O prognóstico de pacientes com linfoma de grandes células B precocemente recidivado ou refratário após quimioimunoterapia de primeira linha é extremamente reservado, evidenciando clara necessidade médica não atendida. Agora, novos dados da terapia CAR T cell axicabtagene ciloleucel (axi- cel) reportados na New England Journal of Medicine corroboram benefícios desse novo agente nessa população de pacientes. o oncohematologista Otávio Baiocchi (foto), professor associado da UNIFESP e diretor de hematologia e oncohematologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, comenta os resultados.
Neste estudo internacional de Fase 3 (ZUMA-7), foram inscritos pacientes com linfoma de grandes células B refratário ou recidivado ≤ 12 meses após a quimioimunoterapia de primeira linha, para receber axicabtagene ciloleucel (axi- cel) ou tratamento padrão (dois ou três ciclos de quimioimunoterapia selecionada pelo investigador, seguida de quimioterapia de altas doses com transplante autólogo de células-tronco em pacientes com resposta à quimioimunoterapia. O endpoint primário foi a sobrevida livre de eventos de acordo com revisão central independente e cega. Endpoints secundários incluíram resposta e sobrevida global, além de dados de segurança.
“Cerca de 40% dos pacientes atingiram um platô de sobrevida após 24 meses de tratamento com a terapia celular manufaturada (CAR-T)”, observa Baiocchi.
Resultados
Um total de 180 pacientes foi randomizado para receber axi-cel e 179 para receber o padrão de cuidados. A análise de sobrevida livre de eventos mostrou que o tratamento com axi-cel foi superior ao tratamento padrão. Em um acompanhamento médio de 24,9 meses, a mediana de sobrevida livre de eventos foi de 8,3 meses no grupo axi-cel versus 2,0 meses no grupo de tratamento padrão, enquanto a sobrevida livre de eventos em 24 meses foi de 41% e 16%, respectivamente (razão de risco para evento ou morte, 0,40; intervalo de confiança de 95%, 0,31 a 0,51; P <0,001).
Em relação à taxa de resposta, os autores descrevem que 83% dos pacientes do grupo axi-cel apresentaram resposta, versus 50% daqueles no grupo de tratamento padrão (com uma resposta completa em 65% e 32%, respectivamente). Em uma análise interina, a sobrevida global estimada em 2 anos foi de 61% no grupo axi-cel e de 52% no grupo de tratamento padrão.
A análise de segurança mostra que eventos adversos de grau ≥3 ocorreram em 91% dos pacientes tratados com axi-cel e em 83% daqueles que receberam tratamento padrão. Entre os pacientes que receberam axi-cel, a síndrome de liberação de citocinas de grau 3 ou superior ocorreu em 6% e eventos neurológicos de grau 3 ou superior em 21%. Não ocorreram mortes relacionadas à síndrome de liberação de citocinas ou eventos neurológicos.
“A terapia Axi-cel levou a melhorias significativas na resposta e na sobrevida livre de eventos em comparação com o tratamento padrão, com perfil de toxicidade dentro do esperado”, destacam os autores.
“Esta nova terapia faz parte de uma nova geração de imunoterapias contra o câncer que se baseiam na coleta e na modificação genética das células imunes dos próprios pacientes. As transformações promovidas por esta terapia são, claramente, uma oportunidade para promover a cura e melhorar a experiência dos pacientes com LDGCB recidivados ou refratários”, conclui Baiocchi.
O estudo (ZUMA-7) tem financiamento da Kite Pharma e está inscrito na ClinicalTrials.gov: NCT03391466.
Referência: Axicabtagene Ciloleucel as Second-Line Therapy for Large B-Cell Lymphoma - Frederick L. Locke, M.D., David B. Miklos, M.D., Ph.D., Caron A. Jacobson, M.D., Miguel-Angel Perales, M.D., Marie-José Kersten, M.D., Ph.D., Olalekan O. Oluwole, M.B., B.S., M.D., Armin Ghobadi, M.D., Aaron P. Rapoport, M.D., Joseph McGuirk, D.O., John M. Pagel, M.D., Ph.D., Javier Muñoz, M.D., Umar Farooq, M.D., et al., for All ZUMA-7 Investigators and Contributing Kite Members* - N Engl J Med 2022; 386:640-654 DOI: 10.1056/NEJMoa2116133