Onconews - Atividade física reduz a inflamação em pacientes com síndrome de Lynch

bicicletaO exercício aeróbico regular e intenso pode reduzir o risco de câncer colorretal em pacientes com Síndrome de Lynch, melhorando a capacidade do sistema imunológico de detectar e remover células potencialmente prejudiciais. Os resultados foram publicados na Clinical Cancer Research e mostram, pela primeira vez, efeitos biológicos da atividade física no sistema imunológico nessa população com alto risco de câncer.

“A síndrome de Lynch (LS) é uma condição hereditária que predispõe a um alto risco ao longo da vida de câncer colorretal (CCR) e câncer de endométrio. Homens com LS têm um risco de 60% a 80% de desenvolver CCR, enquanto esse risco é de 40% a 60% para as mulheres, que enfrentam a mesma chance de desenvolver câncer endometrial”, esclarecem os autores. “O exercício é uma intervenção não farmacológica que contribui para reduzir o risco de câncer, embora o seu impacto em pacientes com síndrome de Lynch não tenha sido estudado prospectivamente”, acrescentam.

Este estudo não randomizado acompanhou 21 pacientes com síndrome de Lynch com idades entre 18 e 50 anos durante um período de 12 meses. Onze pacientes foram designados para o grupo de exercícios e 10 para receber cuidados habituais. Todos os 21 pacientes receberam rastreadores de atividade. O grupo de exercícios se inscreveu em três sessões de ciclismo HIIT de 45 minutos por semana, enquanto os pacientes com cuidados habituais foram apenas informados sobre os benefícios do treino.

No início do estudo, ambos os grupos preencheram um questionário de saúde inicial e foram submetidos a uma endoscopia gastrointestinal inferior (GI) padrão com biópsias e coleta de sangue. O teste de esforço cardiopulmonar (TECP) foi realizado na segunda consulta, dentro de 30 dias após a endoscopia primária. Todos os participantes receberam uma endoscopia de 1 ano seguida de um TECP no quarto exame, dentro de 30 dias após a endoscopia de 1 ano. Não houve eventos adversos significativos.

Resultados

Os participantes do grupo de exercícios registraram uma mediana de 164 minutos semanais de exercício a uma frequência cardíaca >70%, enquanto o grupo de cuidados habituais registrou uma mediana de 14 minutos semanais de exercício.

Foram analisados os efeitos do exercício na aptidão cardiorrespiratória, na circulação e nos biomarcadores do tecido colorretal usando metabolômica, expressão gênica por mRNAseq em massa e transcriptômica espacial por NanoString GeoMx.

A análise de expressão por sequenciamento de próxima geração mostrou alterações estatisticamente significativas na expressão gênica na mucosa colorretal normal entre os grupos de exercício e cuidados habituais. No grupo que fez exercícios, 13 genes ficaram mais ativos, enquanto 33 genes ficaram menos ativos quando comparados ao grupo que não praticou exercícios. Os genes ativados estavam envolvidos nas vias de sinalização imunológica, enquanto os genes suprimidos estavam ligados à contração muscular e ao metabolismo.

Os resultados também mostraram um aumento significativo no consumo de oxigênio (VO2peak) como resultado primário do exercício e uma diminuição nos marcadores inflamatórios (Prostaglandina E) no cólon e no sangue como resultados secundários no grupo de exercício versus cuidados habituais. O perfil de expressão gênica e a transcriptômica espacial nas biópsias de cólon disponíveis revelaram um aumento nos níveis de células natural killer (NK) e células T CD8+ na mucosa do cólon no grupo de exercício, que foram posteriormente confirmados por análises imunohistoquímicas.

“Foi surpreendente para mim que o exercício tenha induzido uma mudança tão forte e duradoura”, afirmou Eduardo Vilar-Sanchez, professor de Prevenção Clínica do Câncer no MD Anderson Cancer Center e principal autor do estudo.

As limitações do estudo incluíram o pequeno tamanho da amostra sem heterogeneidade racial e a natureza não randomizada do desenho. Futuros ensaios clínicos randomizados serão necessários para confirmar a eficácia preventiva do treinamento físico aeróbico em portadores de síndrome de Lynch e elucidar ainda mais as possíveis vias imunológicas subjacentes a quaisquer reduções no risco de câncer.

“Se formos capazes de validar os benefícios preventivos desta abordagem em estudos futuros, esperamos oferecer uma ‘prescrição de estilo de vida’ e dar aos pacientes com síndrome de Lynch uma nova forma de possivelmente reduzir seu risco de câncer”, concluiu Vilar-Sanchez.

O estudo foi apoiado pelo Duncan Family Institute for Cancer Prevention and Risk Assessment, T. Boone Pickens Fund, National Cancer Institute (CA016672, P50 CA221707) e MD Anderson’s Moon Shots Program®.

Referência: Nan Deng, Laura Reyes-Uribe, Johannes F. Fahrmann, Whittney S. Thoman, Mark F. Munsell, Jennifer B. Dennison, Eunice Murage, Ranran Wu, Ernest T. Hawk, Selvi Thirumurthi, Patrick M. Lynch, Christina M. Dieli-Conwright, Alexander J. Lazar, Sonali Jindal, Khoi Chu, Manoj Chelvanambi, Karen Basen-Engquist, Yisheng Li, Jennifer A. Wargo, Florencia McAllister, James P. Allison, Padmanee Sharma, Krishna M. Sinha, Samir Hanash, Susan C. Gilchrist, Eduardo Vilar; Exercise Training Reduces the Inflammatory Response and Promotes Intestinal Mucosa-associated Immunity in Lynch Syndrome. Clin Cancer Res 2023; https://doi.org/10.1158/1078-0432.CCR-23-0088