Revisão de Daylan et al. publicada na Lung fornece uma visão abrangente do câncer de pulmão em nunca fumantes, compreendendo tendências epidemiológicas, fatores de risco, alterações genômicas e resultados clínicos, assim como destaca a iniciativa em curso destinada a formular diretrizes de rastreio adaptadas a esta população.
O câncer de pulmão em nunca fumantes (LCINS, do inglês lung cancer in never smokers) representa uma entidade crescente e distinta dentro do panorama mais amplo das malignidades pulmonares.
Nesta análise, que tem como autor sênior o pesquisador Haiying Cheng, do Departamento de Oncologia do Montefiore Medical Center/Albert Einstein College of Medicine, os pesquisadores apontam os vazios de assistência envolvendo LCINS, do rastreio e detecção precoce à gestão clínica. “À medida que o LCINS continua a ganhar destaque, a compreensão de seu intrincado panorama genômico tornou-se fundamental para a adaptação de estratégias terapêuticas eficazes. Além disso, o LCINS não cumpre os critérios para o rastreio do câncer de pulmão de acordo com as diretrizes atuais”, sublinham os autores, indicando a necessidade urgente de explorar sua heterogeneidade para elaborar diretrizes de rastreio capazes de permitir a detecção precoce nessa população.
Em 2023, estima-se que ocorrerão 238.340 novos casos de câncer de pulmão, com 127.070 mortes pela doença nos EUA, segundo dados da American Cancer Society (Siegel et al., Cancer Statistics 2023). O tabagismo continua como o principal fator de risco para o desenvolvimento do câncer de pulmão, responsável por mais de 80% das ocorrências. No entanto, 25% dos casos de câncer de pulmão em todo o mundo são diagnosticados em pessoas que nunca fumaram – indivíduos que fumaram menos de 100 cigarros durante a vida.
Cheng e colegas descrevem que os que nunca fumaram tendem a ter câncer de pulmão de células não pequenas e predominantemente com histologia de adenocarcinoma. Os autores destacam que os casos de câncer de pulmão que surgem em nunca fumantes são uma entidade distinta, que diferem em sua história natural, biologia e epidemiologia.
Análise realizada nos EUA com mais de 20.000 pacientes revelou que quase metade de todos os casos de câncer de pulmão ocorreram em nunca fumantes de origem asiática, seguidos por 25% em indivíduos hispânicos, mas a revisão esclarece que os dados sobre raça e etnia são variáveis e limitados.
“As tendências de incidência de longo prazo de LCINS também não estão bem caracterizadas, uma vez que os registros de câncer só começaram a coletar o status de tabagismo recentemente”, indica a análise de Daylan et al, que se constitui em um dos grandes trabalhos já publicados sobre o tema.
Referência: Daylan, A.E.C., Miao, E., Tang, K. et al. Lung Cancer in Never Smokers: Delving into Epidemiology, Genomic and Immune Landscape, Prognosis, Treatment, and Screening. Lung (2023). https://doi.org/10.1007/s00408-023-00661-3