Estudo com mais de 6 mil mulheres com 63 anos ou mais demonstrou que nessa população a atividade física moderada a vigorosa reduz em 34% o risco de certos tipos de câncer em comparação com aquelas menos ativas. Os resultados foram publicados dia 05 de março no British Journal of Cancer. "Cada vez mais, a medicina baseada em evidência mostra que a atividade física deve fazer parte do nosso arsenal de tratamentos e prevenção ao câncer", observa o oncologista Raphael Brandão (foto), Diretor Executo de Oncologia do UnitedHealth Group Brazil.
O estudo longitudinal OPACH (Objective Physical Activity and Cardiovascular Health), parte da Women’s Health Initiative (WHI), utilizou acelerômetros para a medição precisa dos níveis de atividade física das participantes e sua associação com a incidência de 13 tipos de câncer em uma coorte de mulheres na pós-menopausa. Os 13 tipos de câncer avaliados incluem mama, pulmão, colorretal, esôfago, fígado, rim, gástrico, endometrial, leucemia, mieloma múltiplo, cabeça e pescoço, câncer retal e bexiga.
Métodos e resultados
No estudo prospectivo, 6382 mulheres usaram acelerômetros ActiGraph GT3X+ no quadril por até 7 dias entre 2012 e 2013 e foram acompanhadas por uma mediana de 4,7 anos para diagnóstico de 13 tipos de câncer. Pontos de corte de intensidade calibrados foram utilizados para definir minutos por dia de atividade física total, leve e moderada a vigorosa. Foram examinadas a modificação da medida do efeito por idade, raça/etnia, índice de massa corporal e histórico de tabagismo.
Das 6.382 mulheres com idades entre 63 e 99 anos que fizeram parte do estudo, 272 foram diagnosticadas com um dos 13 tipos de câncer avaliados. O câncer de mama foi o mais comum, seguido pelo câncer de pulmão e câncer colorretal. Os resultados demonstraram que a incidência de câncer foi menor entre as mulheres que realizaram, em média, 80 minutos por dia de atividade física moderada a vigorosa em comparação com aquelas que se exercitaram menos de 20 minutos por dia.
Os tercis mais altos (vs. mais baixos) de atividade física total, leve e moderada a vigorosa foram associados a HRs ajustadas por covariáveis de 0,72 (95% CI = 0,53-0,97), 0,81 (95% CI = 0,60-1,09) e 0,66 (95% CI = 0,48-0,91), respectivamente. Nas análises estratificadas por idade, as HRs para atividade física total foram menores entre as mulheres < 80 anos (HRper one-SD = 0,75, 95% CI = 0,63–0,90) do que entre as mulheres ≥ 80 anos (HRper one-SD = 0,99, 95% CI = 0,82-1,18) (PInteraction = 0,03). Raça / etnia, IMC e tabagismo não modificaram fortemente essas associações.
Em conclusão, os autores destacam que a prática de atividade física pode ter um papel benéfico na prevenção de certos tipos de câncer em mulheres com idade mais avançada.
"Este é um importante estudo que mostra mais uma vez a relevância da atividade física no combate a obesidade, sedentarismo, ambos fatores de risco já extremamente estabelecidos para o câncer. Essas descobertas mostram que a atividade física ajuda a prevenir o câncer, e quanto mais você pratica, melhor. Dados como este mostram a complexidade que vem se tornando tratar pacientes com câncer. Não podemos mais ficar restritos a prescrição de quimioterapia, hormonioterapia e radioterapia. Cada vez mais, a medicina baseada em evidência mostra que a atividade física deve fazer parte do nosso arsenal de tratamentos e prevenção ao câncer", afirma Brandão.
O estudo OPACH é financiado pelo National Institutes of Health e pelo National Heart, Lung, and Blood Institute.
Referência: Parada, H., McDonald, E., Bellettiere, J. et al. Associations of accelerometer-measured physical activity and physical activity-related cancer incidence in older women: results from the WHI OPACH Study. Br J Cancer (2020). https://doi.org/10.1038/s41416-020-0753-6