Uma nova diretriz clínica da American Society for Radiation Oncology (ASTRO) fornece orientações para o tratamento de radioterapia em pacientes com câncer retal localmente avançado. O guideline descreve recomendações para a irradiação pélvica e para integrar radioterapia, quimioterapia e cirurgia na doença estágio II-III. A diretriz, que substitui a orientação de 2016 da ASTRO para câncer retal, foi publicada na Practical Radiation Oncology.
O tratamento padrão para câncer retal localmente avançado geralmente envolve quimioterapia ou radiação de curta duração sem quimioterapia, seguida por cirurgia de remoção de tumor e quimioterapia adicional. Mais recentemente, vários ensaios clínicos mostraram o potencial de paradigmas emergentes, como alterar a sequência de tratamento ou desintensificar o tratamento para pacientes selecionados.
Pela nova diretriz, a radioterapia neoadjuvante é fortemente recomendada para pacientes com câncer retal estágio clínico II-III para reduzir o risco de recorrência locorregional. A radioterapia para câncer retal localmente avançado deve ser realizada antes, e não depois da cirurgia. Para pacientes com baixo risco de recorrência, a radiação pode ser omitida em favor da cirurgia inicial, após discussão multidisciplinar. O estadiamento clínico envolvendo exame físico e ressonância magnética pélvica é fundamental para determinar quais pacientes devem receber radioterapia neoadjuvante.
Para os pacientes que requerem radioterapia neoadjuvante, tanto a radiação convencionalmente fracionada quanto a de curta duração são igualmente recomendadas, com evidências que atestam eficácia semelhante, com resultados equivalentes de qualidade de vida. A diretriz traz especificações quanto à dosagem ideal, fracionamento e técnicas recomendadas.
As recomendações também consideram como incorporar a quimioterapia ao ambiente pré-operatório para pacientes que apresentam alto risco de recorrência e que provavelmente se beneficiariam com o tratamento adicional usando a abordagem de terapia neoadjuvante total (TNT). As diretrizes ainda enfocam questões de sequenciamento e tempo ideal para radiação, quimioterapia e cirurgia, com atenção específica à tolerabilidade do tratamento e possível redução do estadiamento.
Abordagens de preservação de órgãos (manejo não operatório e excisão local) podem representar uma alternativa à cirurgia radical para pacientes selecionados, especialmente aqueles que teriam uma colostomia permanente ou continência intestinal inadequada após a cirurgia. A diretriz traça critérios específicos para situações em que a cirurgia pode ser evitada, assim como estabelece recomendações de vigilância e cuidados de longo prazo para esses pacientes.
O câncer colorretal é a segunda causa mais comum de morte por câncer nos EUA, e metade dos novos diagnósticos ocorre em pessoas com 66 anos ou menos. Os diagnósticos de câncer retal são responsáveis por quase um terço dos casos de câncer colorretal. Em 2020, estima-se que 43.340 adultos serão diagnosticados com câncer retal.
COVID-19 e câncer retal
Embora a diretriz tenha sido concluída antes da pandemia de COVID-19, as recomendações também podem amparar médicos e pacientes no contexto atual. "Os pacientes geralmente concluem a radioterapia de curta duração em uma semana, em comparação com cinco semanas e meia para o tratamento de radiação padrão. Isso é particularmente importante na era COVID, quando é importante minimizar o tempo do paciente no hospital e questões como a toxicidade financeira são especialmente relevantes", disse Prajnan Das, coordenador da for-ça-tarefa responsável pelo guideline de câncer retal e chefe do departamento de radioterapia gastrointestinal do MD Anderson Cancer Center.
Referência: Wo, J. Y., Anker, C. J., Ashman, J. B., Bhadkamkar, N. A., Bradfield, L., Chang, D. T., … Das, P. (2020). Radiation Therapy for Rectal Cancer: Executive Summary of an ASTRO Clinical Practice Guideline. Practical Radiation Oncology. doi:10.1016/j.prro.2020.08.004