A asparagina, uma proteína comumente encontrada nos alimentos, pode conter a chave para prevenir a disseminação metastática do câncer de mama triplo negativo. É o que apontam os resultados de estudo multicêntrico publicado na Nature. "Este estudo pela primeira vez traz dados consistentes pré-clínicos da relação entre asparagina com progressão e metástase em câncer de mama”, diz Gustavo Werustky, chair do Latin American Cooperative Oncology Group (LACOG), que comenta os principais achados.
Os pesquisadores identificaram que, ao limitar o aminoácido asparagina em modelos animais com câncer de mama triplo negativo (TNBC, da sigla em inglês), conseguiram reduzir drasticamente a capacidade do câncer de migrar para sítios distantes, tipicamente pulmões, cérebro e fígado no caso do TNBC. Entre outras técnicas, a equipe usou restrições dietéticas para limitar a asparagina.
O estudo identificou que a biodisponibilidade da asparagina sintetase - as células enzimáticas usadas para fazer asparagina - em um tumor primário estava fortemente associada à disseminação posterior do câncer. A metástase foi muito limitada pela redução da asparagina sintetase, através de tratamento com a quimioterapia L-asparaginase ou restrição dietética. Quando as cobaias receberam alimentos ricos em asparagina, as células de câncer se disseminaram mais rapidamente.
“Os resultados do estudo sugerem que mudanças na dieta podem afetar tanto como um indivíduo responde à terapia primária, como também afeta a propagação do câncer em fases posteriores", disse o autor principal do estudo, Gregory J. Hannon, diretor do Cancer Research UK da Universidade de Cambridge, na Inglaterra.
“A expressão de asparagina sintetase já havia sido previamente descrita como um marcador de mau prognóstico em vários tipos de tumores e, portanto, um potencial marcador para drogas-alvo. Também a L-asparagina, droga enzimática, já é estabelecida no tratamento da leucemia, que geralmente é altamente dependente de asparagina extracelular, no entanto provou ser ineficaz para o tratamento de tumores sólidos”, avalia Werutsky.
Para o oncologista, os achados deste estudo primeiramente demonstram uma ligação provável entre a biodisponibilidade da asparagina e indução da transição epitelial para mesenquimatosa, o que permite que células cancerosas metastatizem e pode ser observada in vitro e in vivo.
“No modelo testado em câncer de mama, o achado principal foi de que os níveis de asparagina foram consideravelmente afetados pelo tratamento com l-asparaginase ou restrição dietética. Este efeito foi visível tanto no tumor primário como em sítios de metástase, portanto sugere que o efeito da depleção de asparagina pode afetar a progressão do tumor e a resposta à terapia”, prossegue Werustsky.”
Na prática, este estudo pela primeira vez traz dados consistentes pré-clínicos da relação entre asparagina com progressão e metástase em câncer de mama. E sugere, portanto, a possibilidade de que o tratamento e restrição da dieta com asparagina podem afetar o prognóstico destas pacientes”, acrescenta.
Este estudo corrobora evidências do papel da dieta na prevenção e tratamento do câncer, demonstrando a biodisponibilidade de asparagina como regulador da progressão metastática. Agora, novas pesquisas devem aprofundar a compreensão sobre os efeitos da asparagina, com implicações não apenas para o câncer de mama triplo negativo, mas para muitos tipos de câncer metastáticos, avaliam os pesquisadores.
Alimentos ricos em asparagina incluem leite, soro, carne, aves, ovos, peixes, frutos do mar, aspargos, batatas, legumes, nozes, sementes, soja e grãos integrais. Inversamente, a maior parte das frutas e vegetais tem baixa quantidade de asparagina.
Referência: Simon R. V. Knott, Elvin Wagenblast, Showkhin Khan, Sun Y. Kim, Mar Soto, Michel Wagner, Marc-Olivier Turgeon, Lisa Fish, Nicolas Erard, Annika L. Gable, Ashley R. Maceli, Steffen Dickopf, Evangelia K. Papachristou, Clive S. D’Santos, Lisa A. Carey, John E. Wilkinson, J. Chuck Harrell, Charles M. Perou, Hani Goodarzi, George Poulogiannis, Gregory J. Hannon. Asparagine bioavailability governs metastasis in a model of breast cancer. Nature, 2018; DOI: 10.1038/nature25465