Onconews - Quimioterapia intraperitoneal hipertérmica no câncer de ovário

EVA ANGELICA NET OKEstudo publicado no New England Journal of Medicine mostrou que, em pacientes com câncer epitelial de ovário estádio III, a adição de quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (HIPEC) após cirurgia citorredutora de intervalo resultou em maior sobrevida livre de recorrência e sobrevida global do que a cirurgia isoladamente, sem maiores taxas de eventos adversos. “Os resultados deste estudo são os dados mais robustos até o presente momento para a defesa de HIPEC em câncer de ovário”, afirma a oncologista Angélica Nogueira-Rodrigues (foto), presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA/GBTG).

O tratamento do câncer de ovário em estágio avançado recém diagnosticado normalmente envolve cirurgia citorredutora e quimioterapia sistêmica. Os pesquisadores investigaram se a adição de HIPEC à cirurgia citorredutora de intervalo melhoraria os resultados entre pacientes que estavam recebendo quimioterapia neoadjuvante para câncer de ovário epitelial estádio III.

Métodos

No estudo multicêntrico, aberto, fase 3, foram randomizados 245 pacientes com doença pelo menos estável após três ciclos de carboplatina AUC de 5 ou 6 e paclitaxel 175 mg/m2 para se submeter à cirurgia citorredutora de intervalo com ou sem administração de HIPEC com cisplatina 100 mg/m2.

A randomização foi realizada no momento da cirurgia nos casos em que o procedimento resultaria em nenhuma doença visível (citorredução completa) ou com nódulos residuais de no máximo 10 mm (citorredução ótima).

Três ciclos adicionais de carboplatina e paclitaxel foram administrados no pós-operatório. O endpoint primário foi a sobrevida livre de recorrência. A sobrevida global e o perfil de eventos adversos foram os principais endpoints secundários.

Resultados

Na análise intent-to-treat, os eventos de recorrência ou morte da doença ocorreram em 110 dos 123 pacientes (89%) submetidos à cirurgia citorredutora sem HIPEC (grupo cirúrgico) e em 99 dos 122 pacientes (81%) submetidos à citorredução cirúrgica com HIPEC (grupo cirurgia + HIPEC) (hazard ratio para recorrência da doença ou morte, 0,66; 95% IC, 0,50 a 0,87; P = 0,003).

A mediana de sobrevida livre de recorrência foi de 10,7 meses no grupo cirúrgico e 14,2 meses no grupo cirurgia + HIPEC. Em um acompanhamento médio de 4,7 anos, 76 pacientes (62%) no grupo cirúrgico e 61 pacientes (50%) no grupo cirurgia + HIPEC morreram (hazard ratio, 0,67; 95% IC, 0,48 a 0,94 P = 0,02). A mediana de sobrevida global foi de 33,9 meses no grupo cirúrgico e 45,7 meses no grupo cirurgia + HIPEC.

A porcentagem de pacientes que apresentaram eventos adversos de grau 3 ou 4 foi semelhante nos dois grupos (25% no grupo cirúrgico e 27% no grupo cirurgia + HIPEC, P = 0,76).

“A administração da quimioterapia intraperitoneal em dose única e no ato cirúrgico podem ter contribuído para a significativa melhor tolerância nesta coorte de pacientes, comparado ao tratamento adjuvante IP por outros autores anteriormente defendido. Persistem dúvidas importantes para a consolidação desta estratégia: seria a hipertermia, a alta dose de cisplatina IP ou a combinação os responsáveis pelo benefício observado?”, questiona Angélica, do EVA/GBTG.

“Novos estudos são fundamentais, mas este importante resultado reposiciona o tratamento IP, em descrédito principalmente após a apresentação do estudo GOG 252, e introduz a HIPEC como braços terapêuticos necessários nos estudos que explorem novos tratamentos no câncer de ovário”, conclui a especialista.

O estudo foi financiado pela Dutch Cancer Society, ClinicalTrials.gov, NCT00426257; EudraCT, 2006-003466-34.

Referência: Hyperthermic Intraperitoneal Chemotherapy in Ovarian Cancer - Willemien J. van Driel et al - N Engl J Med 2018; 378:230-240 - DOI: 10.1056/NEJMoa1708618