Quais são as tendências e os benefícios de sobrevida com o uso da dissecção, quimioterapia e radioterapia em pacientes com câncer de pênis avançado, com comprometimento linfonodal? Estudo de revisão com informações de 1123 pacientes da Base de dados Nacional de Câncer dos EUA mostra os resultados em artigo no JAMA Oncology.
O câncer de pênis é um tumor raro e com evidência mínima de nível I para orientar a terapia. Os autores argumentam que as diretrizes da National Comprehensive Cancer Network (NCCN) publicadas em 2013 defendem a dissecção dos linfonodos (LND) ou a radioterapia e consideram a possibilidade da quimioterapia perioperatória para todos os pacientes com câncer de pênis com linfonodo positivo (LN+), sem metástase.
Com o objetivo de avaliar a modalidade terapêutica empregada e seus resultados em pacientes com câncer de pênis LN+, este estudo de revisão utilizou a Base de Dados Nacional de Câncer dos EUA (NCDB) e identificou todos os 1123 pacientes com carcinoma de células escamosas do pênis com LN +, sem metástases, inscritos a partir de 1º de janeiro de 2004 até 31 de dezembro de 2014. Foram identificadas as tendências temporais, a associação entre os tratamentos e variáveis clinicopatológicas, assim como análises multivariadas de sobrevida global. Os dados foram analisados entre janeiro de 2017 e setembro de 2017.
Resultados
Dos 1123 pacientes identificados, 82,3% eram brancos, 12,6% afro-americanos e 5,2% pacientes de outra etnia. A idade da maioria dos pacientes (727 [64,7%]) foi entre 50 e 75 anos, 66,8% submetidos a LND.
Os resultados mostram que de 2004 a 2014, o uso de terapia sistêmica aumentou significativamente (26 dos 68 pacientes, 38,2% vs 65 de 136, 47,8%, P <0,001). No entanto, apenas 177 dos 335 pacientes com doença N3 (52,8%) receberam quimioterapia (N1: 106 de 338, 31,4%, N2: 178 de 450, 39,6%). Após o ajuste, pacientes mais velhos (> 76 anos: OR, 0,28; IC 95%, 0,15-0,50; P <0,001) apresentaram menor probabilidade de receber quimioterapia.
Os achados indicam que em pacientes tratados com radioterapia (OR, 4,38; IC 95%, 3,10-6,18; P <0,001) e naqueles com N2 (OR, 1,62; IC 95%, 1,16-2,27; P = 0,005) ou N3 (OR, 2,32; IC 95%, 1,67-3,22; P <0,001), a probabilidade de receber quimioterapia foi maior.
Na análise multivariada, LND (HR, 0,64; IC 95%, 0,52-0,78; P <0,001) foi associada a melhor sobrevida global (HR, 0,64; IC 95%, 0,52-0,78; P <0,001). No entanto, nem a quimioterapia (HR, 1,01; IC 95%, 0,80-1,26; P = 0,95), nem a radioterapia (HR, 0,85; IC 95%, 0,70-1,04; P = 0,11) foram associadas à sobrevida global.
Em conclusão, embora o uso de quimioterapia tenha aumentado desde 2004, as taxas permanecem baixas, enquanto o uso de LND revelou impacto na sobrevida global, mas não a quimioterapia ou a radioterapia.
Para os autores, apesar das limitações do estudo, que refletem o tamanho da amostra, os dados mostram uma oportunidade aberta para melhorar os cuidados recomendados ao paciente com câncer de pênis avançado. Novos estudos clínicos prospectivos são necessários para entender melhor a utilidade das atuais opções de tratamento.
No Brasil, o câncer de pênis representa 2% de todos os tipos de câncer que atingem o homem, sendo mais frequente nas regiões Norte e Nordeste, segundo estimativas do INCA.
Referência: Joshi SS, Handorf E, Strauss D, Correa AF, Kutikov A, Chen DYT, Viterbo R, Greenberg RE, Uzzo RG, Smaldone MC, Geynisman DM. Treatment Trends and Outcomes for Patients With Lymph Node–Positive Cancer of the Penis. JAMA Oncol. Published online March 01, 2018. doi:10.1001/jamaoncol.2017.5608
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