A cada ano, a Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) lança seu clássico relatório sobre os avanços clínicos em câncer (Clinical Cancer Advances), publicado no Journal of Clinical Oncology. Este ano, o painel de especialistas considerou os estudos com CAR T-cells a área de pesquisa com maior progresso, nomeada como o avanço do ano. "A indicação como avanço clínico do ano foi merecidíssima. Os resultados obtidos no estudo ZUMA foram impressionantes e o potencial de aplicação das células CAR T em outras doenças oncológicas e em fases mais precoces é muito grande", afirma o oncohematologista Jacques Tabacof (foto), coordenador geral de oncologia e hematologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e médico do Centro Paulista de Oncologia.
O presidente da ASCO, Bruce E. Johnson, descreveu a técnica e lembrou que "permite que os clínicos reprogramem geneticamente as próprias células imunes dos pacientes para encontrar e atacar as células neoplásicas". O relatório da ASCO argumenta que as terapias CAR T-Cells “representam uma inovação emocionante, que tem o potencial de transformar os cuidados em câncer”.
Em agosto de 2017, a agência norte-americana FDA aprovou a primeira imunoterapia baseada em receptores de antígeno quimérico de células T (CAR T-cells), o agente Tisagenlecleucel, para leucemia linfoblástica aguda pediátrica. Em outubro de 2017 foi a vez da segunda aprovação de uma CAR T-cell, axilabtageno ciloleucel (axi-cel), desta vez para tratar adultos com certos tipos de linfoma.
Os receptores de antígeno quimérico de células T consolidam resultados de eficácia e segurança e despontam como uma nova e promissora estratégia de imunoterapia. O estudo ZUMA-1 mostrou na ASH 2017 os resultados de fase II com dados de eficácia e segurança da terapia axi-cel. Neste estudo multicêntrico de fase II foram considerados 108 pacientes com linfoma difuso de grandes células B agressivo e refratário para avaliar a taxa de resposta e a duração de resposta. Após 15,4 meses, 42% dos pacientes permaneciam livres de progressão da doença e 56% continuavam vivos, com mediana de sobrevida global ainda não alcançada. A taxa de resposta objetiva foi de 82%, incluindo 58% de resposta completa. Os resultados do estudo foram publicados no New England Journal of Medicine.
“Os resultados obtidos no estudo ZUMA impressionam muito os especialistas em linfoma devido a profundidade e duração das respostas em pacientes previamente tratados com várias linhas de tratamento, para os quais não há opção efetiva”, afirma Tabacof. “As toxicidades das células CAR T, como a síndrome de liberação de citoquinas e neurotoxicidade, mostraram-se manejáveis", acrescenta.
A terapia CAR T- cells também mostrou dados de remissão no mieloma múltiplo e agora a expectativa é ampliar os estudos também em tumores sólidos.
O relatório da ASCO foi elaborado sob a direção de um conselho de mais de 20 especialistas, das diferentes áreas da Oncologia. O painel lembrou que o câncer é hoje um dos mais urgentes desafios para a saúde global, com mais de 14 milhões de diagnósticos por ano.