A análise genômica do DNA livre de células plasmáticas (cfDNA) permite a caracterização remota do genoma do câncer. É o que motiva estudo liderado por pesquisadores do Dana-Farber Cancer Institute em busca de abordagens de biópsia líquida para estudar remotamente a resistência terapêutica em pacientes com câncer de pulmão não pequenas células metastático ALK-positivo. Quem comenta o trabalho é o oncologista Marcos André Costa (foto), do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
O estudo (SPACEWALK) envolveu pacientes com CPNPC-ALK-positivo que progrediram ao tratamento com um inibidor de ALK e foram elegíveis para participar remotamente da análise. O plasma foi coletado por sequenciamento de próxima geração (NGS) a partir de cfDNA, antes de iniciar a terapia subsequente.
“Diversos estudos prévios já tinham abordado este assunto, mas a novidade do estudo SPACEWALK foi a genotipagem por NGS via biópsia líquida de forma remota (não-presencial) e em pacientes recrutados, majoritariamente, por redes sociais. O estudo, coordenado pela Addario Lung Cancer Medical Institute (ALCMI), um consórcio de pesquisa sem fins lucrativos, superou, inventivamente, o problema da presença física em tempos de COVID-19”, destaca Costa.
Resultados
Dos 62 inscritos, uma fusão ALK foi detectada em 27 (44%) pacientes em uso de terapia anti-ALK de nova geração (VAF mediana de 2,6%), com uma fração alélica mediana de 2,6%. Em 17 pacientes (63%), um mecanismo adicional potencial de resistência foi identificado, com 9 deles sendo off-target (isto é, fora de ALK) - 6 eram amplificação de MET, alteração vista também em EGFR. “Em um deles, curiosamente, viu-se que KRAS-G12V surgiu na progressão e causou a resistência”, observa o oncologista.
Houve um clearance de cfDNA > 50% na VAF em 7 / 11 analisados com a terapia anti-ALK subsequente. “Interessante notar que em 52 dos pacientes do estudo, o consentimento foi remoto (não-presencial), envolvendo indivíduos de 25 estados americanos e com turn around time de surpreendentes 12 dias apenas”, explica.
Costa ressalta que esta população de pacientes com CPNPC-ALK+ tem sido dramaticamente impactada pelos TKi’s já na primeira-linha da doença avançada. Apesar de respostas iniciais duradouras, o surgimento de resistência é inevitável e decorre de alterações genômicas novas, diferentes das originais, em ALK ou fora de ALK. “A apropriada identificação de mecanismos (que são claramente diferentes entre crizotinibe, brigatinibe, alectinibe e lorlatinibe), alguns deles druggable, poderá potencialmente postergar a entrada de quimioterapia. A praticidade proporcionada pela biópsia líquida é atraente em tempos de COVID-19, mas se deve atentar para os potenciais falsos-negativos que esta técnica ainda encerra. Outra utilidade muito promissora no futuro para ela, e que está em franca expansão, é a análise da Minimal Residual Disease (MRD) após tratamentos de consolidação da doença precoce”, conclui.
Referência: Marissa N. Lawrence, Rubii M. Tamen, Pablo Martinez, Alicia Sable-Hunt, Tony Addario, Pete Barbour, Tristan Shaffer, Seyed Ali Hosseini, Caterina Bertucci, Lee P. Lim, Fangxin Hong, Kesi Michael, George R. Simon, Jonathan W. Riess, Mark M. Awad, Geoffrey R. Oxnard, SPACEWALK: A Remote Participation Study of ALK Resistance Leveraging Plasma Cell-Free DNA Genotyping, JTO Clinical and Research Reports,Volume 2, Issue 4,2021,100151,ISSN 2666-3643, https://doi.org/10.1016/j.jtocrr.2021.100151.