Estudo reportado por Brown et al. no Journal of Clinical Oncology mostrou que volumes maiores de atividade física recreativa, duração mais longa de atividade física aeróbica de intensidade leve a moderada ou qualquer atividade física aeróbica de intensidade vigorosa foram associadas com melhorias na sobrevida livre de doença (SLD) de pacientes com câncer colorretal (CCR). O oncologista Rivadávio Antunes de Oliveira (foto), comenta os resultados.
Neste estudo de coorte prospectivo realizado por pesquisadores do CALGB/SWOG 80702 (Alliance), foram considerados pacientes inscritos em um estudo multicêntrico randomizado de câncer de cólon em estágio III que comparou 3 versus 6 meses de fluorouracil, leucovorina e oxaliplatina com ou sem celecoxib. A atividade física recreativa foi medida nos primeiros 3 meses de quimioterapia e novamente 6 meses após a conclusão da quimioterapia. O endpoint primário foi SLD.
Durante acompanhamento mediano de 5,9 anos, os autores descrevem que 457 de 1.696 pacientes apresentaram recorrência da doença ou morte. Para o volume total de atividade física recreativa, a SLD em 3 anos foi de 76,5% com < 3,0 horas de tarefa equivalente metabólica por semana (MET-h/semana) e 87,1% com ≥ 18,0 MET-h/semana (diferença de risco [RD], 10,6 %; IC 95%, 4,7 a 19,4; P < 0,001). Para atividades de intensidade leve a moderada, a SLD em 3 anos foi de 65,7% com 0,0 h/semana e 87,1% com ≥ 1,5 h/semana (RD, 21,4%; IC 95%, 9,2 a 37,1; P < 0,001). A análise revela que para atividade de intensidade vigorosa, a SLD em 3 anos foi de 76,0% com 0,0 h/semana e 86,0% com ≥ 1,0 h/semana (RD, 10,0%; IC 95%, 4,5 a 18,9; P < 0,001). Para caminhada rápida, a SLD em 3 anos foi de 81,7% com < 1,0 h/semana e 88,4% com ≥ 3,0 h/semana (RD, 6,7%; IC 95%, 3,0 a 13,8; P <0,001). Para a atividade de fortalecimento muscular, a SLD em 3 anos foi de 81,8% com 0,0 h/sem e 88,8% para ≥ 0,5 h/sem (RD, 7,0%; IC 95%, 3,1 a 14,2; P = 0,003).
“Entre os pacientes com câncer de cólon em estágio III inscritos em um estudo de tratamento pós-operatório, volumes maiores de atividade física recreativa, duração mais longa de atividade física aeróbica de intensidade leve a moderada ou qualquer atividade física aeróbica de intensidade vigorosa foram associados a melhores desfechos em SLD”, destacam os autores.
Segundo Antunes, esse é um assunto muito importante para consideração dos oncologistas no manejo de pacientes de câncer colorretal. “Considero quatro fatores quando lido com o assunto. Recorrência ou progressão de doença, sobrevida, qualidade de vida e tolerância à quimioterapia. Por exemplo, mudança nos hábitos de vida, dieta, podem fazer diferença quando estamos falando da tolerabilidade à uma quimioterapia. Atividade física também já demonstrou que de fato ajuda o paciente a tolerar melhor o tratamento”, afirma.
O oncologista observa que alguns estudos de coorte prospectivo mostraram uma associação consistente entre atividade física, evitar a obesidade e uma menor ingestão de carne vermelha ou processada com risco reduzido em desenvolver CCR. Temos o estudo CHALLENGE que vem sendo conduzido pelo NCIC Clinical Trials Group no Canadá. Neste estudo, aproximadamente 1.000 pacientes de CCR estágio II ou estágio III de alto risco no Canadá e na Austrália estão sendo aleatoriamente designados para tratamento padrão ou uma intervenção supervisionada de 3 anos para aumentar a atividade física. O desfecho primário do estudo é a SLD em 3 anos. Qualidade de vida, ansiedade, depressão, sono e função física também estão sendo medidos. A intervenção de mudança de comportamento no estudo CHALLENGE produziu um aumento substancial na atividade física recreativa autorrelatada que atendeu ao critério de viabilidade para a continuação do estudo (relatados resultados de viabilidade de um ano)”, esclarece Antunes, coordenador da residência médica do Hospital do Câncer de Londrina.
“O interesse em testar intervenções nesta doença e neste cenário existem. No entanto, métodos ideais para alcançar a mudança de comportamento, e isso, depende da população estudada, são desafiadores. Novos estudos prospectivos, e finalização de alguns atuais, são necessários para averiguarmos conclusões mais assertivas”, conclui.
Referência: Brown JC, Ma C, Shi Q, Fuchs CS, Meyer J, Niedzwiecki D, Zemla T, Couture F, Kuebler P, Kumar P, Lewis D, Tan B, Krishnamurthi S, O'Reilly EM, Shields AF, Meyerhardt JA. Physical Activity in Stage III Colon Cancer: CALGB/SWOG 80702 (Alliance). J Clin Oncol. 2022 Aug 9:JCO2200171. doi: 10.1200/JCO.22.00171. Epub ahead of print. PMID: 35944235.