Onconews - Atualizações críticas em tumores neuroendócrinos: 9ª edição do AJCC

Artigo de Chauhan et al. publicado na Cancer analisa a 9ª edição do American Joint Committee on Cancer (AJCC) em tumores neuroendócrinos gastroenteropancreáticos (GEP-NETs), com atualizações críticas do sistema de estadiamento em GEP-NETs. Rachel Riechelmann, Diretora de Oncologia do A.C.Camargo Cancer Center e conselheira da Sociedade Europeia de Tumores Neuroendócrinos, comenta a nova classificação.

GEP-NETs são a segunda neoplasia de origem gastrointestinal mais prevalente depois do câncer colorretal. Nesta análise, os pesquisadores esclarecem que, desde a publicação da oitava edição do AJCC, a Organização Mundial da Saúde atualizou a classificação e separou os GEP-NETs de grau 3 do carcinoma neuroendócrino pouco diferenciado.

Chauhan e colegas destacam que a 9ª edição do AJCC valoriza os grandes avanços nas tecnologias diagnósticas e terapêuticas para GEP-NETs e é contra o uso de cromogranina A sérica para o diagnóstico e monitoramento. A 9ª edição do AJCC reconhece o papel crescente da endoscopia e da ressecção endoscópica no diagnóstico e tratamento de TNEs, particularmente no estômago, duodeno e colorretal. Finalmente, lembram que o T1NXM0 foi adicionado ao estágio I nesses locais da doença, assim como no apêndice.

“Existem atualmente três radiofármacos de tomografia por emissão de pósitrons aprovados pela Food and Drug Administration para NETs (gálio-68 DOTA-Tyr-3-octreotato [DOTATATE], gálio-68 DOTA-D-Phe1-Tyr3-octreotida [DOTATOC] e cobre -64 DOTATATE) com sensibilidade e especificidade diagnóstica na faixa de 90% a 95%”, lembra a revisão.  “Juntamente com imagens convencionais multifásicas de alta qualidade (tomografia computadorizada e ressonância magnética), essas tomografias por emissão de pósitrons permitem estadiamento e reestadiamento, identificação do tumor primário, melhor planejamento cirúrgico e avaliação da resposta”, esclarecem os autores, acrescentando que essas tecnologias também são usadas para selecionar pacientes para terapia com radionuclídeos receptores peptídicos, um dos tratamentos sistêmicos mais eficazes para GEP-NETs metastáticos.

Avanços como esses permitiram afastar o uso rotineiro de biomarcadores baseados no sangue e explicam por que o uso de cromogranina A sérica não é mais recomendado em GEP-NETs.

A íntegra do artigo está disponível em acesso aberto.

9ª edição do AJCC em GEP-NETs
Por Rachel Riechelmann, Diretora de Oncologia do A.C.Camargo Cancer Center
Conselheira da Sociedade Europeia de Tumores Neuroendócrinos

Nesta 9ª edição, a AJCC incorpora na classificação de anatomia patológica a última classificação de 2019 da Organização Mundial de Saúde para tumores gastroenteropancreáticos neuroendócrinos. Assim, tumores de alto grau agora são subdivididos em tumores neuroendócrinos grau 3 e carcinomas neuroendócrinos, sendo esses últimos subclassificados em grandes ou pequenas células. Isso não impacta o estadiamento propriamente, mas a recomendação agora é que isso seja descrito na avaliação desses tumores.

Outra mudança importante diz respeito à amostragem linfonodal, que agora considera T1NX, quando os linfonodo não são avaliáveis, como estádio I para alguns tumores neuroendócrinos, como por exemplo os de estômago, duodeno e colorrreto, principalmente os de reto. Geralmente são tumores bem pequenos, de baixo grau, que acabam ressecados por endoscopia ou colonoscopia. Nesses casos não temos amostragem linfonodal, por isso o N descrito como NX. A grande maioria se cura, portanto são pacientes com bom prognóstico. Se tivermos nesses casos um tumor T1N0, ou seja, amostragem linfonodal avaliada e nenhum linfonodo acometido, ou se tivermos na ressecção endoscópica um T1NX, sem amostragem linfonodal, a sobrevida é a mesma.

Por último, outra mudança na 9ª classificação da AJCC é algo que eu já pratico há mais de 15 anos, que é não usar o marcador sérico cromogranina A. É um peptídeo que é secretado por células endócrinas e neuroendócrinas e pode estar elevado em tumores neuroendócrinos, mas existem muitos resultados falsos positivos. Em pacientes que têm gastrite e utilizam protetores gástricos cronicamente, por exemplo, você vai ver uma elevação da cromogranina A no sangue, ou em paciente que têm disfunção renal ou idade avançada. Isso não quer dizer necessariamente um tumor neuroendócrino. Então, esse exame não deve ser utilizado para diagnóstico de tumor neuroendócrino, porque apesar de sensível, é pouco específico. Para o monitoramento da doença também não devemos utilizar esse marcador, porque se esse peptídeo aumenta ou diminui, isso não induz à mudança de tratamento. O tratamento do paciente muda de acordo com o exame radiológico, não com o marcador tumoral. Então, a cromogranina A não é um bom marcador tumoral nem de avaliação de eficácia de tratamento, nem para diagnóstico.

Referência: First published: 29 April 2024. https://doi.org/10.3322/caac.21840