Um novo exame de sangue pode detectar casos limítrofes de câncer de ovário e estágios iniciais da doença, sem necessidade de cirurgia. É o que sustentam pesquisadores da Universidade de Uppsala e da Academia Sahlgrenska, da Universidade de Gotemburgo, em artigo publicado em acesso aberto na Communications Biology. "Este é mais um passo rumo a potencial descoberta de um painel de marcadores que possibilite diferenciar uma lesão anexial benigna de uma maligna, ou mesmo detectar tumores antes mesmo de acontecer elevação de níveis séricos de CA125 ou outros marcadores disponíveis", avalia a cirurgiã oncológica Audrey Tsunoda (foto).
"Os autores utilizaram amostras de sangue coletadas de pacientes com lesões anexiais suspeitas, coletadas de forma padronizada, imediatamente antes da cirurgia ou ambulatorial, congeladas em banco de tumores. O plasma foi utilizado para análise de perfis proteicos, principalmente os relacionados ao CA125", explica Audey.
Gyllensten e colaboradores compararam níveis plasmáticos circulantes de 593 proteínas, a partir de três coortes de pacientes com câncer de ovário e tumores benignos. O modelo final compreendeu 11 biomarcadores e foi avaliado em uma quarta coorte independente, apresentando AUC = 0,94, VPP = 0,92, sensibilidade =0,85 e especificidade = 0,93 para detecção de câncer de ovário nos estágios I a IV, descrevem os autores. “Essa nova assinatura poderia ser usada para melhorar o diagnóstico de mulheres com massas ovarianas ou em rastreio para identificar aquelas que devem ser encaminhadas para exames especializados”, sustentam.
Audrey ressalta que, infelizmente, não há detalhes sobre aspectos genéticos e epigenéticos das pacientes, informações que poderiam contribuir para a validação do escore em maiores e diferentes amostras. "Pacientes com subtipos histológicos, fatores genéticos como, por exemplo, a presença de mutações de BRCA, e status menopausal poderiam apresentar diferentes perfis de proteínas circulantes. Se a avaliação destes perfis circulantes diferem em resultado na dependência do tipo de amostra (sangue ou plasma), será importante avaliar qual o impacto deste fator na sensibilidade e especificidade finais. Apesar disso, a partir destes resultados altamente geradores de hipóteses, será possível validar este escore em outras populações e ajustar o painel de proteínas aos achados, com potencial aumento na sensibilidade para a detecção do câncer de ovário", observa.
O câncer de ovário é frequentemente diagnosticado em fases tardias, com altas taxas de mortalidade. “Precisamos desenvolver diagnósticos pré-cirúrgicos mais precisos”, argumentam os autores, reforçando que o teste tem potencial para reduzir as cirurgias desnecessárias, permitir o diagnóstico precoce e o tratamento oportuno de mulheres afetadas. “Nossos resultados são suficientemente promissores para considerar o rastreamento para câncer de ovário”, afirmam.
Referência: Communications Biology, 2019, DOI 10.1038/s42003-019-0464-9