A patologista Filomena Carvalho (foto), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, assina artigo de revisão sobre a evolução do tratamento do câncer de mama triplo negativo, mostrando como a compreensão crescente da biologia molecular permitiu que esse grupo de tumores se tornasse alvo de inovadoras estratégias terapêuticas. O trabalho foi publicado na Frontiers in Oncology e discute a trajetória desse conhecimento de forma sistemática, apresentando as bases moleculares, biomarcadores e novas possibilidades de tratamento.
O câncer de mama triplo-negativo (CMTN) ocorre com mais frequência em pacientes mais jovens e tem prognóstico ruim. São tumores altamente heterogêneos, que compreendem diferentes subtipos moleculares, e em comum têm apenas a ausência de alvos para terapia endócrina e bloqueio do receptor 2 do fator de crescimento epidérmico humano (HER2).
O artigo discute os subtipos moleculares dos CMTN com suas apresentações clinicopatológicas e perfil imuno-histoquímico, explorando os biomarcadores para seleção terapêutica.
"Os CMTN introduziram os carcinomas de mama na era da imunoterapia", descreve Filomena. "A maior frequência de mutações germinativas do BRCA nesses tumores permite o direcionamento desse defeito de reparo por agentes como os inibidores de PARP, resultando em letalidade sintética em células neoplásicas. Adicionalmente, temos a identificação de novas moléculas para as quais uma nova geração de medicamentos inteligentes tem sido direcionada, como os conjugados anticorpo-droga (ADCs) trastuzumabe deruxtecana e sacituzumabe deruxtecana ", diz.
Os CMTN, que há duas décadas eram assim denominados por não possuírem alvos terapêuticos até então disponíveis, hoje permitem que pelo menos alguns subgrupos possam ser reconhecidos através de características passíveis de tratamento personalizado. A revisão ilustra como exemplos os subtipos histológicos de baixo risco (carcinomas análogos de glândulas salivares, carcinoma fibromatose símile e carcinoma adenoescamoso de baixo grau), os imunoativados (ricos em infiltração imune), os tumores associados à mutação de BRCA, e os carcinomas HER2-low. Cabe hoje não mais nos referirmos ao CMTN sem algum adjetivo que direcione para a terapia mais eficaz.
Referência: Carvalho FM. Triple-negative breast cancer: From none to multiple therapeutic targets in two decades. Front. Oncol. Sec. Cancer Immunity and Immunotherapy. Volume 13 - 2023 | doi: 10.3389/fonc.2023.1244781