Um novo conjunto de recomendações para o tratamento de pacientes com câncer colorretal em estágio avançado foi publicado por um painel de especialistas da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), prevendo diretrizes adaptadas a ambientes com recursos limitados. “É muito importante esse reconhecimento da ASCO sobre os diferentes cenários de tratamento entre as diversas regiões do mundo, de acordo com seus recursos disponíveis”, observa o oncologista Alexandre Palladino (foto), chefe da Seção de Oncologia Clínica do INCA.
“É óbvio que os recursos de tratamento não são iguais em países como Estados Unidos, África e Brasil, por exemplo. Além disso, em um país como o Brasil, de dimensões continentais, a disponibilidade de recursos na região Sudeste é diferente do que vai ter nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste”, acrescenta.
O guideline tem como população-alvo indivíduos com câncer colorretal em estágio avançado (estágio TNM metastático: T qualquer, N qualquer, M1; ou estágio TNM irressecável).
Historicamente, algumas das maiores taxas de incidência de câncer colorretal têm sido registradas em regiões descritas como mais desenvolvidas, incluindo América do Norte, Austrália / Nova Zelândia, Europa, Japão e Coréia do Sul. No entanto, os autores destacam que em 2012 aproximadamente 45% dos casos de tumores colorretais ocorreram em regiões menos desenvolvidas, em países de baixa e média renda (LMICs, da sigla em inglês), representando de 9% a 10% da carga de câncer nessas regiões. “Cinquenta e dois por cento das mortes por câncer colorretal ocorreram em pacientes de regiões menos desenvolvidas”, descreve o guideline da ASCO.
Fica evidente a importância das atuais recomendações. Diante desse contexto, o guideline preconiza que em situações clinicamente agudas, o diagnóstico e estadiamento do tumor primário considerem endoscopia, exame retal digital e / ou geração de imagens, dependendo dos recursos disponíveis.
Como padrão de tratamento, a maioria dos pacientes recebe quimioterapia, nos cenários em que a quimioterapia está disponível. Nesses casos, se após um período de quimioterapia os pacientes se tornarem candidatos à ressecção cirúrgica com intenção curativa de lesões metastáticas de tumores primários de fígado ou pulmão, as diretrizes recomendam que os pacientes sejam submetidos à cirurgia em centros especializados, sempre que possível.
A vigilância durante o tratamento deve incluir uma combinação de histórico médico, exames físicos, exames de sangue e de imagens. A definição do exame para seguimento, bem como a frequência realizada, dependem da configuração baseada em recursos.
Mais de 1,8 milhão de pacientes no mundo foram diagnosticados com câncer colorretal em 2018. Desse universo, 20% a 30% têm doença metastática ao diagnóstico. Dos pacientes que apresentam doença local, 50% a 60% desenvolverão doença metastática nos 3 primeiros anos de diagnóstico.
“Esse trabalho nos mostra a necessidade de adaptar o tratamento para utilizar o melhor recurso disponível, obviamente dentro de um padrão aceitável de adaptação, através de um grupo de estudo que procure avaliar a melhor situação dentro daquela realidade”, conclui Palladino.
Referência: Chiorean, E. G., Nandakumar, G., Fadelu, T., Temin, S., Alarcon-Rozas, A. E., Bejarano, S., … Chamberlin, M. D. (2020). Treatment of Patients With Late-Stage Colorectal Cancer: ASCO Resource-Stratified Guideline. JCO Global Oncology, (6), 414–438. doi:10.1200/jgo.19.00367