No início do ano, o Wall Street Journal enfatizou um tema que promete ganhar escala: o Big Data e o uso da tecnologia para vencer o câncer, assunto que vem despertando atenção desde que os Estados Unidos anunciaram o programa Cancer ‘Moonshot’ para alcançar a cura do câncer. Agora, editorial publicado no JCO de abril relativizou a euforia com as contribuições do Big Data, ilustrando os dados do estudo de Cheung e colegas, um nomograma que recebeu críticas de ter pouca utilidade clínica real, mesmo tendo sido baseado em dados de 37.568 pacientes, de 25 estudos clínicos de adjuvância em câncer de cólon, realizados entre 1977 e 2008.
O trabalho de Cheung e colegas se baseou na base de dados do ACCENT (Adjuvant Colon Cancer End Points), grupo colaborativo que aliou algumas das mais reconhecidas equipes de pesquisa em câncer de cólon do mundo e acumula contribuições expressivas.
No estudo de Cheung e colegas, os investigadores analisaram as taxas de mortalidade em 30 dias e em 6 meses e identificaram 540 pacientes (1,4%) que morreram neste intervalo de tempo. Por análise uni e multivariada os dados foram ajustados para fatores prognósticos conhecidos e a partir desses indicadores foi desenvolvido um nomograma para prever a probabilidade de morte prematura em 6 meses.
Os indicadores obtidos foram validados por um conjunto de dados independente, o estudo do Grupo North Central Cancer Treatment N0147, que avaliou FOLFOX adjuvante com ou sem cetuximab. No geral, 40% dos que morreram em 6 meses tinham doença recorrente, percentual de recidiva que foi mais que o dobro para a fase III em comparação com a fase II e variada por década, o que segundo o editorial do JCO sugere um viés de detecção da doença metastática oculta.
O editorial, assinado por Howard S. Hochster e Donna Niedzwiecki, também observa que os dados sobre a causa da morte não estavam disponíveis, mas que a morte em 6 meses de doentes submetidos à cirurgia não pode ser atribuída à quimioterapia, como sustenta o estudo de Cheung e colegas, cabendo considerações sobre possíveis complicações cirúrgicas ou decorrentes da progressão da doença.
E se há vieses nos resultados que embasaram o nomograma, fica fácil compreender as críticas que desafiam sua aplicação no mundo real. “Portanto, na maioria dos casos, este nomograma é estatisticamente correto, mas não é relevante para a prática clínica”, diz o editorial do JCO.
Referências: Big Data, Small Effects - Howard S. Hochster and Donna Niedzwiecki
JCO Apr 10, 2016:1170-1171; DOI:10.1200/JCO.2015.65.8161.
Determinants of Early Mortality Among 37,568 Patients With Colon Cancer Who Participated in 25 Clinical Trials From the Adjuvant Colon Cancer Endpoints Database - Winson Y. Cheung, Lindsay A. Renfro, David Kerr, Aimery de Gramont, Leonard B. Saltz, Axel Grothey, Steven R. Alberts, Thierry Andre, Katherine A. Guthrie, Roberto Labianca, Guido Francini, Jean-Francois Seitz, Chris O’Callaghan, Chris Twelves, Eric Van Cutsem, Daniel G. Haller, Greg Yothers e Daniel J. Sargent
Big Data, Technology and Defeating Cancer