Uma em cada 10 mulheres que tomam o medicamento trastuzumabe como parte do tratamento para o câncer de mama vai experimentar algum tipo de problema cardíaco, mas a boa notícia é que a maior parte dos efeitos desaparece com o final do tratamento com a terapia anti-HER2. Essa é a principal conclusão do estudo liderado por Evandro de Azambuja, do Institut Jules Bordet, na Bélgica, que corrobora a baixa incidência de eventos ligados ao uso do trastuzumabe. "A mensagem geral aqui é de uma enorme tranquilidade", disse o pesquisador em relação às conclusões do estudo BIG 1-01, publicadas no dia 09 de junho na edição online do Journal of Clinical Oncology.
A tranquilidade recomendada pelos pesquisadores tem como base a constatação de que os efeitos cardíacos mais comuns - a insuficiência cardíaca congestiva e a diminuição do fator de ejeção ventricular – são totalmente reversíveis.
A investigação acompanhou 5.102 mulheres com estadio inicial de câncer de mama, por uma média de oito anos. As pacientes foram divididas em três grupos. O grupo 1 foi o braço controle (1744); o segundo grupo recebeu o tratamento padrão com trastuzumabe por um ano (n = 1,682)e o terceiro braço foi tratado com dois anos de terapia com trastuzumabe (n= 1.673).
Os achados publicados no JCO mostram que quase 10% das mulheres no grupo de dois anos e cerca de 5% das pacientes do grupo de um ano tiveram que interromper a droga por problemas cardíacos adversos, como insuficiência cardíaca congestiva e queda no fator de ejeção ventricular. Três mortes associadas a alterações cardiovasculares ocorreram no grupo de dois anos e duas foram registradas no braço-controle. Não houve mortes no tratamento de um ano, hoje a terapia standard.
O seguimento de oito anos confirma a baixa incidência de eventos cardíacos associados ao tratamento com trastuzumabe, a maior parte deles reversível. Após a interrupção do tratamento, os problemas cardíacos foram resolvidos em 87% dos pacientes do grupo de dois anos e em 81% no grupo de um ano.
“Essa é a evolução natural de um medicamento”, diz o oncologista clínico Ricardo Caponero.”Após aprovação e uso exponencial do produto, estudos tardios, de fase IV, podem delinear melhor eventuais eventos adversos. O BIG 1-01 não traz nenhum dado novo, mas consolida a ideia de que a cardiotoxicidade do trastuzumabe é controlável e de pequena magnitude. O estudo não muda em nada as indicações e prescrições, só dá mais respaldo e segurança para o uso dessa medicação”, explica o especialista.
As mulheres com histórico de hipertensão e aquelas com mais de 65 anos correm maior risco de problemas cardíacos. A recomendação para os médicos é de realizar uma avaliação cardíaca antes de iniciar o trastuzumabe e prosseguir a monitorização no curso do tratamento, a fim de identificar e tratar precocemente quaisquer eventos associados.
Referência:
Trastuzumab-Associated Cardiac Events at 8 Years of Median Follow-Up in the Herceptin Adjuvant Trial (BIG 1-01) JCO.2013.53.9288; published online on June 9, 2014;
http://jco.ascopubs.org/content/early/2014/06/09/JCO.2013.53.9288.abstract