Dados publicados na Cancer Immunology Research sugerem que um método baseado na relação entre formações de brotamento tumoral e infiltração linfocítária pode estratificar melhor os pacientes com câncer colorretal estadio 2 (CCR) com alto risco de morte em comparação com os métodos tradicionais de estadiamento clínico. “Nosso método combinado foi superior ao atual sistema de estadiamento na definição do prognóstico do paciente com câncer colorretal estadio 2", disse a primeira autora, Ines Nearchou, da Escola de Medicina da Universidade de St. Andrews em North Haugh, na Escócia.
Neste estudo, os pesquisadores avaliaram a associação entre a infiltração linfocítária e o brotamento tumoral (tumor budding, TB) com o objetivo de estabelecer um algoritmo prognóstico mais preciso para pacientes com câncer colorretal estadio II a partir de uma coorte de 114 pacientes com câncer colorretal estádio 2 submetidos à ressecção cirúrgica em Edimburgo, Escócia, entre 2002 e 2003. O algorítimo foi validado em duas coortes independentes (coorte de validação 1: N= 56 pacientes da Escócia/ coorte de validação 2: N=62 pacientes do Japão). A imunofluorescência multiplexada e a análise automatizada de imagens por Immunoscore foram usadas para quantificar as células T CD3þCD8þ e os brotos tumorais.
Atualmente, cerca de 20% dos pacientes com CCR estadio 2 experimentam recorrência e morte câncer específica. "Por isso, é essencial identificar com precisão os pacientes de alto risco que potencialmente se beneficiam de terapia adjuvante", explicou a pesquisadora.
O estadiamento TNM, um método de estadiamento clínico que leva em consideração o tamanho do tumor, o envolvimento de linfonodos regionais e a presença de metástase à distância, é atualmente utilizado para determinar o prognóstico do CCR e orientar as estratégias terapêuticas. “Embora seja preciso em análises populacionais, o estadiamento TNM tem menor acurácia na análise individual, já que pacientes com mesmo estágio histológico podem ter resultados prognósticos diferentes”, observou Nearchou. Outro método, conhecido como Immunoscore, quantifica a densidade de células T infiltrantes no núcleo do tumor e sua margem invasiva. “Este escore se mostrou capaz de predizer a sobrevida e o risco de recorrência com maior precisão do que o estadiamento TNM em pacientes com CCR”, acrescentou a pesquisadora.
Agora, esses dois métodos, que tradicionalmente relatam dados independentes, estão sendo analisados de forma combinada com o objetivo de determinar uma única assinatura prognóstica mais precisa para pacientes com estádio II, chamada de Tumor Bud-Immuno Spatial Index (TBISI).
Resultados
Números elevados de TB [HR ¼ 5,899; Intervalo de confiança de 95% (IC) 1,875–18,55], baixa densidade de células T CD3þ (HR ¼ 9,964; 95% CI, 3,156–31,46) e baixo número médio de células T CD3þCD8þ dentro de 50 mm de TB (HR = 8.907; 95% CI, 2.834–28.0) foram associados à redução da sobrevida câncer específica.
Uma assinatura prognóstica que combinou TB e infiltração linfocitária relatou uma estratificação por coorte (HR ¼ 18,75; IC95%, 6,46–54,43) com acurácia superior, confirmada em duas coortes de validação independentes (HR ¼ 12,27; IC 95%, 3,524– 42,73; HR ¼ 15,61; IC 95%, 4,692-51,91).
“Na coorte principal, a utilização do nosso escore foi mais de quatro vezes superior na estratificação de pacientes de alto risco e teve mais que o dobro de acurácia na estratificação de pacientes de baixo risco em comparação com o estadiamento TNM e o Immunoscore, respectivamente”, explicou Nearchou.
A avaliação desse escore prognóstico nas duas coortes de validação também mostrou o potencial do novo método, mais do que duas vezes e mais de sete vezes mais eficaz na estratificação de pacientes em grupos de alto e baixo risco em comparação com o estadiamento TNM nas coortes 1 e 2, respectivamente. "Depois de mais validação em estudos maiores, este índice tem potencial de ser utilizado na classificação clínica de rotina do câncer colorretal estádio II, bem como em outros tumores sólidos, proporcionando um prognóstico mais preciso para melhorar o atendimento ao paciente", analisam os autores.
Referência: Cancer Immunol Res March 7 2019 DOI: 10.1158/2326-6066.CIR-18-0377