirina está associado a um menor risco de câncer de ovário, independentemente da presença da maioria dos outros fatores de risco de câncer de ovário. Reduções de risco também foram observadas entre mulheres com múltiplos fatores de risco, fornecendo prova de princípio de que os programas de quimioprevenção com uso frequente de aspirina podem atingir subgrupos de maior risco”, concluem os autores.
Em síntese, análises combinadas de dados avaliando 17 populações mostram que o uso frequente de aspirina foi associado a uma redução de 13% no risco geral de câncer de ovário. Reduções de risco consistentes foram observadas na maioria dos subgrupos de mulheres com outros fatores de risco de câncer de ovário, com exceção da endometriose. Entre as mulheres com dois ou mais fatores de risco, o uso frequente de aspirina foi associado a uma redução de até 19% no risco de câncer de ovário.
Assim, os autores analisam que o uso de aspirina para a quimioprevenção do câncer de ovário pode ser mais bem direcionado para mulheres de alto risco com dois ou mais fatores de risco de câncer de ovário, para valorizar a relação benefício/risco em nível populacional.
“Neste estudo, foi observada redução de risco para o câncer de ovário de 13% em mulheres com fatores de risco para a doença (aumento: endometriose, obesidade, história familiar de câncer de mama/ovário; redução: paridade, uso de contraceptivos orais, ligadura tubária) e receberam aspirina. A redução de risco de carcinoma seroso de alto grau foi de 14%. Esse é um dado muito relevante, pois fatores como a existência de mutações germinativas (BRCA1/2, S. de Lynch) e endometriose, não são modificáveis. O efeito da aspirina provavelmente se deu pela inibição da via da cicloxigenase e redução de mediadores infamatórios ou por vias independentes, inibindo Wnt/β-catenina e NF-ĸβ”, explica Pilar, oncologista do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP)..
O uso frequente de aspirina foi definido com > 6 dias/semana ou > 28 dias/mês e por um tempo > 6 meses, ou seja, uso diário ou quase diário. O benefício não foi modificado por fatores de risco ou protetores, exceto a presença relatada pela paciente de endometriose, em que o uso da aspirina não levou a redução de risco.” Seu uso concomitante a outras estratégias de redução de risco deve ser explorado em estudos prospectivos”, conclui Pilar.
Referência: Modification of the Association Between Frequent Aspirin Use and Ovarian Cancer Risk: A Meta-Analysis Using Individual-Level Data From Two Ovarian Cancer Consortia - Lauren M. Hurwitz , PhD, MHS1; Mary K. Townsend , ScD2; Susan J. Jordan, PhD; Alpa V. Patel, PhD; Lauren R. Teras, PhD; James V. Lacey Jr, PhD, MPH et al – DOI: 10.1200/JCO.21.01900 Journal of Clinical Oncology - Published online July 22, 2022.