A quimioterapia adjuvante não aumenta a sobrevida livre de doença em pacientes com câncer de mama ER-positivo após recorrência loco-regional isolada. É o que apontam os resultados do estudo CALOR, publicados no Journal of Clinical Oncology. “Após 9 anos de seguimento, o estudo clínico CALOR reiterou o aumento da sobrevida livre de doença (endpoint primário) para tumores com receptores hormonais negativos, mas comprovou na análise final a ausência de benefício para receptores hormonais positivos, o que havia sido colocado em dúvida no seguimento inicial de 5 anos”, afirma a oncologista Daniella Ramone (foto), titular do departamento de Oncologia Clínica do Hospital de Câncer de Barretos.
O estudo randomizado de Fase III CALOR (Chemotherapy as Adjuvant for Locally Recurrent Breast Cancer) considerou pacientes com recorrência loco-regional isolada (ILRR, da sigla em inglês).
Os pacientes elegíveis foram estratificados de acordo com o status do receptor de estrogênio (ER+/ ER-) e localização da ILRR e randomizados para receber ou não quimioterapia. Os pacientes com ILRR e ER positivo receberam terapia endócrina adjuvante. A radioterapia foi obrigatória para pacientes com margens microscopicamente envolvidas e a terapia anti-receptor de fator de crescimento epidérmico humano foi opcional.
Os endpoints foram sobrevida livre de doença (SLD), sobrevida global (SG) e intervalo livre de câncer de mama.
Resultados
De agosto de 2003 a janeiro de 2010, 162 pacientes foram inscritos: 58 com ER-negativo e 104 com ER positivo. Após um seguimento pela mediana de 9 anos, 27 eventos de SLD foram observados no grupo ER-negativo e 40 no grupo ER-positivo.
Pacientes ER-negativo tiveram um tempo médio para a primeira recorrência logo-regional de 3,6 anos. Em pacientes ER-positivo, o tempo médio para a primeira recorrência loco-regional foi de 6,8 anos.
A sobrevida livre de doença (SLD) foi maior entre pacientes com doença ER-negativa que não receberam quimioterapia (66%) e menor entre aqueles com doença ER-negativa que receberam quimioterapia (28%).
A quimioterapia não reduziu o risco de progressão em pacientes com doença ER-positiva (39% vs 38%). Na coorte ER-positiva, as taxas de SLD em 10 anos foram de 50% com quimioterapia e 59% entre os pacientes sem quimioterapia.
A taxa de sobrevida global em 10 anos foi maior em pacientes ER-negativo que receberam quimioterapia (73% vs 53%, hazard ratio, 0,48). As taxas de sobrevida global em 10 anos no grupo ER-positivo foram de 76% com quimioterapia versus 66% em (hazard ratio, 0,70).
Os autores concluíram que a quimioterapia oferece a melhor perspectiva de SLD em pacientes com status de ER-negativo. No entanto, a adição de quimioterapia à terapia endócrina não trouxe benefício a pacientes com ER positivo com recorrência loco-regional isolada (ClinicalTrials.gov: NCT00074152).
“Apesar do pequeno número de inclusões, os resultados retomam a discussão sobre o overtreatment gerando aumento de custos e toxicidades, visto que na população com receptores hormonais positivos a terapia endócrina foi apresentada como o melhor tratamento, sem benefício adicional para pacientes que receberam quimioterapia”, diz Daniella.
Segundo a especialista, o trabalho revalida diretrizes mais recentes que buscam a individualização da terapêutica pelo subtipo histológico em busca de resultados efetivos com redução de danos. “Ainda há necessidade de outros estudos para avaliação específica do bloqueio dos receptores HER2 devido à administração em menos de 5% dos pacientes nesta população”, observa.
Referência: Wapnir IL, Price KN, Anderson SJ, et al. Efficacy of chemotherapy for ER-negative and ER-positive isolated locoregional recurrence of breast cancer: final analysis of the CALOR trial. J Clin Oncol. 2018 Feb 14. doi: 10.1200/JCO.2017.76.5719 [Epub ahead of print]